Minha Praça 7

Reprodução: Facebook

Sexta-feira a tarde. Dia de fazer alguma coisa diferente. Uma pauta à esquerda da vírgula. À direita da apuração. Pensei: que lugar em Bellory Hills sempre rende boas histórias, independentemente da época do ano, e do talento do jornalista? Continuei pensando e decidi dar uma de flâneur (google nele!) na Praça 7 de Setembro, comumente conhecida só como Praça 7. Que aventuras (talvez nenhuma!) me aguardariam nessa que é a praça mais movimentada da cidade? Mais cheia que a Praça da Estação, mais charmosa que a Praça Raul Soares. Pelo menos é essa minha opinião.

Charles Tôrres/Fotógrafo de Rua
Charles Tôrres/Fotógrafo de Rua

Comecei minha movimentação indo à padaria para comprar um cigarro. Como a grana estava curta, decidi comprar o mata rato mais barato do estabelecimento. Então o caixa me oferece um tal de Winston. Vermelho. Bem, pulmão é só um nessa vida (na realidade são dois, mas vocês me entenderam), então vamos de Winston mesmo. Achei bacana que impresso no maço, além das advertências de costume, uma frase impressa na frente do maço. ‘Believe in who you are’. Um bom augúrio quis eu acreditar. Acendi um Winston, e o fumei vagarosamente. Não é que o cigarro era gostoso? ‘Believe in who you are’. Combinado.

Desci a Afonso Pena de taxi lotação. R$4,05 mais pobre, mas é uma delícia descer a avenida como passageiro. E sei que não é exatamente na Praça 7, mas decidi almoçar no hiper centro. Fui até a rua Tupinambás, e lá no número 638, quase esquina com Afonso Pena, fui comer no tradicional Café Palhares, que desde 1938 serve o melhor Kaol de Belo Horizonte. O combinado de couve, arroz, ovo, linguiça, molho de tomate e torresmo mata a fome com estilo e propriedade. Pra descer, um chope claro. R$20 reais mais pobre. O orçamento da reportagem estava esvaindo bem rápido.

Três horas da tarde. Estava na hora de começar a viver o clima da Praça 7. Decidi que meu primeiro ponto de visita seria o quarteirão fechado, esquina com Rio de Janeiro. Lá se aglomeram os famosos hippies da Praça 7, artesãos que vivem em uma espécie de comunidade com o fim comum de vender seu artesanato. Puxei assunto com um deles. Chamava Ramiro. Ele reclamou do que chama da perseguição da prefeitura e da polícia que várias vezes já recolheram o trabalho dos hippies, pela alegação que eles não podem vender em espaços públicos. Querendo ou não, os hippies são parte da paisagem urbana da Praça 7. Por mais que queiram se livrar deles. Quando o papo ficou meio repetitivo e Ramiro percebeu que eu não iria comprar nenhuma miçanga ou cachimbo, ele parou de me dar papo, e eu decidi continuar minha caminhada.

Reprodução/A beleza da margem, à margem da beleza/Facebook

O que que rima com cigarro? Café! E pra minha sorte, nos entornos da Praça 7, há o tradicional Café Nice, na Avenida Afonso Pena 727. A casa opera desde 1939 (e viva a nostalgia!), servindo o melhor café coado em pano do Centro de BH. O Café Nice se orgulha de sua história e nas paredes do estabelecimento, fotos das personalidades famosas que já frequentaram o Café, como em destaque a foto do ex presidente Juscelino Kubitschek. Pra acompanhar o cafézinho, o creme de maisena com ameixa. R$5,00 mais pobre. Ou mais rico, depende do ponto de vista.

Charles Tôrres/Fotógrafo de Rua

Já que estava do outro lado da Avenida, esquina com Avenida Amazonas, decidi fazer uma coisa que sempre tive curiosidade, mas as circunstâncias me impediam. Jogar uma partida de xadrez, junto dos coroas que todos os dias rumam para a Praça 7 para treinar seu hobby. Nas mesas ao lado, várias pessoas jogavam damas. Mas como nunca aprendi a dominar a antiga arte das peças que se comem comem, fui jogar xadrez mesmo. E que surra eu tomei. Fiquei esperando a minha vez para sentar na mesa, e acabei jogando com um tal Senhor Abreu. O velho não era muito de papo, mas me confessou que todos os dias da semana pega a condução (maior de 65 anos, ele não paga passagem) e vai até a Praça Sete se jogar na jogatina. Entre um papo e outro, já estava sem um cavalo, uma torre, vários peões, e uma rainha comidas. Questão de tempo até sofrer o cheque mate. Tempo esse que não poderia demorar mais. Minha atenção difusa já começava a ouvir um pastor que berrava seu Evangelho.

Luis González/Olhares
Luis González/Olhares

Decidi prestar atenção no pastor. Que gritava a plenos pulmões que a decadência humana estava cada dia pior, e que se as pessoas não se emendassem na Terra, ninguém herdaria o reino do céus. Pelo menos foi o que eu entendi, entre os berros e os perdigotos do missionário. Alinhado, de terno, ele batia na Bíblia que carregava a tira colo, como quem castiga um menino mal criado. Não sei como é ser salvo, mas com certeza o juízo final parece bem barulhento.

Já era cinco horas, e eu começava a ficar preocupado com o trânsito de sexta-feira. Decidi dar um último pulo, num local que me foi importante na adolescência. A galeria do rock. Engraçado ver que mesmo em tempos de música digital, ainda tem gente (e muita gente) que compra cds e vinis. Algumas lojas estavam fechadas, com placas de Aluga-se, mas o grosso dos camisas pretas ainda estavam por lá, ouvindo rock, comprando rock, e consumindo o ritmo quente.

Confesso que não fui muito investigativo. Minha ideia quando eu saí de casa, era apurar a lenda urbana, de que na Praça 7 vendiam-se atestados médicos falsos. Muito jornalismo investigativo para mim. Mas ao voltar (taxi lotação de novo!) para casa, me senti feliz, por ter passado a tarde num ponto turístico de minha cidade, tentando olhar de soslaio um outro olhar. Talvez diferente. Valeu a pena.

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