[Bhaz nas Eleições 2016] Entrevista Maria da Consolação

Confira a transcrição do que falou Maria da Consolação (PSOL) nas Entrevistas Bhaz dos Candidatos à PBH 2016.

Thiago Ricci: A senhora promete melhorar o atendimento básico em 4 anos e realizar um planejamento para que ninguém mais em Belo Horizonte precise de um plano de saúde. Como fazer isso com baixo orçamento e sem privatizações?

Maria da Consolação: Primeiro é preciso registrar que nós temos uma crise do capitalismo, mas não é uma crise de falta de dinheiro. É uma crise de alta concentração de dinheiro e de baixíssima distribuição de renda. Nós temos que fazer um enfrentamento com essa questão que é mais geral, que passa pela cidade, mas tem a ver com a política nacional e internacional. O que nós defendemos no nosso programa é a defesa de todo movimento do fórum nacional em defesa do SUS. Nós defendemos um SUS, que é uma conquista da população brasileira, ele 100% público. E o SUS ele precisa nesse período que nós temos defendido, um dos grandes problemas é a articulação entre a porta de entrada e a necessidade de fazer um procedimento em mais curto prazo, quando a pessoa precisa ter ou uma consulta especializada ou mesmo uma cirurgia. Então o que nós estamos, não é prometendo, estamos nos comprometendo é fazer uma articulação pra melhorar a resolutividade do acesso do projeto que é o SUS. E somos contrários a privatização do SUS. É preciso registrar que hoje o governo golpista do Temer, ele quer privatizar o SUS. Tanto que ele esta propondo que seja criado planos de saúde para a população. Isso é uma perda histórica pro contingente da população. A minha geração cresceu aprendendo que quem tinha direito a saúde era quem tinha o INPS. E nós conquistamos através da reforma sanitária, o SUS enquanto um conceito da saúde como um direito, e não como mercadoria. É por essa razão que nós vamos lutar, é com isso que nós estamos nos comprometendo, e se porventura o governo federal vier tentar retirar a saúde como um direito, nós estaremos nas ruas junto das pessoas contra o governo golpista e pela saúde do nosso país.

Maira Monteiro: Candidata, a senhora afirma em entrevista que o problema para fazer com que a linha de metrô chegue até o Barreiro não é econômico, mas sim, político, relacionados aos acordos dos governos com a empresários do transporte, envolvendo interesses econômicos. Considerando que a senhora defende o fim da participação da iniciativa privada na administração pública, pode-se dizer que, se a senhora for eleita, o metrô será finalmente ampliado?

Maria da Consolação: Primeiro dizer que a mobilidade urbana, que alguns companheiros nossos do Ceará gostam de chamar de mobilidade humana, porque quando nós falamos em ‘urbano’, a prioridade cai muito mais no meio de locomoção do que o deslocamento das pessoas dentro da cidade. Nós temos conversado com pessoas de várias áreas, inclusive o movimento da plataforma ‘Dê um passo’ apresentou para a nossa candidatura, nós nos comprometemos a estudar, já definimos na coordenação da campanha que vamos assinar o compromisso com a carta. Ela envolve outras questões que passam por rever os contratos com as empresas de ônibus, reduzir o preço das passagens, e é possível reduzir esse preço, tanto que o ministério público conseguiu reduzir o preço das passagens. Quem entrou na justiça não foram as empresas, foi o prefeito. Que é inadimissível que um prefeito entre na justiça contra a população. Garantir que a melhoria da integração, porque hoje o Move, quando você chega na estação e vai até o centro, vai rápido. Mas da estação até sua casa, e de sua casa até a estação tem aumentado muito mais o tempo. E em relação ao metrô já tem os projetos. Os trilhos já estão lá, já está tudo pronto, ele tem que deixar de ser uma lenda urbana. Parece uma lenda. Que nem tem a lenda da Loira do Bonfim, a lenda do Capeta do Vilarinho, aí fica essa lenda. Porque tem mais de 30 anos que nós estamos discutindo o metrô em Belo Horizonte. Então o metrô até o Barreiro ele é factível de ser realizado porque já tem os projetos, já tem a licitação e é uma questão de enfrentar os grupos econômicos dessa cidade que não quer que nós concluamos o metrô até o Barreiro. Em relação a maior expansão, nós precisamos discutir com a região metropolitana tanto com os outros prefeitos e prefeitas de outras cidades, quanto com as câmaras municipais de pensar um processo de articulação da região metropolitana para melhorar a mobilidade das pessoas. O que envolve trens urbanos, envolve a questão da obra do anel rodoviário. Esse é um compromisso que nós temos. Nós precisamos fazer essa articulação política. Para que de fato melhore a mobilidade das pessoas. Porque poder ir e vir dentro da cidade é fundamental como instrumento para se apropriar da cidade onde se vive. Porque a cidade não pode só ser pensada na lógica das pessoas pegarem o ônibus, ou o metro, ou a bicicleta no sentido trabalho/casa. As pessoas têm o direito de andar pela cidade também para se divertir e encontrar as pessoas que elas amam.

Guilherme Scarpellini: A senhora defende a criação de políticas públicas para reduzir o número de mortes de jovens negros em Belo Horizonte. A proposta passa por políticas sociais mas também por políticas de segurança pública. Gostaria de saber qual a sua avaliação sobre a Guarda Municipal e se a corporação pode ser utilizada para alcançar a redução de jovens negros mortos.

Maria da Consolação: Primeiro é preciso falar que a segurança pública melhora se as pessoas têm direitos. Então algumas candidaturas tem defendido que vamos lotar a cidade de policiais, lotar a cidade de guardas municipais, todo mundo armado. Quanto mais pessoas armadas, menos segurança nós temos. É só olhar os Estados Unidos da América o que significa esse armamento desenfreado. Nós precisamos garantir o direito das pessoas. Moradia digna, transporte, saúde, educação, as pessoas precisam estar plenas de seus direitos sociais. Até porque nós mulheres, as crianças e os idosos, temos observado que o maior índice de violência acontece dentro de casa. Então nós sempre temos dito assim, se nós vamos encher a cidade de policia, a gente vai encher as casas de polícia. Não é esse o sentido. Nós temos que fazer esse enfrentamento. Articular tanto essas políticas, moradia, saúde, educação, a questão da mobilidade dentro da cidade, ter praças bem iluminadas para que a nossa juventude possa usufruir desses espaços, tanto quanto suas candidaturas a prefeitura de Belo Horizonte. Nós queremos que as pessoas tenham conhecimento disso. Para saber a gravidade da situação que nós vivemos. Nós precisamos saber a gravidade da situação que nós vivemos, porque senão parece que está tudo tranquilo. Não está tudo tranquilo. A cada dia os instrumentos que o governo federal tem utilizado de repressão, e nós que defendemos a cidade, o que nós queremos? Nós queremos que Belo Horizonte seja uma trincheira da resistência em defesa dos direitos, da mesma forma que Porto Alegre foi em 1962. Belo Horizonte tem que fazer parte dessa resistência. E a nossa chapa tem as melhores condições para isso. Porque a nossa chapa é composta pelas pessoas que fazem resistência. São as pessoas que ocupam as ruas no carnaval para fazer resistência ao Lacerda. São as pessoas que ocupam espaços que não cumprem sua função social e garantem moradia a população. São as pessoas que ocupam as ruas em defesa da educação, em defesa da saúde, que se mobilizam pela diminuição do preço da passagem, são pessoas que fazem parte do movimento que construiu alternativas da questão da tarifa zero. Nós somos a resistência. E nós somos resistentes porque nós temos esperança. Porque quem não tem esperança, desiste. Nós também queremos chamar as pessoas e dizer ‘não vamos desistir de ter esperança, porque a nossa energia transforma a vida.

Guilherme Scarpellini: Candidata, a despoluição da Lagoa da Pampulha passa também pela despoluição dos córregos que nela desaguam. São centenas de córregos. Como a senhora pretende fazer isso sem recorrer à iniciativa privada?

Maria da Consolação: Primeiro que tem a questão da Lagoa da Pampulha passa por um debate com Contagem. Não dá pra pensar a questão da saúde, do transporte, não dá pra pensar só a questão de Belo Horizonte, a questão das águas passa por outros municípios da região metropolitana. Que as águas saem lá de Contagem, senão fizer saneamento básico lá, vai chegar poluída em Belo Horizonte. Nós temos pessoas, da nossa chapa que são envolvidas na questão ambiental, então nós precisamos fazer essa articulação da região metropolitana para despoluir a Lagoa da Pampulha. Não é despoluindo da maneira que é hoje. Gastam-se milhões, e não resolve o problema que é o saneamento básico. E pegam a terra poluída da Lagoa da Pampulha e levam pra Contagem. Então esse dinheiro que é gasto deveria ser utilizado pra fazer saneamento básico em Contagem. Teria mais utilidade. Eu por exemplo moro no bairro São Gabriel e a cachoeira do onça fica perto da minha casa, logo em seguida no Ribeiro de Abreu, tem uma praia do rio toda poluída. Nós precisamos reconstruir esses espaços. Isso passa por pensar o saneamento básico numa lógica que também a ver com a saúde. Porque quando nós fizemos a reforma, quero dizer, não necessariamente de ser protagonista, esse movimento que fez a reforma sanitária pensou também nesses aspectos. Saúde não é só dar injeção nas pessoas, estar vacinando as pessoas. Mas preservar as condições para garantir a prevenção, e por isso a questão do saneamento básico é fundamental na recuperação dos córregos, da nossa cidade, que é a recuperação dos córregos.

Thiago Ricci: Em Minas, o PSOL se coligou com o PSDB em 22 candidaturas, com o DEM e com o PP em 18. Não há uma incoerência entre o discurso agressivo contra o processo de impeachment de Dilma Rousseff e o partidos que o apoiaram e esses números?

Maria da Consolação: Nós aqui em Minas Gerais não fizemos essas coligações, e nós temos que verificar cada uma dessas que você está dizendo, porque cada uma que foi denunciada, nós fomos acompanhando junto ao TRE ou desconstruímos as coligações, e observamos de fato que elas não estavam acontecendo. Então depois eu gostaria que você me repassasse cidade por cidade para nós verificarmos, porque o que nós temos observado é que tem uma informação equivocada do que está apresentando. A outra coisa é que o nosso partido, é um partido novo, mas um partido que está construindo uma nova política. Um partido novo que defende com rigor as suas propostas. Não quer dizer que sejamos um partido perfeito. Mas nós fizemos no último período, primeiro o ‘Fora Cunha’, quem chamou fomos nós. Essa questão da resistência no país. De dizer, nós tínhamos diferenças com o governo Dilma, tínhamos. Mas nós fizemos oposição de esquerda, mas fomos protagonistas em dizer que impeachment sem comprovação de crime é golpe, e estamos nas ruas dizendo que é golpe. E é preciso dizer gente, olha, se os sujeitos que estão lá, todos envolvidos com corrupção. Todos. E eles dizem no dia seguinte da votação que não existe mais pedalada fiscal que não é mais crime, estão demonstrando que o que está em disputa, é o processo de aceleração da aplicação da opção capitalista de exploração das pessoas. Há uma crise capitalista no mundo. É verdade. Só que os capitalistas estão usando a crise para ficarem muito ricos. Sobretudo o capital financeiro. A lei de responsabilidade o que ela diz: ‘Eu tenho que pagar divida’. Ai eu pago a dívida pra quem? Pra banqueiro. Banqueiro faz o que? Planta arroz? Constrói hospital? Ajuda a alfabetizar alguém? Banqueiro produz dinheiro. Nós estamos discutindo que temos de ter responsabilidade social. O que está garantido na constituição precisa ser respeitado. Por isso o governo golpista está querendo mudar a constituição. É isso que nós temos que observar. Hoje os ‘sem voto’, porque esse projeto não foi eleito, querem impor uma outra lógica. E nós que participamos do debate da constituinte lá na década de 80, sabemos muito bem quem são essas pessoas. É o ‘centrão’, liderado pelo Caiado. Da União Democrática Ruralista. Dessa oligarquia reacionária que quer trazer pra gente, sobretudo pra vocês mais jovens que a gente fique aí num limbo, entre 1888, quando nós garantimos o fim da escravidão, mas não fizemos uma reforma agrária no país, e 1942 antes da CLT, todo mundo sem direitos. E nós não podemos aceitar isso.

Maira Monteiro: Vamos reproduzir a pergunta do leitor Paulo César: ‘É sobre a revitalização do centro de BH. O que os candidatos prometem fazer já que os camelôs estão de volta. Estou vendo uma quantidade de moradores de rua que não via antes e sem falar que a sujeira nas ruas está demais?’

Maria da Consolação: Primeiro, nós temos muitos imóveis abandonados. Sobretudo no centro da cidade. Aí que tem que cumprir sua função social. Tanto que a ‘Frente de Esquerda BH Socialista’ uma das atividades que fez no final de semana passada foi o rolezinho pelo centro pra marcar quais são os imóveis abandonados. Nós temos muitas casas sem pessoas, e muitas pessoas sem casa. Pra resolver o problema o problema da população que hoje está em situação de rua tem que garantir moradia para as pessoas. Não só no centro da cidade, mas também na perifeira para que as pessoas tenham o direito de usufruir desse espaço. Recentemente nosso comitê na praça da estação, nós estávamos fazendo discussões políticas e tinha um grupo de jovens reunidos pra dançar. E aí chegou a policia, a guarda municipal falando que tinha de haver autorização. A praça tem que estar bem iluminada pra ser considerada coletivo pra ser usufruída para todas as pessoas. Em relação a guarda municipal, nós queremos conversar muito com ela no sentido de desmilitarizar a guarda. Que essa é uma reivindicação da própria guarda. Nós temos hoje um contingente de pessoas no comando que eram da policia militar. Então tratam a guarda municipal numa perspectiva do inimigo interno, que esse é um debate da segurança pública nacional, como você trata o inimigo interno, o povo invés de ele ser cuidado, assegurar o direito, ele é tratado como um inimigo interno. E nesse momento que vivemos no país, de um golpe jurídico, midiático, parlamentar, nós temos observado que a policia tem sido instrumentalizada inclusive para garantir insegurança das pessoas. Impedir que as pessoas se manifestem pelos seus direitos. É pensar uma outra lógica de segurança. Uma segurança que trate as pessoas como pessoas. Não como algumas candidaturas tem tratado, como marginais. Tratar a população de rua, uma população que vive na rua como marginal, que tem que ser punida, encarcerada. É pensar numa lógica que de direitos as pessoas dentro da cidade.

Jéssica Munhoz: O Carnaval de rua em Belo Horizonte tem uma natureza espontânea, nasceu sem o apoio da administração pública somente com a organização das próprias pessoas. Quando o município interveio, no último Carnaval, foi de uma forma restritiva, segundo alguns protagonistas da folia. De que forma a gestão municipal pode contribuir positivamente sem comprometer a natureza espontânea do carnaval?

Maria da Consolação: Essa questão tem a ver com uma que nós trabalhamos dentro do nosso programa que envolve duas coisas: Tanto o debate da cultura, pra pensar a cultura além de eventos, mas pensar de ter políticas públicas para fazer uma reflexão sobre um modo de vida. E de incentivar as iniciativas que nós já temos na cidade. Você bem disse a prefeitura hoje ela tem impedido as pessoas que tem criatividade que estão fazendo coisas na cidade. E além disso, isso envolve a questão de trabalho emprego e renda. Porque todos esses eventos, envolvem trabalho e renda para as pessoas. Nesse sentido quando nós trabalhamos no poder local que precisamos investir em trabalho, emprego e renda, instrumentos para garantir que as pessoas tenham dignidade, um dos aspectos, além do investimento em tecnologia, nós apresentamos que é a economia criativa. É garantir que todas as pessoas envolvidas nesse processo, tenham potencializadas o seu trabalho. E com isso articular com os centros culturais, com espaços adequados, bem cuidados para que as pessoas possam realizar os seus trabalhos, coletivos autônomos que já existem na cidade, inclusive é preciso registrar que a nossa chapa para a câmara municipal é composta por pessoas que estão envolvidas em várias coisas. Na moradia, na defesa da saúde, da educação, da questão da mobilidade, das pessoas envolvidas no revigoramento da cultura da cidade que fazem parte da chapa ‘Frente de Esquerda BH Socialista’. Nós temos bastante propostas e respeito pelas iniciativas que estão acontecendo na cidade.

Thiago Ricci: O senhora atacou Michel Temer e o governo federal nesta entrevista. Como conseguir investimentos essenciais para a construção do metrô e mesmo limpeza da Lagoa da Pampulha tendo que dialogar com a União?

Maria da Consolação: É preciso registrar uma questão central. As eleições municipais passam pelo debate nacional. Nós temos três agrupamentos de candidaturas em Belo Horizonte. Um grupo que acha que tem de ficar do jeito que está. Tem um grupo que aposta na desesperança, na desinformação das pessoas. E tem as pessoas que estão fazendo luta na cidade. Se você for olhar de todas as candidaturas, excetuando as duas mulheres, os outros, todos os homens, tiveram ou tem relações com Márcio Lacerda. E dentre essas candidaturas, essas relações com os golpistas. Hoje a gente tem uma relação, e é preciso dizer, tem pessoas que são candidatas hoje em Belo Horizonte que são deputados federais, que chegam na televisão e dizem ‘nós vamos melhorar a saúde em Belo Horizonte’ e estão no congresso nacional votando a privatização da saúde. ‘Vamos melhorar a educação em Belo Horizonte’. E estão no congresso nacional votando a privatização da educação. Esse debate que nós temos que fazer. Nós estamos convidando que cada pessoa investigue a vida de cada que está se apresentando nessa campanha, conheça o passado e o presente, cada pessoa que eles se relacionem e se relacionaram. Porque nós vamos fazer cumprir o que está na lei, que é garantir saúde, educação, moradia, trabalho emprego e renda para as pessoas. Agora é preciso dizer que o governo Temer ele está querendo mudar a lei. Porque a lei hoje diz que saúde é direito. O que o Temer quer fazer? Quer tirar a saúde enquanto um direito. Esse enfrentamento, por isso que é um convite. Esse convite que a nossa chapa, nossa candidatura faz é nós queremos transformar a cidade. A cidade que nós queremos construir é uma cidade que as pessoas tenham o direito. Pra que essas pessoas tenham direito, nós precisamos estar envolvidas no cotidiano da luta política. E isso passa por defender os nossos direitos. E se o governo golpista impedir os nossos direitos, nós temos que ocupar as ruas. Nós temos de dizer ‘Fora Temer’, nós queremos novas eleições nesse país, queremos Diretas Já, queremos democracia, porque se nós não fizermos isso, nós não vamos garantir os direitos dentro da cidade.

Maira Monteiro: Mas como lidar com esse momento que a gente vê a gente propostas do que se denomina de nova política e ao mesmo tempo ver tantos candidatos tradicionais? Como dialogar, não ter um rompimento? Ou é um rompimento que a senhora defende?

Maria da Consolação: Nós fomos para as ruas em 2013. Vocês jovens aqui, certamente estiveram nas ruas em 2013, junto da juventude desse país, como outras gerações foram para as ruas defendendo direitos. Quem está fazendo rompimento hoje são os golpistas. Rompimento não é nosso. Nós estamos defendendo os nossos direitos, direitos que gerações antes de nós, inclusive a minha geração que lutou por Diretas Já, minha geração participou da elaboração da Constituinte nesse país, nos estamos reivindicando direitos. Quem está rompendo com o processo democrático, com os direitos conquistados é o governo golpista e seus aliados em Minas Gerais.

A situação do emprego tem a ver com uma questão macro econômica, mas também tem a ver com uma política dentro da cidade. Por isso que estamos dizendo que vamos investir em tecnologia, temos muitas universidades públicas e privadas em Belo Horizonte, que tem alta tecnologia. Essa tecnologia tem que ser usada para melhorar a vida das pessoas, nós temos um parque tecnológico de ponta na nano tecnologia, já falei em economia criativa, que passa também pela moda, nós temos essa produção dentro da nossa cidade e as empresas populares. Por exemplo: Belo Horizonte não tem uma coleta seletiva. Nós temos um processo de educação, que fomos educados pelos catadores e catadoras de papel. Eles educaram a gente, a Asmare a colocar na rua o lixo separado, as latinhas, as garrafas. Foi um processo de educação. Esse trabalho tem que ser valorizado, tratado com dignidade, tem que fazer a coleta seletiva, fazer empresas de reciclo na cidade, isso que estamos chamando de empresas populares, e o outro exemplo tem a ver com os uniformes, porque tem a ver com educação. Os uniformes eles eram feitos em pequenas confecções nos bairros. Aí, o atual prefeito Lacerda, foi lá e fez uma grande compra, uma licitação com uma empresa fora daqui inclusive com trabalhos internacionais e utilizou o recurso público que poderia potencializar trabalho, emprego e renda dentro da nossa cidade pra outro local. Nós temos alternativas pra tratar essas questões.

Guilherme Scarpellini: A Câmara Municipal de Belo Horizonte hoje é conservadora. Os projetos de interesse da minoria, a exemplo da instituição do Dia Municipal LGBT, enfrenta resistência entre os vereadores. Somado a isso, temos um período de eleição bastante curto, o que dificulta a renovação da CMBH. Como a senhora pretende enfrentar essa resistência e aprovar projetos de interesse das minorias?

Maria da Consolação: São três questões. Primeiro é importante dizer isso: A contra reforma do Cunha foi pra impedir debate político nesse país. Que além de reduzir a eleição para quarenta e cinco dias, nós tínhamos três meses de campanha, reduziu o tempo na TV, que era de meia hora e foi para dez minutos, e fez algo pior. Que lá na década de 60, você passava pouquinho tempo, mas você passava os vereadores. Hoje você não passa, não tem um horário eleitoral gratuito para a Câmara Municipal. Você passava antes segunda, quarta e sexta programa de majoritário, terça, quinta e sábado programa de proporcional. Hoje a propaganda de proporcional ela se faz apenas por aquelas inserções. E essas inserções tem percentual diferente. Enquanto a gente tem vinte e quatro, tem coligações que tem sessenta. Isso dificulta conhecer. Agora, nós temos a melhor chapa dessa cidade. A nossa chapa de vereadores e vereadoras é a mais interessante. São as pessoas que lutam nessa cidade. São homens e mulheres. Nós temos heterossexuais, bissexuais, gays, lésbicas, transexuais, temos brancos, negros e indígenas, temos pessoas de 20, 30 e 40 anos. Nós temos pessoas de todas as lutas sociais. Então nós estamos convidando as pessoas. É hora de escolher a diversidade dessa cidade pode estar presente na câmara. Escolha aí, conheça a ‘Frente de Esquerda BH Socialista’. Em relação a câmara municipal, nós estamos discutindo uma outra governabilidade. Nós defendemos que precisamos radicalizar a democracia com participação popular, garantir que os conselhos de políticas públicas de fato definam as políticas públicas. Garantindo criações de conselhos nos bairros e que os projetos sejam definidos coletivamente. Se nós definimos um projeto coletivo depois de debates, esse projeto vai pra câmara municipal. Esse projeto não é mais do executivo e ele não pode ficar a revelia dos vereadores. Esse projeto é da população. Então, o que compete a população: Dizer, ‘vereador, vereadora, eu votei em você’. Tem que aprovar esse projeto. Não pode ser essa velha política do toma lá, da cá. Nós queremos uma outra política. Convite a votar na nossa chapa, é também um convite a não ficar só em casa. É um convite a participar das decisões políticas da cidade.

Rapidinhas

IMPEACHMENT OU GOLPE
Maria: Golpe.

SÉRGIO MORO
Maria: Sérgio Moro é um juiz comprometido com outras coisas que não a democracia nesse país e isso mostrou nas opções que ele tem feito e nas pessoas que ele denunciou e de quem ele não denunciou.

ALIANÇAS POLÍTICAS
Maria: Alianças políticas com as pessoas que lutam.

UBER
Maria: Uber é um debate político a ser realizado com as pessoas dessa cidade e também com os taxistas.

COMÉRCIO DE ANIMAIS NO MERCADO MUNICIPAL
Maria: Nós somos contra a comercialização e temos um debate com as pessoas do meio ambiente e dos direitos dos animais que também participam da nossa chapa. Agora nós precisamos conversar com todas as pessoas. Porque tem de construir diálogos. Inclusive pra resolver os problemas. Porque você não pode ser contra ou a favor, porque só resolve os problemas com o dialogo com as pessoas.

POKEMON
Maria: Pokemon é uma boa, mas eu quero que a moçada vai pra rua caçar o Temer, pra gente construir a democracia nesse país.

COTAS RACIAIS
Maria: Nós somos a favor de cotas raciais, cotas a favor das mulheres, cotas que garantam que todas as pessoas tenham igualdade de oportunidades.

RELIGIÃO NA POLÍTICA
Maria: O estado é laico. Cada pessoa tem o direito de defender o Deus que quiser. Tem que ser respeitado. Agora é inadimissível que em nome de Deus tantas pessoas espalhem tanto ódio no mundo.

UM LUGAR DE BELO HORIZONTE
Maria: Eu gosto da Praça da Estação, gosto da Pampulha, gosto do Mirante que hoje está privatizado, porque a minha geração podia ver o sol, ou o amanhecer no mirante, que era um lugar bacana pra gente terminar a rodada da noite.

A ESQUERDA QUE NÃO SE POSICIONOU EM RELAÇÃO AO IMPEACHMENT
Maria: Nós temos pessoas que tem dificuldade de compreender a gravidade da situação. E temos pessoas que foram pras ruas com muito ódio e contribuíram pra essa situação. Então nós convidamos todas as pessoas a repensarem. Nós precisamos de um país que tenhamos o respeito das pessoas. Que respeito é garantir vida com dignidade, é garantir respeito a diversidade. Nós chamamos isso de socialismo. Outras pessoas chamam de vida em comum. Outros chamam de anti capitalismo. Não importa o nome que a gente dê. Se nós defendemos que todas as pessoas tem direito a viver com dignidade nessa vida. Porque só tem sentido viver, se for viver com as pessoas.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!