Chef renomado de BH é investigado por tentar estuprar auxiliar de cozinha

À esquerda, chef Leandro Pimenta em evento gastronômico. À direita, trecho da rua Sergipe onde ele teria estacionado o carro e assediado a auxiliar (Reprodução/Facebook/Street View)

A Polícia Civil investiga um renomado chef de cozinha de Belo Horizonte suspeito de estuprar uma de suas auxiliares durante o intervalo do expediente em um famoso restaurante da cidade. Um relato sobre o caso viralizou no Facebook desde a noite de domingo (29). A vítima – uma mulher casada há 10 anos e mãe de quatro filhos – afirma que foi abordada ao ir até o carro do seu superior para receber um adiantamento do salário de janeiro. Ela ainda denunciou a rotina de assédio por parte do profissional no local de trabalho, uma das unidades do Café com Letras.

Segundo a auxiliar de cozinha, a tentativa de estupro ocorreu no último dia 8, um domingo. No início do expediente, ela pediu aos gerentes do estabelecimento um adiantamento do salário. Já de noite, o chef Leandro Pimenta, de 38 anos, teria chamado a vítima para ir até seu carro. Acreditando que receberia o dinheiro solicitado, a mulher acompanhou o superior direto em uma rua próxima à Praça da Liberdade.

“Antes, ele me disse que pediu pra chefia liberar o adiantamento. Então achei que tinha algo a ver com isso. Quando chegamos no carro, ele se abaixou e comecei a suspeitar do motivo de estar fazendo aquilo tão escondido, não era tanto dinheiro. De repente, tirou minha calça e colocou minha mão nas genitálias dele. Eu pedi para ele parar várias vezes, mas aí começou a gritar comigo, muito agressivo. Até aquela hora, pensei que não podia brigar e perder meu emprego, tenho quatro filhos. Só que não teve como, abri a porta e saí correndo”, detalhou ao Bhaz.

A auxiliar diz que chegou a contar para alguns colegas sobre o ocorrido logo após voltar ao restaurante. Dois dias depois, ela se encontrou com o chef no trabalho. “Ele chegou falando: ‘Você fugiu do pau, é lero-lero, hein!?’. Era como se quisesse dar a entender para os outros que eu quis alguma coisa e depois desisti. Mas eu nunca tive interesse e nem dei abertura para isso”, conta.

Nos dias seguintes, a auxiliar de cozinha não foi trabalhar e procurou médicos, inclusive um psicólogo. Ela diz que ficou traumatizada e com medo do chef, o que acabou piorando as dores que já sentia no corpo antes da tentativa de estupro. No dia 14, a vítima contou a uma outra colega sobre o episódio e ouviu dela uma nova denúncia de assédio envolvendo o superior. “Essa minha colega procurou a gerência contando tudo. Ele dizia coisas absurdas para as funcionárias. Chegou a falar que os seios de uma de nós caberia direitinho na boca dele”, revela.

Bhaz tentou conversar com Leandro Pimenta, porém, ainda na noite de domingo, o chef apagou todos seus perfis em redes sociais. Nesta segunda-feira (30), o celular dele permanecia desligado.

A reportagem conseguiu contato com o irmão de Leandro. Ele informou apenas que o caso será resolvido nas esferas policial e jurídica.

Denúncia no Facebook

A denúncia de assédio e tentativa de estupro se tornou pública graças à intervenção da historiadora Bárbara Quadros. Ela conheceu a auxiliar de cozinha na última segunda-feira (23) em um ponto de ônibus no Centro de BH.

“Ela estava acompanhada de um dos filhos e passando muito mal. Me aproximei, tentei ajudá-lá. Aí, com muita conversa, acabou me contando o que tinha acontecido”, conta a historiadora.

A partir disso, Bárbara procurou orientações jurídicas para saber como poderia ajudar a auxiliar de cozinha. Na última quarta-feira (25), a historiadora acompanhou a mulher para registrar um boletim de ocorrência na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, no Barro Preto.

“Tivemos dificuldades até para conseguir fazer o BO. Primeiro se negaram alegando que só atendem casos em que a vítima tem vínculo afetivo com o autor. Depois, não queriam registrar nosso pedido de medida protetiva pelo mesmo motivo. Ficamos por lá durante quase quatro horas. Vimos até uma mulher com marcas de enforcamento no pescoço sendo obrigada a sentar ao lado do marido agressor enquanto aguardava atendimento. Pelo tratamento que recebemos, a impressão que deu foi de que ficaria por isso mesmo”, conta Bárbara.

Diante da constatação, Bárbara decidiu expôr o relato da auxiliar de cozinha no Facebook para alertar outras mulheres e também cobrar a investigação sobre o caso.

A Polícia Civil informou que a lei hoje prevê a medida protetiva apenas em casos nos quais as vítimas realmente tenham vínculo afetivo com os autores. Reforçou ainda que todos os casos registrados são devidamente investigados pelas delegacias responsáveis.

Além disso, a corporação esclareceu que presos ficam sob escolta de policiais militares até a entrega dos boletins de ocorrência.

Café com Letras é alvo de críticas

Desde a noite de domingo, a página do Café com Letras no Facebook se tornou alvo de críticas por parte de clientes que ficaram sabendo do caso. O relato publicado por Bárbara aponta que houve negligência na condução da denúncia feita pela auxiliar de cozinha. Na última semana, uma das gerentes do restaurante chegou a advertir a funcionária verbalmente por causa das faltas registradas desde o episódio. A vítima justificou apresentando parte dos atestados. Além disso, afirmou que precisou buscar auxílio psicológico para lidar com o assédio.

A direção do estabelecimento garante que, após tomar conhecimento do caso no último dia 15, demorou cerca de 48 horas para ouvir todos os envolvidos e afastar o chef de cozinha, que posteriormente foi demitido. Em e-mail enviado ao Bhaz, os donos do restaurante ainda assumiram que cobrar a presença da auxiliar no trabalho foi um erro.

“Essa advertência foi um erro nosso, uma forma injusta e equivocada de nossa parte em lidar com essa situação. O Café com Letras sente por isso, admite esse erro e procurará meios para corrigir essa falha junto à funcionária”, ressalta.

Maira Monteiro[email protected]

Diretora-executiva do BHAZ desde junho de 2018. Jornalista graduada pela PUC Minas, acumula mais de 15 anos de experiência em redações de veículos de imprensa, como Record TV e jornal Hoje em Dia, e em agências de comunicação com atuação em marketing digital, como na BCW Brasil.

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