Torres Gêmeas de BH entrarão em obras após 30 anos de abandono

Torre terá fachada original mantida, mas bem revitalizada (Reprodução/Wikimapia/Divulgação/Vereda Engenharia)

Após 30 anos abandonada, uma das edificações mais famosas de Belo Horizonte finalmente terá suas obras retomadas. Trata-se do Residencial Saint Martin, popularmente conhecido como “Torres Gêmeas de BH”, localizadas no Santa Tereza, Zona Leste de BH. Com construção iniciada na década de 80, os prédios ficaram abandonados e agora a edificação está sendo assumida pela Vereda Engenharia.

Durante o tempo de abandono, o empreendimento foi ocupado por mais de 170 famílias em situação de vulnerabilidade. Moradores da região relataram que o local chegou a se tornar ponto de venda de drogas, o que fez tornar comum a presença de policiais realizando revistas e rondas.

A nova empresa manterá o mesmo fim pensado originalmente para as torres: o residencial. Serão 132 apartamentos nos dois prédios – 66 em cada um – de um ou dois quartos, com suíte e uma ou duas vagas de garagem. Além disso, uma grande área de lazer interligará as duas torres, contando com piscinas, quadras, anfiteatro, espaço pet, salas de jogos, academia, salões de festas, espaço gourmet, churrasqueira, sauna e uma área verde.

A previsão de entrega dos apartamentos é para 2019 e as vendas se iniciarão em 2018. A estrutura da fachada original será mantida, mas totalmente revitalizada: aerada e modernizada. A distribuição dos espaços internos dos apartamentos (quartos, sala, banheiros, cozinha e área de serviço) será modificada, sem, no entanto, modificar seu tamanho original (57 m²). A construtora ainda não definiu os preços a serem cobrados pelos apartamentos.

Divulgação/Vereda Engenharia/Reprodução/Wikimapia

A Vereda Engenharia não vê a estigmatização do local como um problema. “Entendemos que a localização privilegiada é um grande atrativo. A revitalização da área, com características ainda melhores do que aquelas imaginadas em sua execução original, irão valorizar a vizinhança e o bairro, melhorando a segurança e a paisagem urbana. Iremos trazer as melhorias para a vizinhança, assim, todos se beneficiam”, contou ao Bhaz Gilberto Moreira Siqueira, diretor administrativo da construtora.

As torres foram adquiridas em leilão pela Vereda Engenharia. Após a falência da empresa que iniciou o empreendimento, foi nomeada uma síndica para a massa falida, que passou a administrar esses bens. A empresa afirma ter recebido as duas torres livres de qualquer ônus (tributos, dívidas de qualquer natureza e responsabilidade civil). A administradora da massa falida é a responsável por pagar todas as dívidas ainda existentes.

A Ocupação das Torres Gêmeas de BH

Os edifícios localizados na rua Clorita começaram a ser construídos na década de 80 pela ICC Incorporadora e pela Jet Engenharia. Com a falência das empresas, os prédios ficaram abandonados e, a partir de 1996, mais de 170 famílias ocuparam o esqueleto de concreto que ali ficou instalado. A ocupação durou 16 anos, quando as famílias foram obrigadas a desocupar os edifícios aos poucos após a construção ser atingida por um incêndio.

A desocupação começou a ocorrer em 2010 – ano em que o incêndio ocorreu – e foi concluída em 2012, quando a decisão da 6ª Vara da Fazenda Pública Estadual retirou as últimas 80 famílias que ali ainda estavam por medidas de segurança, já que a construção não atendia aos requisitos mínimos de segurança contra incêndio previstos por lei. A ocupação do prédio ocorreu sobretudo por famílias em situação de rua e de alta vulnerabilidade social. À época, as famílias foram atendidas pelo Bolsa Moradia e realocadas em unidades dos programas habitacionais.

Torres abandonadas podem ser vistas de diversos pontos da capital (Reprodução/Wikimapia)

Nos 16 anos de ocupação, as famílias se organizaram entre si para a gestão da logística do prédio. Quem chegava primeiro, tinha direito ao apartamento que ocupou; com o passar do tempo, alguns moradores saíam de suas casas e negociavam uma quantia simbólica para quem quisesse ocupar no lugar.

A edificação não tinha estrutura de instalações elétricas e de água encanada, além de não contar com portas e janelas, apenas buracos nas paredes. Os moradores realizavam as instalações por conta própria e parte da estrutura de eletricidade foi realizada em parceria com a PUC Minas.

Durante muitos anos de ocupação, ordens judiciais determinaram o despejo dos moradores do prédio. Entretanto, liminares e ações de defesa dos direitos humanos impediram a efetivação da ordem, alegando ser uma alternativa de moradia próxima ao Centro – conforme prevê o Estatuto da Cidade – e de se tratar da ocupação legítima de um espaço urbano ocioso.

Tentativas de empreendimentos

Em 2012, um megaempreendimento no local foi anunciado pela PHV Engenharia, em parceria com o escritório de arquitetura FarKasVölGy. O projeto abrangeria o lote que abriga as torres e outro lote ao lado, mas nunca saiu do papel.

A ideia era construir um prédio comercial e um hotel nas torres gêmeas e, no lote ao lado, construir um edifício de 85 andares – que se tornaria o maior prédio da América Latina. O empreendimento seria batizado de Complexo Andradas e ainda previa “a requalificação de toda área”.

Em 2016, o projeto foi alterado para a construção de três prédios de 20 andares, que também foi barrado. Por lei (8.137/2000), o bairro de Santa Tereza não pode ter nenhuma construção de mais de 15 metros de altura.

Rodrigo Salgado

Repórter do Portal Bhaz.

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