‘Nós é que vamos falar quando será utilizada a força delas’, diz líder de praças sobre ameaça de greve

Reunião com mulheres de policiais e líderes da categoria realizada nesta sexta-feira (Bhaz + Divulgação/Agência Minas)

A liderança do grupo de mulheres de policiais militares mineiros se reuniu nesta sexta-feira (17) na Assembleia Legislativa de Minas, na Zona Sul de BH, em uma reunião a portas fechadas com representantes de associações representativas de soldados, cabos e sargentos da PM de Minas. O encontro, que durou cerca de 2h, foi comandado pelo deputado estadual Sargento Rodrigues (PDT). O parlamentar é um dos líderes do movimento que reivindica reajuste salarial e o fim do parcelamento dos vencimentos de integrantes da Polícia Militar (PM).

Além das cerca de 20 esposas de sargentos e outros militares, filhos de policiais também estiveram na ALMG a fim de discutir os rumos da iniciativa que sugere a possibilidade de uma paralisação por parte de servidores da categoria. A ameaça de greve foi informada nas redes sociais pela Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra) no início desta semana. O Sargento Bahia, presidente da Aspra, marcou presença no debate juntamente com o Cabo Coelho, da Associação dos Servidores do Corpo de Bombeiros e Polícia Militar de Minas Gerais (Ascobom), e o Sargento Alexandre, da União dos Militares de Minas Gerais (UMMG).

Mulheres de policiais se reuniram na ALMG com deputados e representantes de associações da PM
Reprodução/Facebook

Mulheres orientadas a não falar

Após o fim da reunião, Sargento Rodrigues disse que o encontro tinha caráter propositivo. Segundo ele, as companheiras dos integrantes da PM foram convocadas para aderir e dar força ao movimento. No entanto, a participação delas não seria como ocorreu no Espírito Santo, onde mulheres ocuparam portarias de batalhões para impedir que os agentes trabalhassem. “Aqui em Minas Gerais ninguém vai solicitar a nenhuma esposa de policial ou bombeiro militar que fique em porta de guarnição. Elas não serão escudo de ninguém. Para isso existem policiais reformados e da reserva”, disse. “O que elas estão fazendo é se unindo às entidades de classe para fazer uma mobilização com mais força e cobrar do governo”, disse.

Rodrigues relatou que as mulheres foram orientadas a não conversar com a imprensa até que as medidas que as envolvam sejam definidas. O presidente da Aspra, Sargento Bahia, também deixou a questão em aberto, mas foi na contramão do que disse o deputado e reconsiderou a atuação delas nos postos policiais. “As mulheres vão fazer parte da mobilização que nós estamos organizando para o próximo dia 7. A nossa mobilização vai ser definida com as entidades de classe e não com as mulheres”, afirmou. “Nós é que vamos falar quando vai ser utilizada a força delas. Se vai ser nos batalhões, se vai ser nas portas das delegacias, enfim”, ponderou.

Paralisação de policiais militares

Questionado se existe realmente a possibilidade de paralisação das atividades policiais em Minas Gerais, o deputado explicou que a decisão depende de uma assembleia marcada para 7 de março, mesmo dia em que haverá o primeiro protesto da categoria em frente à ALMG.

“Tem perigo de greve, de paralisação no Estado, mas quem decide isso é a assembleia do dia 7 de março”, disse. “Todas as associações estarão na ALMG fazendo uma grande assembleia. Se a decisão for essa (pela greve). É uma possibilidade, só que quem vai decidir é o conjunto das entidades de classe”, completou.

Divulgação/Agência Brasil

Rodrigues também rebateu a posição do comando da Polícia Militar mineira que, por meio do porta-voz major Flávio Santigo, descartou a possibilidade de tropas da PM aderirem ao movimento. “Ele não poderia falar outra coisa, porta-voz do comando é porta-voz do governo. Ele está fazendo o papel dele. Quem decide pela paralisação são as entidades de classe, ouvindo obviamente os policiais e bombeiros militares”, argumentou.

“O governador está em uma posição muito cômoda em Minas Gerais. O governador tem oito meses que não paga a dívida da União, está fazendo caixa buscando a reeleição para o ano que vem. É muito simples fazer caixa com o dinheiro do salário dos servidores públicos, isso é vergonhoso o que ele está fazendo em Minas Gerais”, completou o deputado.

Onda de violência

Sobre a onda de violência no Espírito Santo e o temor da população de que situações parecidas ocorram em Minas, Sargento Rodrigues voltou a falar em ações informativas, – segundo ele, haverá panfletagem nas ruas, comunicados em sites e nos gabinetes dos deputados envolvidos -, e direcionou a responsabilidade de possíveis atos violentos, caso os policiais militares tenham suas atividades paralisadas, ao governador Fernando Pimentel (PT).

“A população tem que cobrar é do governador. Por que salário de deputados estaduais, federais, promotores, juízes, desembargadores, conselheiros de tribunais de contas são pagos no quinto dia útil?”, questiona. “Por que os servidores, 157 mil, continuam recebendo em três parcelas? Isso é crueldade, isso que é injustiça e é isso que o governador tem que responder para a população”, continua. “Se o governador não quer ver nenhuma manifestação de policial e bombeiro militar e de familiares é muito simples, ele para de enrolar as pessoas porque tem 13 meses que eles tão dizendo que vão negociar”, afirma o parlamentar.

Exército foi mandado ao Espírito Santo para conter onda de violência durante paralisação de policiais militares
Tânia Rêgo/DivulgaçãoAgência Brasil

O presidente da Aspra, por sua vez, considerou não existir a possibilidade de paralisação dos policiais militares antes do Carnaval. “O temor (relacionado à criminalidade) pode existir, mas nesse momento a gente não está falando em paralisação. Nós estamos falando da mobilização para o próximo dia 7 de março”. “O pessoal está com muito medo do Carnaval. Não há nenhuma movimentação antes do Carnaval somente após, no dia 7 de março”, ponderou Sargento Bahia.

Espírito Santo x Minas Gerais

Para Bahia, a mobilização iniciada em Minas Gerais não deve ser comparada ao movimento visto no Espírito Santo. Segundo ele, as realidades são diferentes em cada um dos Estados. “No Espírito Santo é uma realidade totalmente diferente. Lá foi um movimento desencadeado pelas mulheres e aqui é o contrário. Aqui quem está fazendo a movimentação são as entidades de classe, que já está mais ou menos há 20 anos nessa luta”, argumenta. “Lá houve um cenário ruim porque infelizmente não tinha lideranças para fazer o movimento. Aqui não, aqui tem as associações e os deputados que fazem mediação e sabem a hora de parar ou não”, finalizou.

O Governo de Minas já se manifestou nesta semana afirmando que “não é possível, no momento, atender às reivindicações referentes às questões salariais”. O órgão explica ter considerado “dificuldades financeiras enfrentadas pelo Estado de Minas Gerais” e a Lei da Responsabilidade Fiscal para se posicionar. “A propósito, foi justamente por causa dessa crise que o governo, com aprovação da Assembleia, decidiu decretar estado de calamidade financeira, para evitar o colapso da prestação de serviços públicos em Minas Gerais”, ponderou por nota.

Roberth Costa[email protected]

De estagiário a redator, produtor, repórter e, desde 2021, coordenador da equipe de redação do BHAZ. Participou do processo de criação do portal em 2012; são 11 anos de aprendizado contínuo. Formado em Publicidade e Propaganda e aventureiro do ‘DDJ’ (Data Driven Journalism). Junto da equipe acumula 10 premiações por reportagens com o ‘DNA’ do BHAZ.

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