Com dormitórios, lanchonete, wi-fi e sinuca, casa vira reduto para motoristas do Uber em Confins

Yuran Khan/Bhaz
Yuran Khan/Bhaz

Uma espécie de “oásis” para motoristas do Uber salta aos olhos em meio às condições precárias enfrentadas pelos profissionais que esperam até 8 horas pela “corrida dos sonhos” nas imediações do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins. Localizada a cerca de 10 km do terminal, a estrutura inaugurada há pouco mais de um mês — e que ainda segue desconhecida pela maioria dos condutores — recebe cerca 60 clientes ao dia e funciona como uma espécie de base de apoio, com quartos, lanchonete, banheiros e até uma mesa de sinuca.

“Apesar dessa rotatividade de carros, isso não deve dar nem 10% da galera que sobe para cá [de Belo Horizonte a Confins]. Isso porque ainda é muito pouco divulgado e não sirvo almoço”, avalia o empresário Jackson Araújo, de 25 anos.

Ex-motorista do Uber, ele conta que a ideia de montar o espaço surgiu após receber inúmeras notificações de trânsito enquanto precisava parar em áreas de estacionamento proibido para aguardar passageiros em vias adjacentes ao aeroporto.

Jackson Araújo 'base de apoio'
Jackson Araújo deixou de trabalhar como motorista de Uber para inaugurar a ‘base de apoio’ (Yuran Khan/Bhaz)

“Colocaram faixas de proibido estacionar para todo lado, então a polícia passava e você tinha que correr. Então eu pensei: ‘Nunca precisei correr de polícia na minha vida e vou correr agora, que estou trabalhando?'”, questiona o empresário. “Aqui, os motoristas não têm risco de serem multados”.

Outro problema que ele espera atacar com a “base de apoio” é a fragilidade apontada pelos motoristas sobre o sistema de fila virtual. Muito profissionais relatam que, enquanto esperam por horas para serem acionados pelo aplicativo, uma simples queda de sinal do celular pode levá-los ao final da lista de espera.

Yuran Khan/Bhaz
Yuran Khan/Bhaz

Diante das recorrentes queixas dos colegas, Araújo teve uma ideia e diz que, inclusive, já fez uma proposta para a Uber. Ele pensa em implantar um sistema de senhas para gerenciar a espera de motoristas direto do seu estabelecimento — algo semelhante ao que é feito nos atendimentos em agências bancárias.

“Teria um painel eletrônico aqui vinculado ao telefone dos motoristas”, diz o empresário, apontando para parede atrás do balcão da lanchonete. “Se tivessem 50 motoristas esperando, por exemplo, você receberia um número e ficaria aguardando a sua vez. Assim os caras não teriam mais o risco de cair a conexão e voltar para o final da fila”.

Araújo conta que ainda não teve retorno da administradora do aplicativo.

Tempo livre

Dezenas de motoristas lustram os carros no amplo estacionamento da casa enquanto esperam por uma corrida. Outros, por sua vez, usam o tempo livre para descansar em uma das beliches disponíveis nos cômodos, jogar sinuca ou simplesmente bater um papo. Já Júnior Batista, de 23 anos, procura um canto mais silencioso para se concentrar.

Ainda estava escuro quando o motorista chegou na “base de apoio”, às 4h30. Em cima de uma mesa de pingue-pongue, Júnior instalou o seu laptop e começou a estudar. Às 11h, ele estava na 11ª posição da fila.

Base de apoio - Yuran Khan/Bhaz
Yuran Khan/Bhaz

“Acho melhor ficar estudando do que ficar no Centro [de BH], onde a gente fica rodando muito e perde tempo. Uma corrida aqui já compensa”, avalia. “Eu subo com passageiro e desço com passageiro, aí já compensa meu dia”, conta.

Júnior cursa o primeiro período de engenharia civil e usa a renda do Uber para pagar os estudos. “Não tenho outra opção, porque além da engenharia, estudo inglês também. Se eu for deixar para trabalhar após os estudos, eu vou sair só à noite”, avalia.

Entretanto, convive com o risco de sofrer uma queda de sinal e ir embora para casa sem a remuneração de um dia de trabalho. “Se eu ficar aqui quatro ou cinco horas e cair meu sinal, aí eu desço para Belo Horizonte e perco o meu dia”, lamentou.

Nem tudo são rosas

O conforto oferecido pela casa, entretanto, tem preço. Por isso, alguns motoristas preferem enfrentar a longa espera do lado de fora, em ruas próximas ao aeroporto ou no estacionamento de um posto de gasolina desativado.

“Você paga R$ 5 para ficar lá [na casa] e fica até a hora de sair. Se a viagem é R$ 50 já é cai para R$ 45. Se eu não trago lanche, eu vou ter mais R$ 10 de despesa. E aí valeu a pena eu vir pra cá para voltar com R$ 35?”, questiona um dos motoristas que esperava por uma corrida debaixo do sol no posto.

Guilherme Scarpellini

Guilherme Scarpellini é redator de política e cidades no Portal BHAZ.

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