Dois casos de assédio sexual registrados nesta semana contra universitárias da PUC Minas, no bairro Coração Eucarístico, têm preocupado a Polícia Militar e assustado estudantes e moradores da região. Os ataques ocorridos nas proximidades da universidade forçaram os militares a intensificar o policiamento na área da região Noroeste da capital para amenizar o clima de insegurança especialmente entre as mulheres.
Nesta quinta-feira (23), publicações e áudios de WhatsApp sobre os assédios começaram a repercutir nas redes sociais. Em um dos casos, uma estudante de 19 anos, que cursa odontologia na universidade, foi abordada por um rapaz que fez insinuações sexuais. Outra estudante da PUC, também de 19 anos, conta ter corrido para se livrar de um homem que a seguiu e a segurou pelo braço. Ela entrou em uma farmácia para fugir do agressor.
O assédio mais recente ocorreu na tarde dessa quarta-feira (22), por volta das 17h30. Ao Bhaz, a universitária alvo do ataque disse que havia acabado de sair do prédio de Odontologia junto com uma amiga e que, ao se despedir dela, seguiu para a portaria central da instituição, na avenida Dom José Gaspar. Após se afastar do trailer de lanches onde a colega ficou para comer, continuou andando e percebeu um homem indo na direção contrária à que ela caminhava.
“Eu me afastei do trailer e não tinha mais ninguém na rua. Ele estava fazendo gestos e incitando sexo com a mão, penetração, mas não prestei atenção que era para mim”, disse a estudante que prefere não se identificar. “Quando ele chegou do meu lado, veio para cima de mim e falou alguma coisa no meu ouvido. Eu não cheguei a entender, só desviei e corri”, explicou.
“Enquanto eu estava correndo, olhei para trás e ele não parava de olhar para mim. Ele ficava olhando o tempo todo para trás”, disse. “Meu pai já estava me esperando e assim que entrei no carro conversei com ele. Eu só sabia chorar”, desabafa. “Eu não tenho coragem de ir sozinha para a aula agora, meu pai me deixa na porta da PUC e me pega”, completa.
Segundo a jovem, o suspeito era alto, magro, loiro e usava uma blusa verde. Ela chegou a gravar um áudio no WhatsApp para alertar amigas e conhecidas que frequentam as proximidades da PUC. A universitária disse que pretende procurar a coordenação do curso de Odontologia para falar sobre o assédio e o perigo que correu. “O Coração Eucarístico está muito perigoso, muito perigoso mesmo. Várias pessoas falaram que provavelmente é o mesmo cara que fez isso com outras meninas. Chegou ao meu ouvido que aconteceu o mesmo com outras meninas”, disse.
Primeiro assédio
Dois dias antes, na segunda-feira (20), outra aluna da PUC Minas também foi assediada nas proximidades do campus. Ela registrou boletim de ocorrência e disse à Polícia Militar que o fato ocorreu à luz do dia, por volta das 10h15. Aos militares, ela informou que seguia para um ponto de ônibus quando o agressor surgiu de repente na rua Coração Eucarístico de Jesus.
Ao Bhaz, a estudante contou que o homem começou a chamá-la de “gostosa” e que começou a segui-la. “Antes de tentar me agarrar ele ficou me assediando verbalmente, me chamando de gostosa”, relata. “Eu continuei andando e ele disse para eu parar porque era para a gente conversar um pouco”, explicou. “Quando ele segurou meu braço, eu saí correndo”, disse.
Assustada, a estudante correu para dentro de uma farmácia e pediu ajuda aos seguranças do local. Ela contou aos militares que teve a impressão de ter visto o homem entrar em um carro, onde um motorista o esperava. “Foi tudo muito rápido. Eu saí correndo e não vi direito como ele fugiu. Voltei para casa e fiquei sem reação”, explicou. Segundo ela, o homem era negro.
Outro relato em que um homem negro é apontado como responsável por assediar estudantes da PUC Minas na região do Coração Eucarístico também movimenta as redes sociais. Nele, uma jovem conta que a namorada dela e uma amiga foram abordadas pelo suspeito, que estava de carro, quando estavam em ponto de ônibus. “Seguinte: minha namorada e nossa amiga estavam voltando agora da minha casa (antes das 23h) esperando o 5401 perto da PUC aqui no Coração Eucarístico. Veio vindo um cara num Gol prateado devagarzinho, passou por elas, passou de novo”, diz um trecho do alerta publicado no Facebook. “Elas correram pro outro ponto, perto da praça do Coreu, o cara passou mais duas vezes no carro, tirando o cinto de segurança. Elas felizmente pegaram o ônibus correndo, e o cara não teve tempo de fazer nada com elas”, completa.
Respostas
Procurada pelo Bhaz na manhã desta quinta-feira, a assessoria da PUC Minas enviou nota às 18h45 informando que “entrará em contato com a Polícia Militar para solicitar reforço da segurança no bairro”. “Temos a informar que a universidade só tomou conhecimento desses fatos por meio da citada matéria [esta reportagem], não tendo a reitoria sido procurada pelos estudantes”, diz trecho do posicionamento (leia a íntegra abaixo).
Já a Polícia Militar disse ter aumentado o policiamento na região desde que o primeiro caso chegou ao conhecimento da companhia de polícia responsável pela região. Segundo a PM, duas duplas de policiais vigiam as proximidades da PUC no Coração Eucarístico desde o início desta semana.
Os militares se revezam no período da manhã e da tarde e ficam nas redondezas até às 21h30. Depois, são policiais em motos que tomam conta da área. Eles seguem no bairro até às 23h30 dando atenção maior aos locais onde os abusos ocorreram. A PM explica que o patrulhamento preventivo da área ocorre normalmente com pelo menos uma moto e cinco viaturas, três delas voltadas especificamente para a prevenção de crimes.
Nota da PUC Minas na íntegra:
A respeito da matéria intitulada “Onda de Assédios a alunas da PUC amedronta estudantes e gera contra-ataques da PM”, publicada nesta quinta-feira neste portal de notícias, temos a informar que a Universidade só tomou conhecimento desses fatos por meio da citada matéria, não tendo a Reitoria sido procurada pelos estudantes sobre esse assunto.
A PUC Minas mantém estreito relacionamento com a Polícia Militar e Associação de Moradores do Coração Eucarístico (Amocoreu) para buscar permanentemente ações conjuntas no sentido de melhorar as condições de segurança nas imediações da Instituição. Sobre o fato citado, a Universidade entrará em contato com a Polícia Militar para solicitar reforço da segurança no bairro.
Atualizada às 19h do dia 23/03/2017
