‘Taca cachaça que ela libera’: Advogada faz sucesso ao ‘arrumar’ letras de cunho machista

Reprodução/Facebook

A página Arrumando Letras tem o objetivo de alterar letras de músicas conhecidas com teor machista. A ideia é pegar uma letra que fale de abuso, desrespeito, agressões físicas ou psicológicas, e substituir por mensagens de apoio à mulher.

Criada há duas semanas pela advogada curitibana Camila Queiroz, de 25 anos, a página já acumula mais de 225 mil seguidores. Tudo começou com uma discussão sobre machismo na casa da paranaense. “Eu moro com duas amigas. Conversamos sobre como o machismo está presente na sociedade e nem sempre percebemos isso. Na oportunidade, falei sobre as músicas que a gente vivia cantando e não prestava muita atenção no conteúdo”, comenta a advogada ao Bhaz.

Repercussão

A paranaense não esperava toda essa repercussão, a primeira postagem que ela fez foi em seu perfil pessoal. “Pois bem, fiquei com essa ideia na cabeça e, por isso, corrigi duas letras de música no meu perfil do Facebook. Uma delas rendeu um debate maior, então eu a postei em um grupo privado de humor. Lá, a letra corrigida bateu 2 mil curtidas e muitos comentários de pessoas manifestando a vontade de compartilhar essas letras no perfil pessoal delas, como não era possível fazer isso através do grupo privado, criei a página”, afirma Camila.

Sobre o sucesso da página, a advogada está surpresa. “Não esperava por tudo isso. Ainda estou me acostumando com tudo, mas estou feliz que a página tenha alcançado tanta gente”, completa.

No início, a maioria das letras era de sertanejo, mas hoje a página já conta com outros gêneros, como samba, pagode, rap, reggae, etc. Tudo é feito de forma bem simples. Um print da letra é tirado de algum site de música, Camila risca o que não está correto, na visão dela na música, e coloca sua versão corrigida.

Machismo disfarçado

O intuito da página é ressaltar o machismo velado em letras de músicas populares e atentar as pessoas para isso. “A gente tá sempre cantarolando músicas sem prestar muita atenção na letra. Corrigindo as letras, minha ideia principal é, na verdade, chamar atenção para uma possível problemática da letra original”, comenta a curitibana.

Quando perguntada se é feminista, Camila é taxativa. “Sou sim. Sempre fui rodeada de mulheres espetaculares que me ensinaram que eu podia ser o que eu quisesse. Minha mãe é uma mulher maravilhosa, batalhadora. Ela é minha maior inspiração! Por me ensinar que tenho direito à liberdade e que ninguém pode ceifar isso é que eu aprendi a propagar essa ideia onde quer que eu vá e, com isso, estreitar os laços com a luta pelos direitos das mulheres”, completa a advogada.

Na música Cartão Postal do grupo Exaltasamba, por exemplo, a parte “Como sempre distraída / Te filmei você não viu”, é completada por um comentário feito por Camila. “Depois te mostrei o vídeo, você pediu para eu apagar, eu apaguei e te pedi desculpas”.

Na música Faixa Amarela, do cantor Zeca Pagodinho, uma estrofe fala de agressão e em quebrar cinco dentes e quatro costelas da mulher. “Mas se ela vacilar, vou dar um castigo nela”. Camila já interrompe de início e completa com “Vacilou né, fazer o que / Dependendo do tamanho do vacilo, a gente termina numa boa”.

Já na faixa Taca Cachaça, do Mc Edy Lemond, a letra pede para ‘tacar cachaça’ que a ‘novinha libera’. A curitibana prontamente faz a correção e altera a letra que diz “Não quer sucessagem / Vuque-vuque e rela-rela / Taca cachaça que ela libera”. Na última parte, ela substitui por “Tudo bem, ela está certa em não querer! Se a mina é novinha eu nem devia estar ficando com ela, poxa”. Na descrição, a advogada faz uma análise ainda mais aprofundada sobre o conteúdo musical da canção.

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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