[Coluna do Orion] Além de Temer e Aécio, delação da JBS denuncia outros 1.800 políticos 

Juntos na posse, Aécio e Temer caem no abraço de afogados (Reprodução/GGN)

Qualquer prognóstico nesse momento corre o risco de se desmanchar diante de mais esse terremoto sobre Brasília, atingindo o coração do presidente em exercício, Michel Temer (PMDB), e de seus principais aliados, à frente o senador, agora afastado, Aécio Neves e, até então, presidente nacional do PSDB.  Se o prognóstico é improvável, o diagnóstico já foi definido: falência múltipla dos órgãos dos atuais mandatários, os mesmos que tomaram o poder à força da ex-presidente Dilma Rousseff. Não custa lembrar o que ela disse, em outubro de 2014, pouco dias após sua reeleição: “Não ficará pedra sobre pedra”.

As pedras estão rolando e caindo exatamente sobre aqueles que lideraram o processo de impeachment. De acordo com o que tem sido revelado, outros 1.800 políticos teriam citados e estariam envolvidos com o maior esquema de compra de votos, maior do que a da empreiteira Odebrecht, chefiado pela JBS. Pelo número, não sobraria ninguém mesmo, de vereadores a presidente da República.

Oficialmente, de acordo com as prestações de contas eleitorais, a JBS é a maior doadora no caixa 1, a doação legal e registrada. Imaginem o caixa dois e as propinas dela? Tudo isso deixa imprevisíveis quaisquer cenários.

Desde ontem à noite, em estado de choque, o país se pergunta, e todo mundo dá seu pitaco sobre o cenário possível. Aqui segue o meu: Temer renuncia e o primeiro na linha sucessória, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), assume, mesmo sendo investigado pela Lava Jato. Ah! mas ele foi citado e está sendo investigado. Nesse caso, será premiado, porque presidente da República em exercício não pode ser investigado por fatos anteriores ao mandato. Pelo menos no exercício da presidência.

O segundo é o presidente do Senado, Eunício de Oliveira (PMDB), igualmente citado e investigado. Caso os dois recusem ou sejam impedidos, a terceira na linha sucessória é a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Ela assumiria. Seja qual for o novo presidente, ele ou ela poderia convocar eleições indiretas como prevê a Constituição, cujo único colégio eleitoral seria o Congresso Nacional.

Temer pode não renunciar, até porque seria muita coerência para quem é acusado de práticas criminais e ilícitas como essas. Caso não renuncie, terá que enfrentar pedidos de impeachment em série. As revelações do dono da JBS, gravadas, são altamente comprometedoras, além de todo histórico de propinas distribuídas a políticos nos últimos dez anos. E mais, para agravar, elas ocorreram no período mais agudo da Lava-Jato.

Além disso, ainda tem as ruas, que podem reagir aos possíveis desdobramentos. Tudo somado, também é certo é que não é mais possível manter a votação das reformas da Previdência e trabalhista no Congresso.

Mesmo silenciado, Cunha derruba o segundo presidente

Um dos principais algozes de Dilma, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB), cassado e preso em Curitiba, também é o responsável pela queda do segundo presidente da República em um prazo de menos de um ano. Da cela onde está, Cunha enviou ameaças e perguntas ao atual presidente, na condição de testemunha, mas foi barrado pelo juiz federal Sérgio Moro, coordenador da Operação Lava Jato.

Homem bomba, Cunha havia mandado vários recados ameaçadores de delação. Agora, sabe-se porque ainda não falou. Estava recebendo propina para ficar calado, com o aval de Michel Temer, pelo dono da JBS, Joesley Batista, segundo gravação e delação do empresário. O esquema armado e sustentado por muito dinheiro para que Cunha não falasse foi o estopim da delação que expôs o envolvimento e colocou Temer sob suspeição irreversível: ele perdeu as condições de continuar no governo.

Pimentel demite filho do vice-governador

O governador Fernando Pimentel (PT) implodiu a única pinguela que poderia reaproximá-lo de seu vice-governador, Antônio Andrade (PMDB). Nessa quarta (17), o filho do vice, Eduardo Andrade, foi demitido da presidência da Gasmig, a estatal do gás. Sendo assim, fica declarada a guerra entre Pimentel e Andrade. Ambos já estavam rompidos, porque o vice trabalha pelo afastamento do governador, que pode ser processado pelo Superior Tribunal de Justiça, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. No lugar de Eduardo, assumirá Pedro Magalhães, irmão do deputado estadual João Magalhães (PMDB).


(*) Orion Teixeira é jornalista político; leia mais no www.blogdoorion.com.br

Orion Teixeira[email protected]

Jornalista político, Orion Teixeira recorre à sua experiência, que inclui seis eleições presidenciais, seis estaduais e seis eleições municipais, e à cobertura do dia a dia para contar o que pensam e fazem os políticos, como agem, por que e pra quem.

É também autor do blog que leva seu nome (www.blogdoorion.com.br), comentarista político da TV Band Minas e da rádio Band News BH e apresentador do programa Pensamento Jurídico das TVs Justiça e Comunitária.

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