Quando vamos falar da música de uma época, logo começamos a citar nomes de bandas, compositores, e canções. É justo que seja assim, afinal a música é a essência da identidade de uma geração. No entanto, não devemos nos esquecer que para que esses artistas possam surgir, há toda uma cadeia dando suporte à sua produção.
Festivais, rádios, revistas, blogs, estúdios são essenciais para que uma banda possa sair da garagem e se tornar relevante. Na base dessa pirâmide estão as casas de show. É lá onde tudo começa. O que seriam dos Beatles sem o Cavern, do punk rock sem o CBGB, do jazz sem o Blue Note?
Hoje, em Belo Horizonte, temos em atividade alguns locais que cumprem esse papel, como A Autêntica, o Matriz e A Obra. Mas, ao longo da história, outros locais serviram de plataforma para que a música da cidade fosse alçada ao reconhecimento nacional e internacional.
Confira a nossa seleção de casas de shows que deixaram sua marca e que a música de Minas Gerais tem uma dívida de gratidão:
Lapa Multshow
Essa casa ocupou durante anos o prédio do antigo Cine Santa Efigênia, na rua Álvares Maciel, e tinha um tamanho que permitia receber shows de maior porte. O que encantava lá era o forte diálogo que a casa mantinha com a cena local, e o compromisso com a cultura que era assumido.
Durante sua existência, o Lapa recebeu uma quantidade incontável de shows de todos os estilos, do heavy metal à música regional. Era o palco preferido de nove entre dez músicos da cidade. O Lapa Multshow fechou por motivos especulativos, e deixou uma lacuna que demorou a ser preenchida, se é que foi.
Maxaluna
Casa que ficou famosa por ter abrigado o Skank, antes da banda estourar nacionalmente, ficava na Contorno, próximo a onde hoje é o Hospital Life Center. Era um tipo de ambiente típico daquele momento histórico da música, em que os limites entre show e balada, arte e entretenimento, cover e autoral, eram mais fluidos, menos definidos do que hoje.
Pastel de Angú
O bar que leva o nome do delicioso quitute típico de Conceição do Mato Dentro já foi em diversos lugares, de diversos tamanhos.
Quando era pequeno demais para comportar shows de maior porte, ocupava a rua, e foi numa dessas que o Mundo Livre S/A se apresentou pela primeira vez em Belo Horizonte.
O Pastel de Angú sempre foi aberto a propostas artísticas vanguardistas, e era um local de encontro da galera das artes. Parte característica da decoração era um barrado na parede feito com fotos 3×4 dos frequentadores.
Cabaré Mineiro
Aberto em meados da década de 80, o Cabaré Mineiro era a casa de música da cidade num momento de ouro. Tendo ninguém menos que Wagner Tiso e Milton Nascimento como sócios, o local marcou época e fez história, tendo recebido nomes como Joe Pass, Wynton Marsalis, e outros monstros do jazz, além de estrelas da MPB como Marisa Monte, Ed Motta, e Cássia Eller.
O Cabaré foi fundado com intenção de servir de palco para os alunos da Escola Livre de Música, que formou uma geração de músicos da cidade.
Calabouço
Localizado no bairro Primeiro de Maio, o Calabouço era um pequeno bar que abrigava grandes ideais. Além de receber de braços abertos artistas de todas as vertentes, o local funcionava como um centro comunitário, dando apoio a movimentos sociais e promovendo encontros de ordem política, com intuito de melhorar a qualidade de vida no bairro.
Pelo seu palco passaram nomes como Zeca Baleiro, Chico César, Vander Lee e Marku Ribas. Após o Calabouço, os proprietários abriram o Butecário, no centro da cidade, que teve uma vida relativamente curta, mas ficou famoso por receber o primeiro show do Los Hermanos fora do Rio, quando eles ainda não eram barbudos, e tocavam hardcore.
O espírito libertário continua vivo no Matriz, embaixo do conjunto JK, onde Andréia e Edmundo seguem fazendo história, acolhendo a todos com a mesma paixão de sempre. Se há um consenso na cena musical de BH, é que ninguém fez mais pela música da cidade do que esse casal.
* Leo Moraes é músico e sócio da casa de shows A Autentica.