Nova manifestação de camelôs para o Centro; PBH mantém retirada de ambulantes das ruas

Protesto dos camelôs interrompeu o trânsito, mas sem confronto com a PM (Yuran Khan/Bhaz)

Esta terça-feira (4) foi marcada por novas manifestações de ambulantes no Centro da capital. Os camelôs protestam contra a ação da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) de retirá-los do Centro da cidade. A manhã foi tumultuada na região central. A manifestação partiu da rodoviária em direção à Prefeitura. A  avenida Afonso Pena chegou a ser fechada nos dois sentidos, complicando o trânsito local. A Praça Sete também foi tomada pelos manifestantes. As ruas foram liberadas por volta de 13h30. Os protestos são semelhantes aos ocorridos nesta segunda-feira (3).

Segundo um dos organizadores do protesto, o camelô Bruno José, a manifestação é contrária à retirada dos camelôs na forma como está sendo feita. “O prefeito não aceita uma contraproposta do nosso movimento. Não tem diálogo da parte deles. Nós estamos exigindo uma feira livre em Belo Horizonte que nos dê o direito de trabalhar. Nós trabalhamos honestamente, todos os dias, e não conseguimos levar sequer um salário mínimo para casa no fim do mês”. O ambulante acrescenta que está vendendo produtos nas ruas da capital há cerca de três anos. “Eu me tornei camelô porque perdi o meu emprego e não tinha como sustentar minha família”, diz.

Manifestação ocupou uma das pistas da avenida Afonso Pena, em direção à Prefeitura (Yuran Khan/Bhaz)

Questionado sobre a proposta de realocar os camelôs em shoppings da capital, o manifestante se posicionou contrário. “Essa proposta é indecente. Querem empurrar todo mundo para uma feira que não existe. Além disso, não queremos ir para shoppings populares. A concorrência lá é desleal. Os comerciante que já estão lá vendem muito por um preço muito melhor que o meu, porque têm acesso aos produtos com preços melhores. Dessa forma, eu não conseguiria me manter. Isso é um absurdo”, afirma.

Quem também esteve nos protestos foi a vereadora Áurea Carolina (PSOL). Segundo ela, é importante estar ao lado do trabalhador neste momento. A vereadora classifica a ação da prefeitura como um desastre. “O problema da criminalização dos camelôs é que não se reconhece que essas pessoas estão buscando uma forma de sobrevivência. A proposta da prefeitura de remoção sem garantia de reinserção econômica e sem diálogo participativo é desastrosa. Esse é um problema social; não é um problema de polícia”, disse.

Comerciantes acuados

O Bhaz acompanhou as manifestações desta manhã. Ao longo da caminhada pela avenida Afonso Pena, alguns lojistas foram obrigados a baixar as portas dos estabelecimentos. Segundo a Polícia Militar (PM), dois homens foram presos por desobediência, desacato e incitação a violência. Eles estavam forçando os comerciantes a fecharem as lojas. Um vídeo feito pela reportagem flagrou o momento da ação dos manifestantes.

Um dos comerciantes que fechou sua loja, e que não quis se identificar, considerou absurda a ação. “Nós respeitamos todos os protestos que acontecem aqui. Inclusive, estamos do lado deles, pois acho que tem espaço para todo mundo. Mas é uma falta de respeito que nos ameacem e nos obriguem a fechar as lojas”, afirma.

Protestos esperados

Ainda durante a manhã, houve uma coletiva de imprensa do prefeito Alexandre Kalil e da secretária de Políticas Urbanas, Maria Caldas, sobre as ações que ocorreram nessa segunda (3) e que continuam ao longo da semana. Segundo Kalil, as manifestações já eram esperadas. “Eu já previa as manifestações. Tem um pessoal que não quer sair da rua. Mas nós estamos fazendo o que o poder público tem que fazer: dar opção”, disse o prefeito. “Nós vamos investir dinheiro nisso. Vamos pagar o aluguel de todos durante cinco anos, gradativamente, é uma coisa planejada e bem feita. Estamos dando acolhimento, tirando das ruas e colocando essas pessoas em lugares apropriados para venda de produtos”, completou.

O prefeito ressaltou que não vai aceitar venda de produtos ilegais no centro nem nas regionais da capital. “Não vai ter cigarro contrabandeado e celular roubado sendo vendidos no centro. O que nós queremos é devolver a cidade paro povo, voltar ao que era em 2003. O grande problema do país é que os políticos jogam os assuntos de lado. Ficaram oito anos sem mexer com isso e, agora, é um problema que vamos ter que resolver”, afirmou.

Realocação dos camelôs

Na coletiva, Maria Caldas reforçou a proposta de transição pelo qual os camelôs vão passar antes de irem para os shoppings populares definitivamente. O processo deve durar quatro meses e, durante esse tempo, eles passarão por experiências nos centros comerciais, onde serão concedidos espaços para que armem as bancas com mercadorias.

O sorteio dos shopping para onde os camelos serão levados vai ocorrer a partir desta quinta (6), antecipando o evento que só ocorreria a partir do dia 20 de julho. “A expectativa é de começar com 400 vagas e à medida que os shoppings forem protocolando as propostas, vamos fazendo os sorteios”, afirmou a secretária.

Maria Caldas reconhece que é visível a incerteza entre os camelôs, já que eles estão sendo levados para centros comerciais que desconhecem. No entanto, a secretária espera que o processo de transição acalme os ânimos dos ambulantes.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!