Astrônomo Bernardo Riedel tem oficina roubada; amigo faz vaquinha para ajudá-lo

Mais de 1.500 telescópios já foram produzidos pelo astrônomo

Desde quando tinha 13 anos, a astronomia faz parte da vida de Bernardo Riedel. Com o passar dos anos aquilo que era considerado um hobby do ex-professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) passou a ser atividade profissional do agora senhor de 77 anos. Na oficina que mantém no bairro Sagrada Família, região Leste de Belo Horizonte, o astrônomo, com o auxílio de dois funcionários, fabrica telescópios, ou aparelhos para “contemplar a beleza do céu”, como ele define.

Porém, há uma semana, a rotina de Bernardo está diferente e mais triste. No último sábado (12), uma pessoa invadiu a oficina e levou as principais ferramentas usadas por ele na fabricação dos aparelhos. “Um indivíduo levou daqui minhas três furadeiras, duas lixadeiras e três paquímetros”, conta Bernardo. Além disso, foram roubados uma máquina fotográfica e um binóculo que estava sendo restaurado e que pertencia a clientes.

Oficina do professor é localizada no bairro Sagrada Família (Yuran Kahn/Bhaz)

A produção está parada na oficina, mas o roubo não desanima o astrônomo de continuar. “Temos pedidos para concluir e, com isso, dinheiro para entrar no nosso caixa. Aos poucos, vamos recompondo e continuaremos nossos serviços”. Com o objetivo de ajudar Bernardo na reconstrução da oficina, o médico Otto Chaves e amigos, criaram uma Vakinha on-line. “Tenho percebido o quanto ele está sofrendo após o assalto. Foi ele que me introduziu na astronomia e ajudar meu amigo é o mínimo que posso fazer”, disse o médico, que há 10 anos conhece o professor.

Além do prejuízo financeiro, o roubo deixou no astrônomo o trauma de que um novo assalto aconteça. “Desde o roubo eu não durmo direito; acordo duas vezes na noite, dou uma volta pelas ruas e subo na lage da oficina para ver se está tudo ‘tranquilo'”, desabafa.

Enquanto o Bhaz entrevistava Benardo, funcionários de uma empresa de segurança instalavam, no muro, a concertina, espécie de cerca em formato espiral. “Minha mulher foi quem emprestou esse dinheiro para a instalação. Sei que isso não é o suficiente para impedir o roubo, mas é uma forma de, pelo menos, atrapalhar a atuação do ladrão”, diz.

Com a ajuda da esposa, foi instalada cerca no muro da oficina (Yuran Khan/Bhaz)

O desejo pela astronomia surgiu quando conheceu um homem que consertava rádios. “Esse senhor me apresentou um telescópio e fiquei encantado. Ao perguntá-lo para que aquilo servia, ele respondeu: ‘é para ver o planeta Vênus’, desde então minha atração por astronomia aumentou cada vez mais”, relembra.

Dois meses após ser “apresentado” à astronomia, Bernardo construiu seu primeiro telescópio e não parou mais. Até o momento, ele já fez mais de 1.500 aparelhos. “Era uma maravilha ver o céu de BH com o telescópio. Minha casa ficava repleta de pessoas com o desejo de apreciar aquela maravilha”. O astrônomo conta ainda que no começo do trabalho presenteava os amigos com telescópios.

O professor, que durante 30 anos lecionou na UFMG, acredita que é de suma importância investir em ciência e tecnologia, pois só assim o país terá um futuro melhor. “Temos um grande potencial intelectual para investirmos nesta área e competirmos com a China, mas falta o capital. Por isso é que é importante estimular em nossos jovens a paixão pela ciência”, conclui.

Além de continuar fabricando telescópios e outros produtos relacionados à astronomia, Bernardo deseja criar um curso em sua oficina voltado ao público jovem. “Sou um professor nato e que deseja transmitir conhecimento às pessoas. Ainda vou conseguir realizar este sonho”, enfatiza ele com a sabedoria de quem não desanima com os obstáculos que encontra na caminhada.

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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