Fechamento do Minascentro abre crise no setor de turismo e eventos de BH

Minascentro é um ícone na paisagem belo-horizontina

Não há quem não tenha assistido um show ou uma peça de teatro lá; não há quem não tenha um parente ou amigo que tenha se formado lá; não há quem não tenha participado de um congresso lá. Com seus 33 mil metros quadrados de área construída, o belo e imponente prédio em estilo neoclássico da avenida Augusto de Lima em frente ao Mercado Central é uma referência para Belo Horizonte. Não há quem não conheça o Minascentro.

A edificação nasceu como uma escola, o Ginásio Mineiro; em seguida, abrigou a Escola de Aperfeiçoamento pedagoga Helena Antipoff e, de 1948 e 1984, a Secretaria de Saúde. Seu auditório era famoso. Foi de lá que o então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, pouco antes do golpe de 64, foi expulso por seus adversários políticos, no episódio que ficou conhecido como “a noite das cadeiradas”. Nos anos de 1980, o auditório da Secretaria de Saúde, por seu porte, foi palco de assembleias em que se decidiram greves históricas, como a dos professores, de 1979.

Em 1984, o prédio foi reformado e transformado em um centro de convenções – o Centro de Convenções Israel Pinheiro da Silva, conhecido popularmente como Minascentro. Hoje, 34 anos depois de inaugurado, o Minascentro está no centro de uma polêmica que começou após a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), proprietária do imóvel, anunciar seu fechamento para reforma a partir de 2018. As obras devem começar em outubro e acarretar o cancelamento de diversos eventos que já estavam programados para o local. O fato causou revolta nos empresários do setor de turismo da capital.

A situação gerou uma reunião na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), na última sexta-feira (15), para que autoridades pudessem debater o tema. Segundo o diretor da Codemig, Marco Antônio Castello Branco, o Minascentro precisa, urgentemente, de manutenção nas áreas elétrica e hidráulica.

Fechamento do Minascentro foi tema de audiência pública na Assembleia Legislativa no último dia 15 (SarahTorres/Almg)

Durante a reunião Castello Branco exibiu imagens de cabos elétricos expostos, telhado em mau estado e cadeiras danificadas do Minascentro. “O Corpo de Bombeiros já advertiu que poderá interditar as instalações se a situação não for corrigida. O Minascentro está caindo aos pedaços. Não se pode mais adiar a reforma”, diz.

Apesar de muitos empresários reconhecerem que o espaço precisa de manutenção, fechar o Minascentro é considerado prejudicial ao turismo da capital. A presidente da Associação Brasileira da Indústria dos Hotéis em Minas Gerais (Abihmg), Érica Drumond, alertou para o problema. “A capital já tem mais de 20 hotéis que foram fechados desde o ano passado. São 1,5 mil empregos diretos perdidos”, afirmou ela, prevendo que o fechamento do espaço possa agravar a situação.

A reivindicação de Érica e de outros empresários mineiros é de que o espaço seja reformado sem a paralisação completa de suas atividades. “Reconhecemos que existem deficiências nas instalações do prédio, mas são manutenções simples que podem ser feitas com o Minascentro em pleno funcionamento. Assim como é feito em postos de saúde, escolas etc. Não precisa fechar”, diz Érica.

Segundo a presidente da Abihmg, a agenda do espaço já estava fechada para 2018. Porém, após o anúncio do fechamento, empresários pensam em levar os eventos para fora de BH, prejudicando o turismo de negócios na capital. “Fechar o Minascentro é a morte do setor de turismo em BH, uma cidade que tem essa vocação e é conhecida por isso. Estima-se que, com a parada, a capital receba cerca de 10 mil pessoas a menos”, conta.

Privatização

O diretor da Codemig disse, durante a reunião, que a intenção do governo não era reformar o Minascentro, mas repassá-lo para o setor privado, por meio de concessão. A presidente da Abihmg aprova a ideia de privatização. “Desde que haja um edital que beneficie o turismo, a proposta é válida. O setor privado tem mais competência que o Estado para gerir e captar eventos”, ressalta.

Entretanto, foram realizadas duas licitações, uma apenas para o Minascentro e depois outra incluindo também o Expominas. Em ambas, não houve interesse dos investidores. No caso da primeira licitação, a principal exigência do governo era que os concessionários investissem um mínimo de R$ 15 milhões para a reforma dos equipamentos de ar condicionado, infraestrutura elétrica, telhado e cadeiras. Justamente a reforma que, agora, será assumida pelo governo.

Érica esclarece que o governo não conseguiu interessados na área porque a exigência de investimento era muito alta. “Nas duas primeiras licitações, pediram R$ 30 milhões e R$ 20 milhões, respectivamente, mas agora eles querem R$15 milhões. Ou seja, não havia o pleno interesse em seguir com a proposta”, comenta.

O gasto, segundo o diretor-presidente da Codemig, reforça um histórico de prejuízos gerados pelo Minascentro. De acordo com uma planilha apresentada, foram raros os anos em que o espaço gerou lucro para o Estado, totalizando mais de R$ 41 milhões em prejuízos acumulados.

Para Érica, o retorno para o Estado vem por meio dos impostos e empregos gerados pelos empreendimentos turísticos. Além disso, ela rebate os números apresentados. “Os dados estão sendo mal interpretados. Enquanto estive à frente da administração do espaço, não demos prejuízo operacional para o governo. Nós não demos lucro aos acionistas, pois estávamos pagando um prejuízo contábil das gestões anteriores. Mas houve, sim, uma receita positiva”, contraria.

Auditório principal do Minascentro é um dos maiores de Belo Horizonte (Prominas/Divulgação)

Castello Branco afirmou que está em estudo a utilização de parte do primeiro pavimento do Minascentro para a instalação de um museu ou atração cultural. O argumento é que esses dois espaços apresentam uma ocupação de 24% a 33%, inferior ao necessário. Entretanto ainda não há uma decisão a respeito do assunto.

Érica questiona a ação. “Qual museu de BH tem uma ocupação maior do que 30%? Vão fazer um museu para ficar vazio assim como outros na capital. O que eles querem é repassar o Minascentro para o setor de Cultura e tirar do turismo. Há um erro de gestão”, afirma.

Segundo a presidente da Abihmg, a ideia da Codemig é transformar o espaço em um museu e passar a receber incentivos culturais. “O setor de Cultura tem mais força que o Turismo. Mas, precisamos dialogar com todos os setores e mostrar o quanto BH vai perder com o fechamento do Minascentro. Precisamos reforçar que aqui é a capital dos eventos de negócio, como feiras e congressos”, diz.

Localizado em frente à entrada principal do Minascentro, o Mercado Central também pode ser prejudicado com seu fechamento. Em conversa com o superintendente do Mercado Central, Luiz Carlos Braga, ele se mostrou favorável ao fechamento do espaço para manutenção.

“É melhor que o Minascentro fique fechado por um tempo e passe pelas reformas, do que acontecer um acidente no local e isso ficar ruim para a imagem da cidade. Claro que o fechamento prejudica o setor, mas a cidade ganha com isso. A perda é momentânea”, afirma.

Novos capítulos

A disputa deve se desenrolar nos próximos dias. Segundo Érica, empresários de turismo vão se reunir com comerciantes, vereadores e representantes para criar um grupo de discussão sobre o assunto.

A ideia é levantar números do prejuízo causado pelo fechamento do espaço e apresentá-los ao prefeito da capital, Alexandre Kalil (PHS). “Não vamos desistir. Essa postura dura e sem diálogo da Codemig precisa ser debatida. Essas ações obscuras vão prejudicar a cidade. Precisamos mostrar isso para a população”, afirma Érica.

Em nota, a Codemig disse que os eventos do Minascentro prejudicados pela reforma serão realocados para o Expominas ou ser realizados no próprio Minascentro, desde que até dezembro do próximo. Veja nota na íntegra:

A Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) esclarece que os eventos agendados até dezembro de 2017 que não puderem ser realocados para o Expominas Belo Horizonte ou outros locais, sem nenhum custo adicional para os organizadores, poderão ser realizados no Minascentro.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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