Juíza barra ação judicial e peça que retrata Jesus em uma atriz transexual acontece na capital

André Dell’Isola é um dos autores da ação contra a peça teatral

A peça teatral “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu” começou a ser apresentada na noite dessa quinta-feira (5) em Belo Horizonte. Porém, uma ação judicial tentou impedir que isso acontecesse. De acordo com as pessoas que assinaram a ação, a peça é considerada uma “ofensa à fé cristã e à dignidade humana”.

Na decisão a  juíza federal Maria Guimarães afirmou que a peça tem como objetivo “promover uma reflexão sobre a opressão e intolerância sofridas por pessoas trans e minorias em geral na sociedade”. Para a magistrada, o fato de vivermos em uma sociedade pautada no regime democrático não viabiliza espaços para que haja censura de peça teatral, por exemplo. “A liberdade de expressão é um elemento essencial em qualquer regime democrático, permitindo que a vontade coletiva seja formada através do confronto livre de ideias, em que todos os grupos e cidadãos devem poder participar”, afirmou a juíza.

Por meio das redes sociais, os responsáveis pela peça publicaram na íntegra a decisão da juíza e comemoram o fato de poderem exibir a peça ao público da capital. Eles classificaram a decisão como um “verdadeiro tratado, claro e pertinente, sobre como a lei deve ser aplicada em casos como este. Censura não”, dizia a publicação.

Um dos autores da ação judicial é André Dell’Isola que é advogado e assessor do deputado estadual João Leite (PSDB). Em conversa com o Bhaz, ele disse que, assim como as demais pessoas que assinaram a peça judicial, sente-se incomodado pelo fato de a apresentação artística retratar Jesus Cristo de uma forma diferente da que é proposta pela Bíblia. “Se eles estivessem mostrando Jesus Cristo como uma pessoa casada, nós também entraríamos com pedido de suspensão na Justiça”, disse.

O pedido à Justiça teve como base um caso ocorrido em Jundiaí, no estado de São Paulo. Na cidade paulista, a peça foi barrada em 1ª instância, algo que não aconteceu em Minas. “Utilizamos os meios legais para tentar impedir a peça. Para nós, ela é um deboche à fé cristã, àquilo em que cremos”, afirmou o advogado. André afirma que “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu” apresenta uma visão desrespeitosa e que ultrapassa os limites que a fé impõe. “O debate se Jesus Cristo de fato existiu pode ser feito, porém o que eles fazem não é isso. Eles querem desafiar o senso crítico parecendo que estão em um duelo de cabo de força”, argumentou.

Apesar de não concordar com a decisão da juíza André, diz respeitar. Segundo ele, “decisões judiciais vão da personalidade do magistrado”, sendo possível, a seu ver, que em um “eventual recurso, talvez o resultado possa ser favorável”.

Assessor diz que deputado não tem a ver com a ação

O assessor esclarece que apesar de ter vínculo com o gabinete do deputado, João Leite não está relacionado com a ação judicial. “O deputado sequer teve acesso à peça judicial. A única coisa que fiz questão de fazer foi comunicar aos colegas de gabinete sobre o pedido que faria à Justiça. Não há interesse do parlamentar nessa ação; ela é totalmente independente”, concluiu.

Na última terça-feira (3), o deputado João Leite utilizou a tribuna da Assembleia Legislativa para expor sua opinião sobre apresentações artísticas que vêm acontecendo no país. Para ele, isso é “resquício da esquerda”, sendo “algo insuportável o que estamos vivendo”, disse o parlamentar.

O Bhaz tentou ouvir deputado João Leite. Porém, de acordo com a assessoria, devido a desencontros de informações sobre o caso, o deputado preferiu que uma nota fosse produzida à imprensa. Porém, até as 17h de hoje, a nota não foi enviada.

O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu

Quando? sexta, 6; e sábado, 7 de outubro, às 20h; domingo, 8 de outubro, às 19h;

Valor? R$ 20 (inteira) / R$ 10 (meia);

Onde? Funarte, Rua Januária, 68, Floresta, Belo Horizonte.

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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