Professor da UFMG traduz epopeia do século 13 a.C do acádio para o português

Jacyntho Brandão é o mais novo membro da Academia Mineira de Letras

O professor Jacyntho Brandão, da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),  é um dos poucos no Brasil que conhece o acádio, uma língua já extinta, de origem semita, que era falada na região da Mesopotâmia. Aos 65 anos, 40 dos quais dedicados ensino do grego, ele é o responsável pela tradução, diretamente do acádio, de um dos mais antigos registros literários de que se tem conhecimento: “Ele que o abismo viu: a Epopeia de Gilgamesh” (336 páginas, Editora Autêntica).

A obra conta a história de um rei que parte em uma busca da imortalidade, enfrentando vários deuses. A arqueologia material do livro é, de certa forma recente. A história foi escrita, no século 13 a.C., sobre 13 tábuas de argila. Das tábuas que compõem o poema, a última só foi encontrada muito recentemente. Já os primeiros achados relativos ao texto são dos anos 70 do século 19.

A tradução feita pelo professor levou dois anos para ser concluída e será lançada pela Editora Autêntica nesta sexta, na livraria Crisálida. Além de traduzida, a obra ficou conhecida também como “tradução comentada”, em que o resultado da obra oferece aos leitores uma enorme quantidade de comentários para cada capítulo. Em média, cada página de poema recebe duas de comentários.

A segunda tradução

Esta é a segunda tradução. A primeira é de 1985 e foi feita pelo pesquisador Ordep José Trindade Serra, que  já havia realizado uma primeira tradução do poema. “É um trabalho de excelente qualidade e atualizado em relação à época em que foi escrito”, elogia Jacyntho. No entanto, ressalva, face às restrições da época, a versão era “um apanhado de textos distintos muitíssimo fragmentados”, capaz apenas “de apresentar um fio narrativo mínimo”.

Descobertas recentes de novas tabuinhas e fragmentos motivaram o projeto de uma edição crítica mais completa. “A tabuinha cinco, por exemplo, só foi encontrada nesta década”, conta Jacyntho, lembrando que a transcrição e edição feitas dela são ainda mais recentes – datam de 2015. A tradução do professor pôde contemplar todas essas novas descobertas. “Na verdade, fui pego pela descoberta dessa quinta tabuinha no meio de meu processo de tradução. Tive de voltar a essa parte e fazer tudo de novo”, diverte-se Jacyntho.

Uma das novidades do livro traduzido por Jacyntho é uma indicação de autoria, o que não existia em nenhuma versão anterior: o poema é atribuído a Sin-léqi-unnínni, um escriba, que, por volta dos séculos 13 ou 12 a.C., teria remanejado relatos anteriores (que remontam a uma tradição poética que pode ter-se iniciado há quatro mil anos), compilando-os na sua versão.

Parte da quinta tábua do Gilgamesh, encontrada em 2015 e que entrou na tradução de Jacynto Brandão (Reprodução/Osama Shukir Muhammed Amin)

Serviço

Lançamento da tradução do livro “Ele que o abismo viu: a Epopeia de Gilgamesh”

Quando? 10 de novembro, sexta-feira. A partir das 18h30

Onde? Livraria Crisálida, localizada no Edifício Maletta – Avenida Augusto de Lima, 233, sobreloja 25, Centro

Quanto? O livro de 336 páginas será vendido por R$ 59,80.

Stephanie Mendes

Jornalista e redatora do Bhaz

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