Discriminalização da maconha gera polêmica entre especialistas

Defensores da maconha foram às ruas, mas ainda não atingiram objetivo

A proposta de discriminalização do uso de drogas, especialmente a maconha, permanece como um assunto controverso. Os que são contra alegam que a medida geraria um aumento do número dependentes químicos no país. Os que defendem apontam como argumento a melhoria em sintomas de doenças. A proposta foi discutida pelos especialistas que participaram na manhã desta sexta-feira (17), do Encontro Internacionalização Discriminalização de Drogas, no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

O coordenador do Centro de Referência em Drogas (CRR) e professor adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Frederico Duarte Garcia, se manifestou contrariamente à liberação da maconha para o uso recreacional. Para ele, o aumento dos usuários pode ter consequências, por exemplo, na saúde pública, com o aumento de dependentes químicos, de doentes mentais e dos gastos públicos com os tratamentos.

Segundo o professor, atualmente cerca de 2 milhões de pessoas seriam dependentes da maconha no Brasil, sendo que, com a liberação, poderíamos chegar a 10 milhões de dependentes. “O sistema de saúde pública teria que enfrentar uma grande epidemia”, apontou.

O professor considerou que a realidade da dependência química é muito dura, sendo a cracolândia em São Paulo, onde não há controle sobre o uso de drogas e as pessoas vivem em uma situação de total exclusão social, um triste exemplo. Ele destacou ainda que, por trás do discurso da liberação do uso das drogas, existe um forte interesse econômico, alimentado, por exemplo, pela perda de mercado sofrida pela indústria tabagista.

Frederico Garcia contestou os argumentos favoráveis à liberação da maconha e mostrou como é preciso pensar nas suas consequências e nos aspectos judiciais, médicos e econômicos. Para ele, por exemplo, o argumento de que a liberação poderia diminuir a violência e o tráfico não se sustenta já que, no Brasil, 70% do cigarro comercializado é contrabandeado, o que mostra que legalização não significa o fim do “mercado paralelo”.

O professor Fernando Garcia também contestou as informações de que haveria benefícios no uso medicinal da maconha. Segundo ele, ainda não há segurança sobre a real eficácia da maconha, por exemplo, na utilização em pacientes com doenças psiquiátricas.

Frederico Garcia entende que a discriminização do uso da maconha causaria um grande aumento do números de dependentes químicos no país (Guilherme Bergamini/ALMG)

Especialista defende uso medicinal

Já o professor emérito da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro do Painel Consultivo de Especialistas em Dependência de Drogas e Problemas com Álcool da Organização Mundial da Saúde (OMS), Elisaldo Carlini, apresentou posição contrária e falou sobre estudos que comprovariam os benefícios do uso medicinal da maconha.

Segundo ele, a história da humanidade é repleta de relatos sobre os benefícios de seu uso, que remontam à China, 3 mil anos antes de Cristo. Entretanto, no século 20, houve uma condenação da maconha, que, apenas agora, começou a ser revista.

Elisaldo Carlini apontou vários estudos e experiências de diversos países como Canadá, Estados Unidos, Israel e Holanda, que vêm mostrando os benefícios do uso medicinal da maconha. Ele citou, como exemplo, melhorias constatadas em pacientes com esclerose múltipla e no alívio das reações causadas pelo tratamento quimioterápico.

Para o professor, os médicos brasileiros, ao negarem os benefícios, estão desprovidos de conhecimento técnico, além de se recusarem a escutar os relatos dos pacientes que estão vivenciado melhora na sua condição. “Está na hora de os médicos refletirem sobre os relatos dos pacientes a respeito dos benefícios vivenciados pelo uso medicinal da maconha”, defendeu.

 

Marcelo

Marcelo Freitas é redador-chefe do Bhaz

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