Taxis x motoristas de aplicativos: mais um episódio na polêmica

(Maick Hannder/Bhaz)

Após a aprovação, no Senado Federal, do projeto que regulamenta os motoristas de aplicativos, a categoria dos taxistas está em xeque. Os senadores aprovaram a PLC 28/2017, permitindo agora o livre direito de trabalho dos milhares motoristas de aplicativos, que desde a Copa do Mundo de 2014, rodam nas principais cidades do país.

Agora o projeto de lei deverá voltar à Câmara dos Deputados, para ser apreciado, e, em seguida votado. Caso os deputados sigam os senadores, a tendência é que o trânsito dos motoristas de aplicativos seja liberado em todo o país. Porém, com certas regulamentações, que praticamente inexistem atualmente.

Algumas medidas que regulam os motoristas de aplicativo foram mantidos no texto que volta para a Câmara. Foram mantidos critérios, como a exigência de certidão negativa de antecedentes criminais, a apresentação periódica de documentos às autoridades e uma maior transparência sobre o cálculo utilizado na definição das tarifas.

O vice-presidente do Sindicato dos Taxistas da Capital (Sincavir), João Paulo de Castro, afirma não ser contra o direito de trabalhar dos motoristas de aplicativos. “Nossa categoria não quer a proibição dos aplicativos. Quer a regulamentação. A ideia é coibir os problemas que acontecem atualmente com esses motoristas, como estupros e violência. Não seria o fim dos aplicativos”, diz ele.

Não seria, então, o caso dos taxistas usarem aplicativos para se manterem competitivos no mercado de transporte urbano? João Paulo acredita que sim. Mas salienta: “Aplicativos de taxi já existem desde 2012. Mas a ideia é que se faça um aplicativo único, que está sendo desenvolvido. No Rio de Janeiro e em São Paulo já existem aplicativos com essa função. O desafio é fazer um desses em Belo Horizonte também”.

Além da concorrência dos aplicativos, os taxistas perderam com a desvalorização das placas, que já chegaram a valer cerca de R$ 120 mil, mas hoje não têm nenhum valor de mercado. Os taxistas perderam esse dinheiro. Virou pó. O Bhaz ouviu alguns taxistas sobre esse assunto e também suas opiniões sobre o mercado.

Wanderson Cláudio, 41 anos, 21 anos de praça (Fotos: Maick Hannder/BHAZ)

Wanderson Cláudio, 41, tem 21 anos de praça. Ele conta que para começar a rodar de taxi, gastou R$50 mil em uma licença. “Na época, fiquei na dúvida se gastava esse dinheiro em uma entrada de um apartamento, ou se usava para comprar a placa. Me arrependo, pois perdi esse dinheiro”.

Wanderson afirma que a categoria dos taxistas foi muito enfraquecida com o surgimento dos aplicativos. “O que acontece é que tiraram nossa reserva de mercado. Enfraqueceram toda nossa categoria. E estão nos substituindo por um pessoal que roda sem regulamentação. Para nós rodarmos, temos que emitir uma série de certidões negativas, além de fazermos cursos. Nossa obrigação é muita, mas nosso direito é nada”.

Mesmo com toda a tensão nas ruas, entre motoristas de aplicativos e taxistas, Wanderson nunca teve confusões com os motoristas concorrentes. “Acho que direito de trabalhar todo mundo tem. Mas é injusto eles entrarem na disputa do nosso ganha pão, sem passar pelos mesmos crivos que nós. Eu perdi 50% da minha renda depois que os motoristas de aplicativos entraram no mercado. E a gente sempre ouve falar de casos complicados de assédio e violência por parte dos motoristas de Uber. Teve até história de passageira sendo estuprada”.

 

Eduardo Souza, 57 anos, 27 de praça

Eduardo Souza, 57, taxista há 27 anos vê um inchaço do mercado. “Existem por volta de 7.500 taxistas rodando em Belo Horizonte. E nossa placa, que antes valia um belo dinheiro, agora vale zero. Essa medida da placa ser intransferível tem uns três anos. E qualquer pessoa pode começar a rodar, só se cadastrando no aplicativo. Para oferecer um serviço basicamente igual ao nosso”.

Ele conta que também perdeu renda depois do surgimento dos motoristas de aplicativos. Cerca de 50%. “Acho que a solução é nós também começarmos a ralar com aplicativos. Mas aplicativos próprios da categoria. A gente até usa alguns, como o 99 Taxi. Mas ia ser interessante se existisse um aplicativo único, gerido pela BH Trans”.

Eduardo pontua a diferença entre o Uber e o taxi: “A diferença é que a corrida de Uber é bem mais barata. O motorista chega a receber 45% a menos para fazer a mesma corrida que o taxi. Até porque a empresa garfa 25% do valor. Quem se sujeita a isso é o pessoal que está desempregado. Para concorrer, eu também passei a dar desconto no meu valor final da passagem”.

Valdir Souza, 66 anos, 27 de praça

O taxista Valdir Souza, 66, rodando há 27 anos, conta que conseguiu sua licença somente no último processo licitatório da prefeitura. “Antes, eu dirigia carro dos outros. Paguei uma taxa de cerca de R$ 5 mil. Também me queixo de ter gasto esse dinheiro, enquanto os motoristas de aplicativos começam a trabalhar fazendo só um cadastro”.

Valdir repete a mesma queixa dos demais taxistas. A queda de cerca de 50% na renda. Diz não conhecer o serviço da concorrência para poder fazer uma avaliação, mas acredita que o diferencial do taxi é a segurança. “Nós temos de prestar uma série de declarações aos órgãos competentes. Passamos por vistoria de 6 em 6 meses. Nossos carros têm no máximo 5 anos. Enfim, não tenho ideia de como funcionam os ubers. Mas tenho certeza que nosso serviço, dos taxistas, é melhor”.

Para Valdir, a solução para a polêmica com os motoristas de aplicativos é simples: “Minha vontade? É que tirem os ubers da praça. Os proíba. Se está faltando carro na rua, o ideal seria aumentar o número de taxistas. Quem ganha dinheiro com o Uber não é o motorista. É a empresa. Eles que exploram os 50 e tantos mil cadastrados, que existem só em BH”.

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