João Bosco divulga nota repudiando uso da música “Esperança Equilibrista” pela PF

Compositor teme campanha para desacreditar universidades públicas

O compositor João Bosco, autor da música “O Bêbado e o Equilibrista” (em parceria com Aldir Blanc), composta em homenagem aos que lutaram contra a ditadura militar, declarou, por meio de uma nota, repúdio à apropriação da música pela Polícia Federal (PF). A corporação utilizou-a para batizar a operação, realizada na última quinta-feira, que conduziu coercitivamente o reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Jaime Arturo Ramirez; e a vice-reitora, Sandra Regina Goulart Almeida, além de outros dirigentes da Universidade, a prestarem depoimento no inquérito que apura denúncia de desvio de recursos destinados ao projeto do Memorial da Anistia. A operação foi batizada pela PF de “Esperança Equilibrista”, como consta em um dos versos da composição.

Segue a íntegra da nota de João Bosco.

Nota de repúdio à operação “Esperança Equilibrista”:

Recebi com indignação a notícia de que a Polícia Federal conduziu coercitivamente o reitor da Universidade Federal de Minas Gerais, Jaime Ramirez, entre outros professores dessa universidade. A ação faz parte da investigação da construção do Memorial da Anistia. Como vem se tornando regra no Brasil, além da coerção desnecessária (ao que consta, não houve pedido prévio, cuja desobediência justificasse a medida), consta ainda que os acusados e seus advogados foram impedidos de ter acesso ao próprio processo, e alguns deles nem sequer sabiam se eram levados como testemunha ou suspeitos. O conjunto dessas medidas fere os princípios elementares do devido processo legal. É uma violência à cidadania.

Isso seria motivo suficiente para minha indignação. Mas a operação da PF me toca de modo mais direto, pois foi batizada de “Esperança equilibrista”, em alusão à canção que Aldir Blanc e eu fizemos em honra a todos os que lutaram contra a ditadura brasileira. Essa canção foi e permanece sendo, na memória coletiva do país, um hino à liberdade e à luta pela retomada do processo democrático. Não autorizo, politicamente, o uso dessa canção por quem trai seu desejo fundamental.

Resta ainda um ponto. Há indícios que me levam a ver nessas medidas violentas um ato de ataque à universidade pública. Isso, num momento em que a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, estado onde moro, definha por conta de crimes cometidos por gestores públicos, e o ensino superior gratuito sofre ataques de grandes instituições (alinhadas a uma visão mais plutocrata do que democrática). Fica aqui portanto também a minha defesa veemente da universidade pública, espaço fundamental para a promoção de igualdades na sociedade brasileira. É essa a esperança equilibrista que tem que continuar.”

João Bosco
07/12/2017

 

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