Problematizando a pichação: comunidade da UFMG divulga manifesto em apoio à Prof. Regina Helena

Após a repercussão da matéria do BHAZ, sobre uma docente da UFMG que defendeu a pichação da igrejinha da Pampulha, originando comentários e reportagens no Programa Central, da Rádio 98 e no tele-Jornal da TV Alterosa, afiliada do SBT em Minas, a comunidade docente e discente da Universidade Federal de Minas Gerais, divulgou nessa quinta (24), um manifesto em apoio à professora Regina Helena Alves, autora da postagem numa rede social, que originou a discussão.

Docente da UFMG defende pichação na igrejinha da pampulha em BH A pichação é um ato que levanta, ao mesmo tempo, dúvidas e certezas na sociedade

O manifesto descreve a docente como uma intelectual que se destaca por seu conhecimento das dinâmicas complexas de mobilizações sociais e juvenis, capaz de se posicionar de forma coerente e apaixonada em defesa do patrimônio cultural e socioambiental de Minas gerais.

“A professora Regina Helena é (…) uma docente admirada pelos alunos, seja pelos projetos de investigação de ponta que integra ou coordena, seja pelo seu conhecimento e compreensão das dinâmicas complexas de mobilizações sociais e juvenis, bem como pelo seu engajamento corajoso como intelectual pública, capaz de posicionar-se de forma coerente, apaixonada, sempre honesta e transparente em DEFESA do patrimônio cultural e socioambiental de Minas Gerais, e contra políticas e práticas de descaso ou desmanche de nosso patrimônio, tanto em nível municipal quanto estadual (…).”

Entretanto, a professora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, Regina Helena Alves criou a polêmica, ao justificar a ação, que segundo ela não se trata de vandalismo.

Para a docente, os pichadores são responsáveis por “jogar na nossa cara a hipocrisia dos consensos que constituímos. Ha um consenso meio bobo em torno da Pampulha patrimônio da humanidade. Em nome desse consenso desapropriaram terreno construído invadido e pagaram a quem invadiu pra que o dinheiro publico destrua o que não é nosso pra dar a eles status de integrantes de um patrimônio da humanidade. (…) Em nome desse consenso tentam de todas as formas retirar ocupações que nosso prefeito diz serem culpadas por “poluir” a lagoa. Enfim, eu olharia pra essa pixação (sic) muito mais como uma voz do dissenso do que um vandalismo, mesmo porque não destrói nada so (sic) chama a atenção antes de ser lavada”, escreveu a professora.

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RESTAURAÇÃO CUSTARÁ R$ 8 MIL

Segundo a Fundação Municipal de Cultura, a restauração deve custar R$ 8 mil aos cofres públicos. O trabalho de limpeza, que começou na manhã desta quinta-feira (24), deve durar cinco dias. Restauradores trabalham no painel de azulejos pintado por Cândido Portinari na Igreja de São Francisco de Assis, parte do conjunto arquitetônico da Pampulha, criado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

Já para a comunidade docente da UFMG, existem diversos pesquisadores nas universidades brasileiras e no exterior que trabalham com o ponto de vista defendido pela professora: “interrogar e compreender as pixações (sic) como um fenômeno social”. Segundo a nota, “vários autores interpretam a pixação (sic) como uma forma de escritura urbana que é especialmente utilizada por grupos sociais excluídos da esfera pública como forma de expressão de si e de causas políticas.”, afirmam.

Chamado de “pixo” usualmente pelos praticantes, o ato de alguém deixar sua marca pelas ruas é um crime ambiental, com pena de detenção que pode variar de três meses à um ano, além de multa. Se o ato for praticado em monumento ou coisa tombada, devido a seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena de detenção é mais pesada e pode variar de seis meses a um ano, além do pagamento de multa.

TABU

Há quem a defenda por não ser um desvio de caráter ou conduta, pois não agride ao próximo reivindicando o direito de posse da cidade, sendo um questionamento do espaço público e privado. Alguns enxergam como uma forma de resistência contra o sistema que manda e desmanda no espaço urbano. Mas essa é uma questão que será sempre tabu por impactar negativamente a sociedade pelo ato, seja financeiramente, por terem que “limpar” o que foi feito, ou ao sentirem-se violadas por terem suas propriedade vandalizadas. Não se pode negar que a pichação é um dano estético, porém pode haver, de fato, uma mensagem por trás da tipografia que é rabiscada pela cidade. É clara a ressonância da voz do pichador, porém, o que carrega a sua fala, só o próprio quem pode dizer.

Segundo policiais que investigam o caso, o autor foi identificado horas depois do ataque, pois já era conhecido por sua atuação como pichador. Mário Augusto Faleiro Neto, de 25 anos, foi ouvido e indiciado pela Polícia Civil na tarde de quarta-feira (23), confirmando à polícia ser o autor das pichações, mas afirmando ser trabalhador. Sobre a escolha do lugar para deixar sua “assinatura”, ele alegou que desconhecia o fato de o local ser patrimônio histórico. Ele também disse que a intenção era gravar um protesto de apoio à Mariana.

O autor das pichações foi fichado e indiciado.

O delegado do Meio Ambiente, Aloísio Daniel Fagundes, entretanto, não acredita na versão apresentada, já que em todas as outras pichações cadastradas pela polícia, ele só havia deixado a ‘marca’ dele, sem qualquer motivação ideológica. “É sempre a assinatura enaltecendo o próprio ego”, disse.

A intenção pode ser uma crítica sobre a marginalização daqueles vindos da periferia, que não tem outro espaço além da rua para emitirem sua voz, que é “ouvida” através dos rabiscos feitos pela cidade. Pode ser ainda um mero prazer de deixar sua “marca” por toda a cidade, colecionando assim os lugares que foram “marcados” pelo dono daquela pichação. O que não há como negar é que o “pixo” consegue chamar a atenção.

Com colaboração de Jéssica Munhoz e Raquel Alice.

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