Dono de loja de grafite que foi confiscada aponta perseguição da polícia

Diante da denúncia da pichação na Igrejinha da Pampulha, a polícia tem se dedicado a condenar o culpado pela sujeira feita no principal patrimônio cultural da cidade. Por meio de investigações, chegaram a dar uma batida em uma loja de artigos para grafite em Belo Horizonte, na quinta-feira (7), e apreender todos os itens dispostos no local.

João Marcelo Ferreira Capelão, mais conhecido como “Goma”, é o dono da loja que foi esvaziada. Segundo ele, a polícia alegou que suas vendas são direcionadas somente para pichadores, o que seria um equivoco, pois seus artigos atendem principalmente o público do grafite, com itens como tintas coloridas e fluorescentes, que são usadas nas artes de rua.

“Devo ter clientes pichadores, mas vendo spray só pra ‘de maior’, tudo dentro da lei. E não posso me recusar a vender roupas, tintas ou tabacaria só porque uma pessoa é pichadora, eu não pergunto o que vão fazer com o que estão comprando, porque não me diz respeito isso”, explica.

Sobre a alegação da venda de produtos que fazem apologia ao uso de drogas, João esclareceu que o que ele vende são artigos relacionados ao fumo “O que eu vendo aqui, várias lojas grandes vendem, que são produtos para tabacaria comprados com nota fiscal, que normalmente são vendidos em lojas de shopping sem problemas”, explica João. A polícia também apreendeu roupas com a representação da folha de maconha, que, por lei, não é considerado crime, já que as pessoas têm o direito de manifestar livremente a ideia de liberação do uso da erva, como na marcha da maconha, por exemplo.

Além desses produtos, a PM levou todos os itens encontrados, até mesmo as peças da ‘Real Grapixo’, marca da loja. A principal queixa de João Marcelo é que eles fizeram tudo sem solicitar suas notas fiscais e a comprovação de pagamento de impostos, que estão em dia. Apesar disso, seus produtos estão apreendidos na Delegacia do Meio Ambiente e ele não teve a chance de apresentar a documentação legal de seus itens, “Levaram todas as roupas da Real Grapixo, essa parte eu não entendi, porque elas não tem desenho de drogas!”, salienta.

João, ou “Goma”, assume que já fez pichações pela cidade mas que não tem nenhum envolvimento com Maru, o pichador da Igreja da Pampulha, “Tudo o que acontece na cidade de pichação, a polícia vem a mim e me dá duas opções: ou eu ajudo dedurando quem pichou tal lugar ou a polícia me envolve na situação, e ta sendo assim desde 2009. O caso Maru foi assim, ele pichou lá, no outro dia a polícia veio aqui e me deu duas opções: ou falava quem era o Maru e onde mora, ou, iam me levar preso por apologia, levando material da minha loja, e foi o que aconteceu”, diz.

Apesar de Maru ter assumido a culpa da pichação e apenas a sua “tag” ter sido feita nas paredes da igreja, Goma foi intimado pra prestar esclarecimentos na delegacia, a vítima em questão seria a Igreja da Pampulha. “Se isso não for perseguição, eu não sei o que é mais.” completa.

Sobre ser um pichador, ele esclarece que diante de tudo o que tem acontecido, ele desanimou da prática “nos últimos tempos eu desanimei pois minhas pichações sempre foram em prol do povo, com frases de protestos defendendo causas que nem são minhas, por exemplo, sempre tive moto e já protestei por tarifa zero, sempre tive moradia própria e já protestei por pessoas sem lugares pra dormir, o caso Samarco não me afetou e, mesmo assim, protestei.”

“Enfim, estou perdendo noites de sono, colocando minha integridade física em risco, sujando minhas roupas de tinta, criando confusões com minha família, e tudo isso sem ganhar nem um real, e ainda sou obrigado a ver o mesmo povo que eu defendo me chamando de demônio, falando que os pichadores tem tudo que morrer, isso me desanimou da pichação! Hoje tenho minha loja, tenho outros planos, e pretendo cuidar e se importar com minha família e namorada!” exclama.

João ainda registra sua insatisfação com o sistema de correção criminal para menores de idade “dos 14 aos 18 anos eu fui preso umas 6 vezes, e em vez das autoridades me encaminharem, sei lá, pra uma aula de grafite, ou aulas de alpinismo, ou rapel, ou me encaminhar pra fazer um curso pra pintar prédios, sei lá, procurar saber os motivos que eu pichava e tentar me ajudar de alguma forma… Não, foi só repressão, multas, serviços comunitários e prisões, e esse não é o caminho!” finaliza.

O comerciante está sendo acusado de apologia às drogas, formação de quadrilha (juntamente com Maru, mesmo sem ter feito a pichação da Igreja da Pampulha) e crime contra o meio ambiente, a mesma acusação que foi feita contra a Samarco, mas ninguém foi preso. Ele fez um desabafo em seu Facebook sobre o caso:

Jéssica Munhoz

Jessica Munhoz é redatora do Portal Bhaz e responsável pela seção Cultura de Rua.

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