Crítica: Em ‘Julieta’, Almodóvar entrega um melodrama belo e profundo

Divulgação/Ciné +

Assistir a um Almodóvar é como fixar os olhos em uma tela de Monet ou de Rembrandt; cada elemento cenográfico, cada nuance de cor, assim como cada um dos enquadramentos escolhidos são composições indispensáveis à obra – aqui, nada é por acaso.

Em “Julieta”, filme dirigido pelo cineasta espanhol Pedro Almodóvar, a beleza estética salta aos olhos do espectador. Somado a isso, o roteiro (muito bem) adaptado de três belíssimos contos da escritora canadense Alice Murno contribuiu para que Almodóver entregasse, nesse seu vigésimo longa-metragem, uma obra belíssima e profunda.

Destoando dos principais filmes da carreira do diretor espanhol, como “Tudo Sobre Minha Mãe” (1999), “Má Educação” (2003) e “Pele que Habito” (2011), neste último trabalho, lançado no Brasil na última quinta-feira (7), Almodóvar parece mais comedido – dispensa os excessos e a ousadia que marcam a assinatura do diretor. Contudo, menos focado na sexualidade e nas suas excentricidade, em “Julieta”, o espanhol concebe um melodrama quase trivial — a não ser pela profundidade e força que o cineasta imprime no longa.

Julieta (Emma Suárez) vive o drama da separação de sua filha
Julieta (Emma Suárez) vive o drama da separação de sua filha. Imagem: Ciné +

O arco dramático gira em torno da personagem que dá nome ao filme: Julieta (Emma Suárez) é uma mulher já vivida, que está prestes a se mudar para Portugal com o namorado. No entanto, presa ao passado, ela decide suspender os planos (é justamente o passado que dá ritmo ao longa). Nesse sentido, pouco a pouco, o diretor vai nos entregando os elementos necessários para nos envolvermos profundamente no drama da protagonista.

Bem ao estilo de Almodóvar somos levados a conhecer o passado de Julieta (agora, interpretada pela belíssima Adriana Ugarte). As mais esplêndidas cenas do filme estão justamente neste ponto do enredo, quando somos levados a vivenciar o encontro de Julieta com seu amor, Xoan (Daniel Grao), em uma viagem de trem para Madrid. Nesse ponto, o diretor opta por paletas de cores nas quais predominam, sobretudo, o vermelho — remetendo à paixão e à virilidade. Inúmeras referências à artistas plásticos são recorrentes a todo esse núcleo do filme, como telas minimalistas de Richard Serrad, e as esculturas de Miquel Navarro, as quais, na estória, são produzidas pela Ava — pivô das discórdias do casal.

O romanece avassaldor entre Julieta (Adriana Ugarte) e Xaon (Daniel Grao)
O romanece avassaldor entre Julieta (Adriana Ugarte) e Xaon (Daniel Grao) Imagem: Ciné +

Do romance entre Julieta e Xoan, surge a tão amada filha do casal — a qual, mais tarde, se desencontraria da mãe por um longo período. Os doze anos que separam mãe e filha, aliás, é o causador de todo o descalabro na vida de Julieta.

“Julieta” é um filme sobre maternidade que ressalta a figura da mulher de fibra. Um melodrama profundo com  beleza estética e sensibilidade ímpares. Neste longa, Almodóvar reencontra temas recorrente em seus filmes, o qual, desde de “Volver” (2006) o diretor se furtara: a feminilidade e o drama.

Assita ao trailer:

“Julieta é uma das principais estreias da semana e, em Belo Horizonte, está em cartaz no Cineart Ponteio, no Cinemark do Pátio Savassi e no Belas Artes.

Guilherme Scarpellini

Guilherme Scarpellini é redator de política e cidades no Portal BHAZ.

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