Minha Virada Cultural

josé celso martinez corrêa
José Celso Martinez Corrêa morreu aos 86 anos

A Virada Cultural de Belo Horizonte foi pré marcada com uma polêmica. Uma tal ‘Cláusula 8’ em tese proibiria menções políticas da parte dos artistas, durante o evento. Depois de um tantinho de apuração, descobriu-se que, em tese, o que estava proibido seria propagandas de candidatos ao pleito de outubro. Estava então liberado os gritos de #foratemer e #lacerdanuncamais. E isso fez sentido para parte das mais de 500 mil pessoas que estiveram nas ruas entre a noite de sábado e o dia de domingo.

Mas nesse texto, vamos fazer algo diferente. Vamos dar uma olhadela nas impressões deste repórter que foi foliar na Virada Cultural. Evento esse ímpar no cotidiano da capital das Alterosas. É muito lindo ver o centro da cidade ocupado por centenas de atrações artísticas. E gente, muita gente, ansiosa pra se alimentar de cultura.

Comecinho da Virada, 19 horas de sábado. O trânsito estava apinhado. Natural. Parei a distância e comecei a caminhada rumo ao Sesc Palladium. Na minha cabeça, eu estava indo para o show da baiana Karina Bhur. Da qual sou fã. Porém, me equivoquei. O show da Karina estava marcado para o domingo. Acabei dando de cara com o Zimum. E viva os desencontros. O show da banda de Belo Horizonte não foi o que eu esperava, mas o que eu necessitava. A mistura de rap, com rock e até jazz (isso mesmo produção?) agitou o público que se apinhava numa Rio de Janeiro modificada. Ao invés do som das buzinas, o grave do groove. Começava bem a minha epopeia.

zimum
Reprodução/Facebook

E aí se deu a mágica do encontro. Era só ficar parado que se encontrava com os amigos. Um deles vaticinou. “O Galo ganha de 7 a 1 do Flamengo amanhã!” Sonhar não custa nada. Mais alguns minutos, e dei de cara com meu advogado. “Minha carteira da OAB está suspensa!” Eita lelê! Missão 2016: Arrumar outro advogado. Ou, melhor ainda, não precisar de um.

Fiquei lá na Rio de Janeiro mesmo. O show seguinte era do recifense Johnny Hooker. O público cantou junto os hits do artista queer. Performático, que só ele. Mas confesso que estava muito cheio pra minha cabeça. Precisava diminuir a marcha um pouquinho. E sabia pra onde ir.

O destino era a Rua da Bahia nº52. A Arena Sound System. Local onde o reagge, e outros ritmos jamaicanos comiam solto. A caminhada foi longa. E foi de impressionar o tanto de gente que rumava de um palco ao outro. Primeiro descer a rua Espírito Santo. Depois uma curva na Avenida Afonso Pena. Mais gente, muito mais gente. Aí foi cair pro hiper centro. Uma golada e já estava lá, no quarteirão fechado, perto da Praça da Estação. Nela, dava pra se ouvir o volume a último grau. Alto demais pro meu gosto, decide focar no reagge.

Na Arena Sound System, três coletivos tocavam o terror. Uai Sound System, RoodBoss e DeskaReagge. Gente acostumada a colocar o som na rua. No ar, aquela camada pesada de fumaça. Nos tímpanos pedrada atrás de pedrada. As caixas de som berravam, e o público acompanhava cantando aquela do Gil. “Gente estúpida! Gente hipócrita!”. É reagge brasileiro, por que não?

Mas estava atrasado pra minha atração mais esperada da noite. Zé Celso e o O Teat(r) Oficina Uzyna Uzona estavam marcados para começar a meia noite no Grande Teatro do Sesc Palladium. E eu ainda precisava pegar meu ingresso. E tome subida de rua. Pra dar um FIM NO JUÍZO de deus de Antonin Artaud era a peça. E rolou o que podia se esperar. Muito nu, muita escatologia, e um discurso político afiado. “Com a ascensão do fascismo nos tribunais de juízes da verdade única que instauram uma crise política e afrontam a democracia, o Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona leva essa sessão-manifesto para a capital mineira.”

juliana perdigão
Reprodução/Facebook

Saindo mexido da sessão, após o murro no estomago do Zé Celso, patrimônio do teatro nacional, decidi ficar no Sesc Palladium mesmo. Que programação. No foyer do teatro começava o show de Juliana Perdigão e os Kurva, lançando o disco Ó. E o público ficou incontido assim como Juliana, belo horizontina, radicada em São Paulo. Era MPB, era Rock. Foi um showzaço. Mas aí o cansaço começou a bater. Era três e meia da manhã. Hora da decisão. Ia virar na virada?

Decidi dar um pulo na Praça Rio Branco, perto da rodoviária. Lá o pessoal do MasterPlano tocava um som eletrônico sem limites. E no tum tum, da música digital, fiquei meia horinha. O bastante pra curtir as projeções com rostos de políticos sob um pedido de socorro em letras garrafais, que estava sendo montada nos arcos da Praça.

masterplano
Reprodução/Facebook

Por fim, voltei pra casa. Quatro horas da manhã já. Pretendia acordar cedo no domingo. Ver o jogo do Galo, que era vaticinado como 7 a 1. A partida estava marcada para as 11 da manhã. Será que eu aguentaria acordar? Bem, deu pra ver o segundo tempo, almoçar e cair pra Virada. Uma e meia, e eu estava caindo pro centro de novo. Ah, um adendo: O Atlético perdeu de 2 a 0 pro Flamengo. Ganhava mais se eu ficasse dormindo.

mundialito
Reprodução/Facebook

Bem, de volta à Virada, fui direto pro Aquecimento do Mundialito de Rolimã do Abacate. Na Avenida Assis Chateaubriand, os bólidos desmotorizados desciam a rua. Famílias, jovens e coroas de capacete, vivendo um momentinho de infância, em pleno centro da capital. O Aquecimento é uma ação do Mundialito de Rolimã, que há quatro anos, movimenta os outubros, pelas ruas do Salgado Filho.

Já que eu estava perto, decidi cair pras cercanias do Baixo Centro Cultural. Lá, na rua Aarão Reis, ia acontecer o 2º Campeonato de Basquete de Rua do Baixo Centro. O Baixo, pra quem não é familiarizado é parte importante da cena cultural do hiper centro de Belo Horizonte, ficando em frente ao Viaduto Santa Tereza. Aliás, debaixo do Viaduto, onde também estava montado um palco da Virada. E lá, num cantinho, uma tabelinha de basquete era o palco da disputa. A equipe vencedora foram os Duendes. Favor não confundir com Gnomos.

zaika
Reprodução/Facebook

E às 18 horas, debaixo do Viaduto, começava o show da Zaika dos Santos, lançando o cd “AKOFENA”. Um trabalho sobre o racismo, e o empoderamento da mulher negra. Belo show, que envolveu o público, em um lugar que não poderia ser mais simbólico, no que se refere a apropriação do espaço urbano. Foi bacana demais.

Nessa hora, eu já tinha perdido a Karina Bhur mesmo, achei por bem ficar debaixo do Viaduto, pra assistir minha banda preferida da cena cultural de BH. Foi então que começou o festival de pedradas, do ska da Pequena Morte. Em despedida antes de partir para uma turnê européia, os mineiros tocaram sucessos de seus dois discos, Defenestra e o recém lançado Jabuticaba. Já perdi a conta de quantos shows da Pequena eu já assisti. Mas esse foi especial, com o ska gastando a sola do sapato. E pra mexer, é pra revirar.

Oito horas, já poxa? Oito horas. Ainda dava tempo de ver uma última atração. E já que eu estava do lado, fui ver o show da Mulher do Fim do Mundo – Elza Soares. E a vovó não decepcionou. Entronada, ela cantou faixas de seu disco mais recente, além de clássicos do repertório. Uma conclusão com chave de ouro, para as 24 horas de cultura (e política) que tomaram de assalto as ruas de Belo Horizonte, Belory Hills, Hell’s Horizonte. Ainda bem.

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