[Bhaz nas Eleições 2016] Biondini promete monotrilho Savassi-Confins e anuncia transexual em governo

Reprodução/Bhaz

Dentro de quatro anos os belo-horizontinos poderão se deslocar da região da Savassi até o Aeroporto Tancredo Neves, em Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte, sem precisar enfrentar trânsito. A implantação de um monotrilho ligando esses pontos é um dos principais compromissos do candidato Eros Biondini (PROS), caso venha a ser eleito. Ele garante ainda que, tão logo assuma a prefeitura, 100% da população passará a ser contemplada pelo saneamento básico e pelo Programa Saúde da Família. O candidato ainda promete que irá recuperar o prestígio político de Belo Horizonte, afirmando que irá estreitar a relação com as esferas de governo. “Vou me reunir com o presidente [da República] e com o governador [do Estado] uma vez por mês” (leia a transcrição na íntegra).

Para Biondini, caso eleito, a cidade se beneficiará com os resultados de uma política “revolucionária” na recuperação de dependentes químicos, contribuindo para redução dos índices de violência. Ele avalia, contudo, que a atual administração irá entregar a cidade para o próximo prefeito em estado de decadência e revela se sentir decepcionado por ter apoiado Marcio Lacerda (PSB) em eleições anteriores — em 2012, Biondini retirou a candidatura própria para abraçar a campanha do socialista.

Por fim, o candidato afirma que irá valorizar as carreias dos professores e melhorar o sistema municipal e educação, mas, em contrapartida, é taxativo ao se posicionar contrário a qualquer discussão que envolva diversidade de gêneros nas escolas. Ele afasta, entretanto, o estereótipo de ser um candidato conservador — já que integra a bancada religiosa da Câmara dos Deputados —, revelando que terá uma integrante transexual no alto escalão de seu governo.

Músico gospel, deputado federal em segundo mandato e ex-secretário de Estado de Esportes e da Juventude — empossado em 2012, durante a gestão do então governador Antonio Anastasia (PSDB) —, Eros Biondini é sétimo candidato a participar da série de entrevistas realizada pelo Bhaz com os postulantes à Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH).

‘Gestor frio

Eros Biondini quer recuperar o diálogo com os setores da administração pública e promover uma relação de tolerância e de respeito com a população. “Quando o gestor é frio ou quando ele não dialoga com os segmentos, como se diz na gíria, o rebanho fica com a cara do pastor. Você quando tem um patrão truculento, o gerente se torna truculento também”, diz. Nesse sentido, ele espera buscar harmonia em setores antagônicos do município, como por exemplo, proprietários de bares, que são favoráveis à flexibilização da Lei do Silêncio, e associações de moradores, favoráveis ao endurecimento da legislação.

“As associações de moradores não aceitam bares, nem músicos. Os músicos se sentem prejudicados na sua cultura. BH é a cidade do barzinho, a cidade do músico, onde se tem Milton Nascimento, 14 Bis, Jota Quest, Skank. Os maiores cantores do Brasil estão aqui. Então eu acredito em uma cidade harmonizada, em uma cidade solidária. Ela pode ser administrada para todos”, pontua.

Ideologia de gênero

Por outro lado, críticos de Biondini alegam justamente a pouca tolerância, sobretudo no que diz respeito à diversidade de gêneros, como motivação para a criação de um projeto de lei (PL 2731/15), de autoria do deputado federal. A proposta “proíbe a utilização de qualquer tipo de ideologia na educação nacional, em especial o uso da ideologia de gênero, orientação sexual, identidade de gênero” no ambiente escolar. A pena prevista para o professor que descumprir a norma: prisão. O projeto de lei, que já foi retirado de tramitação na Câmara dos Deputados, gerou revolta por parte dos educadores em todo o país.

“Eu sou contra a ideologia de gênero para crianças dentro da escola, porque ainda que fosse uma educação sexual só para hétero também estaria errado. O que a ideologia de gênero está propondo é uma erotização, a partir dos seis anos nas escolas”, avalia. Em contrapartida, o candidato espera se reaproximar da categoria dos educadores buscando o diálogo, garantindo a valorização da carreira do professor e o estabelecimento dos salários de acordo com o piso salarial.

“O respeito que o funcionalismo não está tendo e que precisa ter, o diálogo que eles estão reivindicando, tudo isso será o que eu vou fazer. Eu tenho essa facilidade do relacionamento, do diálogo, de acolher as sugestões de todas as categorias, e principalmente de ter a sabedoria de ouvir os executores da política pública”, diz. “Eles [professores] serão valorizados. O servidor público de maneira geral está no meu plano de governo, ele será totalmente valorizado em seu plano de carreira, ele terá seu salário previsto, com piso salarial”.

Rechaçando o estereótipo de ser um candidato conservador, por integrar a bancada religiosa na Câmara dos Deputados e se posicionar contra o aborto — mesmo em relação às vítimas de estupro — o candidato garante que terá uma transexual em seu governo, liderando as ações voltadas ao público LGBT.

“Se você perguntar se sou contra a pessoa que é transexual ou homossexual, ter o seu direito de se expressar de ser respeitada na escola, sou totalmente a favor. Inclusive a minha política de LGBT, que quem vai conduzir é a transexual Walkiria La Roche, que já aceitou, minha amiga, uma pessoa maravilhosa, muito querida. Essa política prevê total respeito a esse segmento”, declara.

Trânsito

“Eu quero dar fluidez ao trânsito com vias alternativas, já no primeiro mês (de governo). Sinalização para vias alternativas, aplicativo da prefeitura que oriente o cidadão sobre qual o melhor caminho para que ele possa percorrer, a possibilidade de compartilhamento das vias exclusivas de Move com táxis com passageiro. Com isso, nós vamos dar fluidez, nós vamos aliviar o trânsito e aumentar o número de estacionamentos”.

Levantando a bandeira do transporte alternativo, Eros Biondini garante que, assim que assumir o comando da prefeitura, irá abrir um processo de licitação para contratação de empresas interessadas em executar a implantação de um monotrilho na capital, ligado a região da Savassi ao Aeroporto de Confins — um trajeto de 42 km. Segundo ele, os estudos de viabilidades técnica e orçamentária do projeto já foram concluídos.

“Se formos ágeis, se formos céleres, fizermos um chamamento das empresas interessadas, rapidamente elas vão aderir. E aí nós teremos em torno de quatro anos esse trecho ligado”, avalia. Ele explica ainda que, partido da estação do monotrilho na Savassi, outras linhas por onde transitarão veículos leve sobre trilhos, os VLTs, irão se ramificar para outras regiões da cidade. Todo o projeto, conforme prevê Biondini, seria executado por meio das parcerias público-privadas. No entanto, apesar de garantir que já foram feitos os estudos, ele não informou qual seria o impacto orçamentário. “Tudo isso já foi pesquisado. Não é por mim. Nós temos vários especialistas que já mostram a possibilidade de BH ter um trânsito mais fluído”, diz.

O candidato deixa claro, contudo, que a implantação desse modal de transporte não inviabilizaria a execução das obras de expansão do metrô. Para ele, a construção da linha 2 do metrô, integrando as regiões do Barreiro e Oeste, no bairro Calafate, depende exclusivamente de recursos federais, já que o projeto estaria pronto para execução. Se for eleito, segundo ele, os recursos para a expansão do metrô virão para BH.

“Qualquer um de nós que estiver na prefeitura tem que focar na linha 2, que é do Calafate ao Barreiro. Porque já tem terraplanagem, já tem estudos. Está esperando só o recurso que venha do Governo Federal”, explica. “Isso aí é uma habilidade do gestor. De conseguir esses recursos. Teremos que ter habilidade de convivência com o poder estadual e com o governo federal. Eu tenho testemunho disso”, disse, se referindo às emendas parlamentares alocadas por ele em áreas de serviço público em Belo Horizonte.

100% Saúde

Contemplar 100% da população com tratamento de esgoto e com Programa Saúde da Família, do Governo Federal, não implicaria em nenhum centavo a mais em gastos públicos. Para Biondini, é possível amparar a parcela das famílias que estão longe desses serviços básicos somente com controle orçamentário. Segundo ele, hoje, cerca de 14% das residências em BH não têm acesso ao tratamento de esgoto e 16% da população está desamparada pelo programa de assistência à família.

“Óbvio que no meu governo vamos passar isso para 100% de cara. Isso é questão de gestão, de controle e da boa distribuição dos profissionais”, afirma. “A abrangência de 100% da rede de esgoto e do Programa Saúde da Família, isso aí nós temos total condição de dar em curto espaço de tempo e dar às famílias essa dignidade”.

Está previsto ainda no plano de governo de Biondini a recuperação de 2 mil dependentes químicos nos quatro anos de seu mandato. “Eu vou financiar mil vagas por ano no conjunto de comunidade de recuperação que existem no Brasil inteiro e com os quais eu me relaciono. Em quatro anos, nós vamos devolver às famílias, devolver à sociedade dois mil jovens em média. Porque de cada mil que nós ajudarmos, 500 voltarão recuperados. Essa é a média de eficácia dos programas”, explica. “Eu, na minha adolescência, tive esse problema com as drogas e tive uma experiência de recuperação. Eu sei como recuperar, eu tenho feito isso para centenas de jovens”, conta.

Segundo Biondini, a meta poderá ser alcançada com um investimento de R$ 12 milhões, o que considera “um orçamento totalmente possível”. “É mais barato que o viaduto que caiu, que foi de R$ 15 milhões e que não tinha necessidade. Tanto é que não foi construído outro. Então uma ‘economiazinha’ dessa você recupera 500 jovens por ano”. Nesse sentido, o candidato espera reduzir os índices de violência, sendo que, segundo ele, 80% dos crimes cometidos em Belo Horizonte estão relacionados direta ou indiretamente com o tráfico e consumo de drogas.

“Você recupera dois mil jovens que são candidatos à prisão ou ao cemitério, se não forem cuidados. Recupere essas pessoas e você verá o impacto positivo na segurança, na saúde, na evasão escolar e em todas as outras áreas. Então eu proponho algo que é revolucionário para BH e que ninguém propôs até agora. Uma coisa tão simples e que podia hoje estar evitando mortes de tantas pessoas que estão no crack aí sofrendo”, declara.

 Protagonismo político 

Para Eros Biondini, uma das principais falhas da atual administração foi ter perdido o protagonismo político da capital. Segundo ele, caso eleito, já na primeira semana ocupando a cadeira de prefeito de Belo Horizonte, ele irá encontrar com o governador Fernando Pimentel (PT) para reafirmar uma parceria entre governos municipal e estadual.

“Como que um prefeito que mora na mesma cidade que o governador demora um ano e meio para o primeiro encontro com o governador? Então eu não vou esperar nem cinco dias para encontrar com o governador”, critica, fazendo referência ao Marcio Lacerda.

Nesse sentido, Biondini afirmou ter se decepcionado ao apoiar a candidatura à reeleição de Marcio Lacerda, em 2012. Ele conta que a declaração de apoio ao atual prefeito foi um voto de confiança para que o prefeito pudesse concluir as obras que tinha prometido no início da gestão.

“Não vou dizer que arrependi de ter apoiado, mas eu me decepcionei muito. Porque até hoje não temos Hospital do Barreiro, não temos Lagoa da Pampulha, não temos mobilidade urbana, temos a cidade das mais violentas, do trânsito mais caótico, o IPTU mais caro do Brasil, o “faixa azul” mais caro do Brasil, a passagem de ônibus terceira mais cara do Brasil”. Para Eros, o atual prefeito entrega a cidade ao sucessor em estado de “decadência”. “Uma cidade que está decadente, uma cidade maravilhosa que poderia estar muito melhor”.

Confira o vídeo da entrevista na íntegra:

Nascido em Belo Horizonte, Eros Biondini tem 45 anos e cumpre o segundo mandato na Câmara dos Deputados. Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é músico gospel, já foi apresentador da TV Canção Nova e exerceu um mandato de deputado estadual, entre 2007 e 2011. Em 2012, foi nomeado pelo então governador Antonio Anastasia (PSDB) como secretário de Estado de Esportes e Juventude. 

Guilherme Scarpellini

Guilherme Scarpellini é redator de política e cidades no Portal BHAZ.

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