Uma enorme fazenda no Vale do Paraíba. Construções antigas. Lindos campos verdes. Senhoras vestidas com roupa de sinhá. Mucamas. Pessoas negras servindo a todos. Esse cenário parece perfeito para uma novela de época ou para ilustrações de livros de História, no entanto, é o retrato atual de uma propriedade no interior do Rio de Janeiro.
É na Fazenda Santa Eufrásia, em Vassouras, que turistas podem viver esse passado triste e sofrido, mas que se faz presente no casarão. Com horário agendado, pessoas podem visitar o lugar e ser senhores de escravos durante um dia, por preços que variam de R$ 35 a R$ 65. Durante o passeio, negros vestidos de escravos servem os turistas e os guiam por todo o trajeto.
A repórter Cecília Oliveira, do Intercept Brasil, realizou uma reportagem narrando essa experiência. Em entrevista, Elizabeth Dolson, uma das herdeiras da fazenda, contou que gosta de se vestir de sinhá e ser acompanhada de mucamas. “Geralmente eu tenho uma mucama, mas ela fugiu. Ela foi pro mato. Já mandei o capitão do mato atrás dela, mas ela não voltou. Quando eu quero pegar um vestido, eu digo: ‘duas mucamas, por favor!’. Porque ninguém alcança lá em cima.”
A Fazenda foi construída por volta de 1830, poucos anos antes da abolição da escravatura e teve vários donos, até ser comprada pelo Coronel Horácio José de Lemos e passada para os seus descendentes. Ela foi tombada pelo Iphan-RJ (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Rio de Janeiro) e é a única propriedade privada a ter esse título no Vale do Café.
Dona Elizabeth acredita que não há problemas nos serviços oferecidos e que não tem porquê falar de racismo ali. “Racismo? Por causa de quê? Por que eu me visto de sinhá e tenho mucamas que se vestem de mucamas? Que isso! Não! Não faço nada racista aqui. Qual é o problema de ter… Não!”
Santa Eufrásia é indicada por muitos sites de turismo e tem seu próprio endereço eletrônico para apresentar e explicar sobre as visitas. Além disso, há também um vídeo, em que a “sinhá” conta um pouco sobre o local.