Acostumado a marcar presença em palcos da capital e de cidades Brasil afora, o músico mineiro Matheus Brant virou tema de uma canção que tem repercutido nas redes sociais. O motivo? Ele é integrante do bloco Me Beija Que Eu Sou Pagodeiro e recebeu ameaças de um morador do Gutierrez, na Zona Oeste de Belo Horizonte, depois que o grupo realizou um ensaio no bairro. O encontro ocorreu no domingo (22), no mesmo dia em que carros com som alto – sem ligação com o bloquinho – atraíram centenas de pessoas para a região e a Polícia Militar (PM) as dispersou após receber denúncias.
As intimidações recebidas por Brant via e-mail surgiram na segunda-feira (23). Ele se surpreendeu ao ler a seguinte mensagem intimidadora na caixa de entrada do e-mail pessoal: “Garoto Matheus Brant, Nunca mais atrapalhe a tranquilidade da rua Bernardino de Lima, no Gutierrez, com seu desordeiro bloco de Carnaval. Aqui é um bairro de classe média alta. Com pessoas que integram cargos de autoridade nos três poderes”, diz um trecho.
“Não queira arrumar problemas com quem é muito superior a você em influência e justiça. Gostou da atuação da PM hoje? Na próxima vez o serviço da PM será mais completo. Não volte nunca mais. Está avisado”, completa o texto assinado por um homem.
Após ler a mensagem, Brant comentou sobre a situação com amigos e foi aí que o sambinha surgiu, pelas mãos e vocal de outro músico. Sem fazer alarde, nem comentar nada com o amigo, Thiago Delegado publicou nessa terça-feira (24) um vídeo com a canção no Facebook. Com menos de um minuto de duração e em apenas 19 horas de postagem, a gravação ultrapassou a marca de 13 mil visualizações. A letra bem-humorada do samba é o que mais chama atenção.
Os versos de Delegado incluem expressões e termos usados na ameaça direcionada a Brant:
Ao Bhaz, Brant disse não que esperava que o caso fosse repercutir. “Eu não imaginei que o Thiago fosse inventar um samba, mas acho que a ameaça tocou em uma questão sensível”, disse. “E aí as pessoas ligadas ao Carnaval e ao direito de ocupar os espaços públicos reagiram”, argumenta. “O bloco vai sair pela quarta vez esse ano e a programação está mantida, apesar das intimidações”, explica. “Eu sou advogado e outros integrantes do grupo também. Tomamos o cuidado de respeitar o bairro e as pessoas que eventualmente não gostam de Carnaval”, pondera. “Mas nós que gostamos também temos o direito de colocar o bloco na rua”, completa.
Questionado sobre registrar as ameaças na PM, Brant diz que a melhor resposta e ação diante das intimidações têm sido os recados de apoio nas redes sociais. “Eu não pretendo buscar nenhum meio legal contra a pessoa que fez as ameaças. A reação das pessoas nas redes sociais é o melhor recado para essas ameaças. A rua é de todos nós e desde que haja respeito é possível convivermos”, finaliza o músico.
Confusão no Gutierrez
No Facebook, integrantes do Me Beija Que Eu Sou Pagodeiro publicaram uma nota na qual contam ter realizado o ensaio do domingo (22) em um estacionamento fechado. Os organizadores do bloco ainda publicaram um vídeo que mostra o espaço reservado para o grupo. As imagens também exibem a rua em frente ao local tomada por centenas de pessoas.
“O Bloco Me Beija Que Eu Sou Pagodeiro esclarece que não tem nenhuma ligação com os carros de som espalhados pela Av. Francisco Sá, durante o dia de hoje. Nosso ensaio aconteceu de forma tranquila e harmoniosa num Estacionamento, na mesma rua, número 1001, com portas fechadas, onde arrecadamos fundos para o nosso cortejo que acontecerá no próximo mês. Somos a favor de um carnaval limpo, cheio de amor, alegria, e acima de tudo, com muito respeito ao próximo”, diz o texto.