Unidos do bloquinho da tristeza! Descubra o que é a famosa depressão pós-Carnaval

Reprodução/CanalAneliseQuerino

Os bloquinhos não estão nas ruas, nada de glitter ou fantasias: “Todo Carnaval Tem Seu Fim”, já anunciava a banda Los Hermanos com a canção homônima lançada ainda em 2001. E o encerramento da festa, considerada uma das maiores do planeta, parece ter mexido com os ânimos de muitos foliões. Nas redes sociais, entre lamentos e reclamações, internautas já declaram esperar pela folia em 2018 e alguns deles falam até em “depressão pós-Carnaval”.

Mas o que dizem os especialistas? O fim das festividades seria capaz de gerar a condição médica que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais contribui para a incapacidade no mundo? O Bhaz conversou com uma psicanalista e um psicólogo para tentar descobrir.

Reprodução/Twitter

 

Para Cláudio Paixão, doutor em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP), a tristeza sentida por muitas pessoas após o Carnaval é uma condição natural. “Quando se pensa em depressão você pode imaginar um vale. O Carnaval é o contrário, é um pico, uma elevação”, diz o professor que dá aulas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Quando se vive um agito, um momento de exacerbação e se volta para a rotina essa tristeza pode acontecer. Quem de fato é depressivo se deprime independentemente do contexto externo”, explica.

“A pessoa se entrega à festa e no momento de confrontar a realidade se sente perdida. Já a pessoa deprimida pode se deprimir ainda mais durante as festas, já que não consegue se vincular ao outro e acaba presa aos próprios sentimentos”, pondera. “É o mesmo caso da ‘depressão’ na segunda-feira logo após um fim de semana maravilhoso. Acredito que essa expressão (depressão pós-Carnaval) tenha surgido no imaginário popular”, disse.

Cenas do filme ‘As Horas’ (2002), do diretor Stephen Daldry
O longa indicado ao Oscar conta a saga de três mulheres depressivas em tempos diferentes
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Membro da Associação Mundial de Psicanálise (AMP) e Escola Brasileira de Psicanálise (EBP), Cristiane Barreto também diz não haver embasamento conceitual para a “depressão pós-Carnaval”. Ela concorda com Paixão ao explicar que a tristeza e o sentimento de ausência relacionados ao fim do Carnaval dizem respeito a um distanciamento da realidade. “Não se pode dizer que é um grande fenômeno que afeta milhares de pessoas”, afirma. “Esta mais associado a um distanciamento da realidade cotidiana. No Carnaval, as pessoas podem se despir das próprias máscaras e viver de forma mais intensa. Com o fim do período e das alegrias em alta, os sujeitos podem mesmo se deparar com uma ausência”, conta a psicanalista.

Para Cristiane, é importante ressaltar que a depressão e a tristeza não são a mesma coisa. “A depressão é uma patologia recorrente e não se iguala à tristeza. Depressão é uma patologia recorrente que afeta milhares de pessoas”, conta. “As pessoas precisam saber que até essa obrigação de ser feliz todos os dias, como se a vida fosse um eterno Carnaval, é algo contemporâneo, mas que não faz muito sentido. O cotidiano é feito de algumas amarrações, de rotina, e precisa ser enfrentado, assim como as relações interpessoais e profissionais”, pondera.


A especialista ainda sugere que os foliões mais tristes com a despedida do Carnaval, e ansiosos pela próxima festa, façam uma reflexão. “De tempos em tempos se tira férias, se sai para aproveitar alguma diversão. O sujeito pode experimentar ser fiel a ele mesmo e se perguntar ‘quais fantasias eu ainda estou vestindo e por que estou me sentindo mal?”, disse.

O professor Cláudio Paixão faz coro. “O pós-Carnaval, assim como a segunda-feira, só é ruim para quem não aproveita a semana, não se diverte e não se colore todos os dias”, afirma. “Eu diria para que essas pessoas tentem transformar a rotina aos poucos, ter uma vida mais preenchida de coisas boas. Cada pessoa é responsável por encher a própria vida de coisas boas, desde uma leitura a conversar com alguém que goste”, indica. “Procurar se sentir bem, sentir o gosto das pequenas coisas e não aproveitar apenas o Carnaval, somente as festas”, finaliza.

Brasil é recorde de casos de depressão na América Latina

Cerca de 5,8% da população brasileira sofre de depressão – um total de 11,5 milhões de casos registrados no país, segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O índice é o maior na América Latina e o segundo maior nas Américas, atrás apenas dos Estados Unidos, que registram 5,9% da população com o transtorno e um total de 17,4 milhões de casos.

Em “Her”, o personagem Theodore é depressivo e se apaixona por um sistema operacional
O filme do diretor Spike Jonze foi lançado em 2014
Reprodução/Annapurna Pictures

De acordo com a OMS, o número de pessoas vivendo com depressão está aumentando – 18,4% entre 2005 e 2015 – . A estimativa é que, atualmente, cerca de 322 milhões de pessoas de todas as idades sofram com a doença em todo o mundo. O órgão alertou que a depressão é a principal causa de incapacidade laboral no planeta e, nos piores casos, pode levar ao suicídio.

O levantamento mostra que, além do Brasil e dos Estados Unidos, países como Ucrânia, Austrália e Estônia também registram altos índices de depressão em sua população – 6,3%, 5,9% e 5,9%, respectivamente. Entre as nações com os menores índices do transtorno estão Ilhas Salomão (2,9%) e Guatemala (3,7%). A prevalência na população mundial, segundo a OMS, é 4,4%.

Com Agência Brasil

Roberth Costa[email protected]

De estagiário a redator, produtor, repórter e, desde 2021, coordenador da equipe de redação do BHAZ. Participou do processo de criação do portal em 2012; são 11 anos de aprendizado contínuo. Formado em Publicidade e Propaganda e aventureiro do ‘DDJ’ (Data Driven Journalism). Junto da equipe acumula 10 premiações por reportagens com o ‘DNA’ do BHAZ.

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