‘Prepare-se, porque os ataques ao senhor serão mais fortes’, disse Lula a Moro; confira a íntegra do depoimento

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Ao fim de quase cinco horas de interrogatório, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ao juiz Sérgio Moro que tenha recebido vantagens indevidas da OAS e disse ser alvo de perseguição pelo MPF (Ministério Público Federal), Judiciário e imprensa. Ele admitiu, porém, ter se encontrado com ex-diretor da Petrobras e um empreiteiro investigado pela Polícia Federal — o objetivo do encontro, segundo delatores, seria acerto de propina.

“Tinha vários boatos no jornal de corrupção, de conta no exterior. Pedi para o Vaccari [tesoureiro do PT] trazer o Duque para conversar. A pergunta que eu fiz para o Duque foi simples: tem matérias nos jornais, tem denúncias de que você tem dinheiro no exterior, pegando da Petrobras. Você tem conta no exterior? Ele disse: ´Não tenho´. Acabou. Não mentiu para mim, mentiu para si mesmo.” Duque foi condenado a 57 anos de prisão.

Por outro lado, o MPF sustenta que Lula participou de esquema de desvios na estatal, além de ter recebido da OAS R$ 3,7 milhões. Parte desse valor, aliás, teria sido pago com um tríplex em Guarujá, litoral de São Paulo.

O tríplex

“Fui ao apartamento ver e coloquei 500 defeitos. Voltei e nunca mais conversei com o Léo [Pinheiro, ex-presidente da OAS], sobre o apartamento”. Com essas palavras, Lula afirmou que nunca teve intenção de adquirir o imóvel no litoral de São Paulo, até porque, segundo ele, “a dona Marisa nunca gostou de praia”.

Em 2014, porém, a ex-primeira dama esteve no local. Questionado, Lula respondeu a Moro: “Eu não sei se o senhor tem mulher, mas nem sempre ela pergunta para gente o que vai fazer”.

Perseguição

Lula atribuiu reportagens publicadas pelos principais veículos de comunicação do país como atos de “demonização”. “De março de 2014 para cá, são 25 capas da [revista] ‘Isto É’. A [revista] ‘Veja’ tem 19 capas. E a [revista] ‘Época’, 11 capas. Demonizando o Lula”, avalia.

“‘O Globo’, que é o mais amigo [em tom de ironia], tem 530 matérias negativas contra o Lula e 8 favoráveis. O ‘Estadão’, que é mais amigo ainda, tem 318 matérias contrárias e 2 favoráveis. Aliás, esses jornais parecem que têm mais informações do que alguns advogados”, completou.


Ainda conforme dados citados por Lula, se somadas as edições do “Jornal Nacional”, da Rede Globo, durante esse período, 18 horas seriam de reportagens sobre ele. “Sabe o que significa 18 horas falando mal de um cidadão?”, indagou. “Significa 12 partidas de futebol entre Barcelona e Atlético de Madrid”, respondeu ele mesmo.

Alfinetando Moro

A maior parte do interrogatório — 3 horas e 20 minutos — foi de perguntas respondidas por Lula para a Sérgio Moro. O réu, aliás, chegou a alfinetar o magistrado, por diversas vezes, durante esse tempo.

Para Lula, uma das causas da morte de Marisa — morta após sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral) em fevereiro último — teria sido “a pressão que ela sofreu”.

Ainda durante o interrogatório, Lula inclusive chegou a lembrar o episódio em que Moro foi responsável por definir os termos finais para a soltura do doleiro Alberto Youssef, no final de 2016. Ao ser questionado se sabia do esquema de desvios da Petrobras ele respondeu: “O senhor soltou o Youssef e mandou grampear. O senhor poderia saber mais do que eu”.


Em tom de ameaça, Lula ainda alertou o juiz: Esses mesmos que me atacam hoje, se tiverem sinais de que serei absolvido prepare-se, porque os ataques ao senhor vão ser muito mais fortes”.

Moro rebateu: Já sou atacado por bastante gente, inclusive por blogs  que supostamente patrocinam o senhor”.

Próximos passos

O interrogatório de Lula finaliza a fase de audiências com réus — são sete no processo em que Lula é acusado. A partir de agora, Moro deve conceder um prazo para que a defesa e a acusação se manifestem sobre o interrogatório com réus.


De posse das alegações finais, o magistrado, enfim, decide se condena ou absolve os acusados. Não há prazo determinado para que isso ocorra. Em caso de decretada a prisão, os réus ainda poderão recorrer.

Guilherme Scarpellini

Guilherme Scarpellini é redator de política e cidades no Portal BHAZ.

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