Cecília, de 4 anos, foi reanimada pelos médicos, mas não resistiu; agora está entre as vítimas de Janaúba

Cecília viveu menos de 24 horas depois de ter sido reanimada

Em tragédias, como a de Janaúba, o limite entre a vida e a morte costuma ser muito tênue. A menina Cecília Divina Gonçalves, de apenas quatro anos, é a prova disso. Ela teve 80% do corpo queimado e estava internada no Hospital da Santa Casa de Montes Claros, no Norte de Minas, e ontem chegou a ser dada oficialmente como morta pelo Corpo de Bombeiros e pela assessoria de imprensa do hospital.

Mas hoje pela manhã, a Polícia Militar negou que ela tenha falecido. Segundo a PM, houve um erro de avaliação médica, pois a menina, que estava em parada cardíaca, foi reanimada após sucessivas manobras de reanimação cardiopulmonar e conseguiu sobreviver. Mas ela permaneceu menos de 24 horas viva. No início da tarde de hoje, à 13h15, Cecília não resistiu aos ferimentos e  acabou falecendo. Além de dela, hoje à tarde também faleceu a menina Yasmin Medeiros Salvino, de quatro anos.

Com Cecília e Yasmin, sobe para sete o número de crianças mortas do ataque à creche em Janaúba. Outras cinco morreram ontem: Juan Pablo Cruz dos Santos, Luiz David Carlos Rodrigues, Ruan Miguel Soares Silva e Ana Clara Ferreira Silva, todas de 4 anos, além de Renan Nicolas dos Santos Silva, de 6 anos, que também não resistiu às queimaduras e morreu quando era transferido para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII  (HPS). Também morreram o autor do ataque, o vigia Damião Soares dos Santos, de 50 anos, e a professora Helley Abreu Batista, de 43 anos. Total de mortos na tragédia, incluindo os dois adultos: nove.

Crime foi premeditado, afirma Polícia Civil

Segundo as investigações da Polícia Civil, o crime foi premeditado pois, através de diligências, foram encontrados, na residência de Damião, galões com combustível. Também foi apurado que Damião marcou simbolicamente a data, pois há três anos seu pai faleceu. Ele também disse à família, na última terça-feira (3), que daria um presente a todos, matando-se em breve.

As investigações também apuraram que ele tinha problemas mentais e era obcecado por crianças. Além de todo o trabalho de inteligência e perícia realizado para apurar a premeditação do crime, o helicóptero da Polícia Civil está à disposição para atendimento às vítimas. O Chefe da Polícia Civil, Delegado-Geral João Octacílio Silva Neto, foi para a cidade de Janaúba, junto com o Governador, e acompanhou as investigações e os serviços da PCMG.

Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese), por meio de sua Diretoria Regional em Montes Claros, está dando todo apoio às famílias das vítimas da tragédia ocorrida em Janaúba, Território Norte. O governador Fernando Pimentel, que esteve em Janaúba, decretou luto oficial de três dias em todo o estado.

Ainda na quinta-feira, a secretária de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social, Rosilene Rocha, que acompanhou o governador e a presidente do Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas), Carolina Pimentel, em visita às vítimas e familiares, determinou todo o empenho da diretoria regional.

Segundo Soledade Queiroz, diretora da Regional da Sedese em Montes Claros, oito famílias foram acolhidas em uma casa cedida no município pelo Colégio Marista. Além da alimentação e auxílio logístico para o deslocamento para Janaúba e Belo Horizonte, onde vítimas estão internadas, os familiares contam também com apoio psicológico, que é prestado com o auxílio da Faculdade Pitágoras.

Materiais doados em favor das vítimas dos familiares em Janaúba

Relembre o ataque

O autor do ataque era segurança da instituição e ateou fogo em alunos e, na sequência, incendiou o próprio corpo. Informações dão conta de que o homem abraçou algumas crianças enquanto queimava, para fazer mais vítimas. O ataque comoveu a todos e, devido à gravidade, mobilizou o governador de Minas Gerais Fernando Pimentel (PT). Ele foi para Janaúba acompanhar as investigações e determinou a “mobilização de todas as forças de saúde pública e de segurança do Estado nas operações de resgate e salvamento das vítimas”.

No horário havia 75 crianças e 17 funcionários na escola. Ao menos 43 pessoas permanecem internadas, entre hospitais de Janaúba, Montes Claros e Belo Horizonte, sendo quatro adultos e 39 crianças.

O médico responsável pela equipe médica que atendeu as vítimas, Helvécio Albuquerque, disse que graças à “atuação conjunta de polícias, Corpo de Bombeiros, profissionais da saúde e de voluntários, além da sociedade civil, foi possível fazer todos os atendimentos e encaminhamentos necessários”.

Segundo Albuquerque, além do atendimento imediato, as vítimas vão precisar de uma série de cuidados, devido às queimaduras, e de acompanhamento psicológico, tanto para as vítimas quanto para as famílias. Segundo Albuquerque, quatro pessoas estão com 80% ou mais do corpo queimado, sendo que queimaduras que atingem acima de 70% do corpo são consideradas gravíssimas.

A prefeitura reforçou a necessidade de doações, que servirão tanto para questões imediatas quanto para garantir a qualidade do acompanhamento futuro das vítimas e famílias. Até o momento, foram arrecadados R$ 177 mil. A prestação de contas deverá ser feita mensalmente ao Ministério Público.

Governador Fernando Pimentel esteve em Janaúba, onde visitou familiares e vítimas do ataque à creche (Manoel Marques/Imprensa MG

Prefeitura de Janaúba divulga nota

Em nota divulgada hoje (6), a Prefeitura Municipal de Janaúba pede o apoio da população. Os Hospitais Regional e Fundação de Assistência Social de Janaúba (Fundajan) precisam de doações de luvas de procedimento, dipirona injetável, soro fisiológico, agulhas, morfina, entre outros. Além de água mineral, roupas para crianças e roupas de cama. As doações podem ser entregues na própria prefeitura. O órgão também recebe doações por transferência bancária.

Ontem (5), em nota, o Ministério da Saúde informou que irá ajudar no que for preciso, desde o custeio ou envio de materiais hospitalares, bem como apoio técnico para a o tratamento dos casos. Nas redes sociais, pessoas relatam que as famílias estão precisando de apoio. “Tem muitas crianças sendo trazidas pra BH e as famílias que acompanham estão vindo sem nada, só com a roupa do corpo mais”, diz uma usuária do Twitter.

A prefeitura pede ainda que as pessoas não postem nem compartilhem fotos. “Isso só aumenta o sofrimento. Vamos orar por todas as vítimas e suas famílias. Janaúba precisa desse apoio”.

Em nota, o ministro da Educação, Mendonça Filho, manifestou pesar pela tragédia e disse que a educação infantil e o país estão de luto. “Reafirmamos nosso compromisso na busca pela melhor formação para todas as equipes da Educação Infantil – desde a professora, o professor, e todos os profissionais de creche, para que as crianças que chegam ao mundo pelo Brasil possam ter todos os seus direitos assegurados”, disse o ministro.

Eliza Dinah

Jornalista e redatora do portal Bhaz

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