Minas lidera produção de peixes ornamentais no país; atividade é paixão de veterinário em BH

Criatórios mineiros estão concentrados na região da Zona da Mata

Tudo começou na década de 70, quando o agricultor Paulo Bráz viu na produção artesanal de peixes a opção de melhorar a renda de sua família. Daí em diante, a Zona da Mata mineira transformou-se em um verdadeiro criatório. Hoje, a região é a maior produtora de peixes ornamentais do Brasil, respondendo por cerca de 70% da produção nacional.

Ana Carolina Castro Euler, diretora da Aquacultura, afirma que a piscicultura ornamental é o carro-chefe de aproximadamente 400 famílias em sete municípios da Zona da Mata: Muriaé, Vieiras, São Francisco do Glória, Miradouro, Eugenópolis, Barão do Monte Alto e Patrocínio do Muriaé. Destes criatórios saem aproximadamente de 100 a 150 mil peixes mensalmente.

Como o próprio nome sugere, a principal função desse tipo de peixe é a de ornamentar ambientes, proporcionando sensação de tranquilidade. “Estudos comprovam que a presença de aquários proporciona sensação de bem-estar, descanso e contemplação. Tanto que, em alguns países, os hospitais instalam aquários para proporcionar relaxamento ao paciente”, afirma.

Nos Estados Unidos, hospitais instalam aquários nos quartos para que tragam tranquilidade aos pacientes (Maick Hannder/Bhaz)

Peixe também pode ser um animal de estimação

Mas, engana-se quem pensa que o peixe ornamental se presta somente ao descanso da mente. “O peixe também é um animal de estimação. Por isso, é preciso desconstruir a ideia de que o peixe ornamental é descartável. Se ele morrer após três meses da compra, por exemplo, será devido à falta de cuidado. Ele tem que ser bem alimentado e necessita estar em um local adequado”, diz Ana Carolina.

Para que Minas Gerais se tornasse o maior produtor do país, Ana Carolina conta que o governo do Estado trabalhou no fomento, divulgação e apoio ao setor. “Desde 2014, a Secretaria de Estado de Agricultura vem apoiando e incentiva a cadeia produtiva por meio de palestras, cursos, simpósios, exposições e concursos nacionais dos peixes betta e guppie”, conta.

Além destes eventos, reuniões com representantes dos produtores são, segundo ela, realizadas rotineiramente para levantar as demandas necessárias pela categoria para que o governo possa trabalhá-las. Isso é feito, de acordo com Ana Carolina, pela Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Minas Gerais (Epamig), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater) e Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), a partir do tripé assistência técnica, pesquisa e sanidade aquícola.

Ana Carolina Euler e Leonardo Kalil, superintendente da Seapa (Reprodução/Agência Minas)

Por conta disso é que, segundo ela, a demanda por peixes ornamentais é maior que a oferta, e isso tem estimulado o crescimento do setor em Minas. De acordo com números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas em 2016, a atividade apresentou crescimento de 61%, segundo Ana Carolina, que também destaca a boa performance dos produtores mineiros em competições realizadas tanto a nível nacional quanto internacional. Pensando nisso, o governo de Minas prepara uma equipe para representar o Estado no Concurso Mundial de Peixes Ornamentais, que será realizado no Rio Grande do Norte, em 2018.

Também para incentivar o setor, o governo de Minas Gerais pretende incentivar a implantação de aquários em ambientes como hospitais, casas de recuperação de crianças que realizam tratamento oncológico, asilos, casas de abrigo infantil e ONGs que trabalham com crianças em situação de vulnerabilidade social. A intenção é fomentar a atividade aquícola, inicialmente, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

Peixes ornamentais são comercializados por valores que variam de R$ 30 a R$ 400 o par no criatório de Semir Campos, em Belo Horizonte (Maick Hannder/Bhaz)

Do hobby à criação profissional

“Desde que me entendo por gente, adoro peixes”. Assim o veterinário Semir Campos, 52 anos, define sua relação com este tipo de animal. Em sua residência, no bairro Caiçara, região Oeste de Belo Horizonte, o veterinário mantém, desde 2015, um criatório com 140 aquários, nos quais cria peixes da raça guppie.  Semir recebeu o Bhaz e relatou que, para tornar viável o negócio, ele alia o conhecimento que possui ao amor pelos peixes. Na implantação do empreendimento, investiu R$ 30 mil.

Ele optou pela atividade após analisar o mercado de peixes ornamentais e perceber que, como não havia um fornecedor local e os peixes vinham de outros locais, os animais já chegavam aqui estressados, situação que contribuía para a redução de seu tempo de vida. “A partir daí, resolvi montar meu negócio”, conta ele. Antes, Semir participou de seminários e cursos. Foi, então, que, juntamente com seu filho, ele implantou o criatório, onde comercializa os peixes por valores entre R$ 40 a R$ 300 o par.

No sistema onde os peixes ficam, a água é recirculada e só há a reposição da que é evaporada. Como ela é aquecida pela energia solar, o veterinário alia rentabilidade ao desenvolvimento sustentável. Para que os peixes tenham cores atraentes e caudas diferenciadas, é necessária a alteração na genética do animal. Durante dois anos, Semir dedicou-se a esse trabalho. “No nosso sistema aliamos criatividade e conhecimento. Com isso, criamos um ambiente acolhedor para os peixes”, explica.

Alimentação é um dos pontos que demandam maior atenção. Semir Campos diz que alimentação em excesso pode matar o peixe (Maick Hannder/Bhaz)

Limpeza é um aspectos que mais merecem atenção

A limpeza dos aquários é um dos pontos que mais requer a atenção de Semir. “Água e fezes não combinam. Por isso, há um sistema de filtragem que separa os resíduos. Todo mês, é realizada a vermifugação dos peixes”, conta. A alta taxa de reprodução dos animais faz com que, segundo ele, mensalmente sejam produzidos dois mil peixes em seu criatório.

A alimentação é outro ponto que requer cuidado do produtor. “O que distingue o alimento do veneno é a dosagem. Se for colocada uma alta quantidade de alimento no aquário, haverá a proliferação de bactérias que podem, até mesmo, matar o animal”, alerta. Os peixes ornamentais recebem no laboratório tanto a alimentação industrializada quanto a natural. “Cultivamos em placas o chamado alimento vivo. São pequenas minhocas necessárias para a boa alimentação dos peixes”, diz o veterinário.

Apesar de o aquarismo ocupar o terceiro lugar na categoria animais de estimação no Brasil, Semir destaca que o mercado ainda é carente de várias espécies, inclusive da guppie. O déficit se deve, como ele explica, ao fato de a espécie necessitar de tratamento individualizado, que demanda tempo, além de vários outros cuidados, para que se tornem resistentes. Para fazer com que isso aconteça, Semir busca criar um ambiente que se aproxime das condições naturais exigidas por este tipo de criação.

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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