Suicídios em faculdade de medicina em BH preocupam alunos; ‘pressão muito grande’

Reprodução/Street View

Dois recentes suicídios de alunos do curso de Medicina da Faculdade de Minas (Faminas-BH) acenderam o alerta de alunos e da instituição sobre a saúde mental de pessoas no ensino superior. A situação é semelhante a que assustou alunos do curso de Medicina da UFMG em maio deste ano. Na ocasião, em duas semanas, foram duas mortes e uma tentativa de suicídio de alunos da instituição.

De acordo com informações de integrantes da faculdade, cinco alunos de medicina tentaram contra a própria vida nos últimos 40 dias. Dois deles faleceram. O caso mais recente ocorreu com um aluno do primeiro período do curso nesta segunda-feira (27). A outra vítima era um estudante do sétimo período, que  faleceu no dia 17 de novembro.

Coincidentemente, as mortes foram em períodos próximos às datas de provas. A instituição é acusada por alguns alunos de fomentar o declínio mental dos estudantes. Segundo o diretor do Diretório Acadêmico do curso de medicina da Faminas, Ayrton Paschke, em setembro ele procurou o coordenação do curso para alertar sobre os riscos da sobrecarga.

“Nós sofremos uma pressão muito grande. Parece que a faculdade quer forçar a reprovação dos alunos. Em épocas de prova, costumamos fazer mais de dez provas por semana. Além disso, os professores passam trabalhos e temos que estudar, fazer estágios, etc. É extremamente desgastante. Chegamos a ficar cerca de oito horas por dia na faculdade. Além dos estudos em casa. Isso, somado a problemas pessoais, pode ser insuportável”, diz Paschke.

De acordo com Paschke, alunos chegam a ficar sem dormir. Essa era a realidade do estudante morto nesta segunda feira. Segundo uma parente próxima da vítima, que não quis ser identificada, o jovem já não era o mesmo.

“Ele era uma pessoa feliz, brincalhona e de bem com a vida. Nunca reclamava de nada e sempre estava bem. Era companheiro e muito parceiro dos amigos, tanto que ninguém consegue acreditar. Ele estudava muito, principalmente durante a madrugada. Acordava às 3 da manhã e estudava. Malhava de 5h até 7h e ia para a faculdade. Quando ele voltava, estudava mais. Ele não demonstrava nenhum sinal de depressão, mas não aguentou a pressão do vestibular, dos estudos e da faculdade”, diz a pessoa próxima do jovem que se matou nesta segunda.

Cobrança e falta de diálogo

Segundo o diretor do Diretório Acadêmico do curso de Medicina, uma proposta foi apresentada à coordenação do curso para melhorar a saúde mental dos alunos. “Em curto prazo, sugerimos a inserção de um fim de semana no período de provas. Por exemplo, as avaliações começariam em uma quinta-feira e terminariam na semana seguinte. Isso é feito em todos os cursos da faculdade, com exceção do de medicina. Essa ação aliviaria um pouco, mas nada foi feito”, afirma o diretor.

Além disso, segundo ele, os alunos não conseguem ter um diálogo aberto com a faculdade. Sendo assim, acumulam problemas acadêmicos, de estudos, pessoais e, também financeiros. “A faculdade anunciou que irá aumentar em cerca de R$ 700 o valor da mensalidade. Além disso, se um aluno é reprovado, o gasto com a repetição da matéria pode chegar a R$ 1,2 mil, com a mensalidade podendo chegar ao teto de R$ 9 mil. Isso também aumenta a pressão. Inclusive, nós protestamos contra esse aumento que é incabível”, conta.

Em nota, a faculdade informou que “o reajuste está previsto em contrato particular entre a instituição de ensino e o aluno. A faculdade ressalta que essa variação está em conformidade com a lei que regulamenta as mensalidades escolares no Brasil”.

Faminas-BH

Procurada pelo Bhaz, a faculdade se posicionou em relação ao assunto. Confira na íntegra o que disse a instituição:

É com grande pesar que a Faculdade toma ciência do ato envolvendo alunos e lamenta o ocorrido. A instituição compreende a complexidade e tamanha responsabilidade diretamente implicada no processo de formação dos estudantes, mantendo constante a preocupação para com a qualificação profissional e manutenção da qualidade de vida deles.

Diante de tais inquietações e princípios acadêmicos e pessoais, para apoiar os estudantes, que estão se preparando para exercer profissões, a instituição de ensino oferece serviços como o Núcleo de Atendimento Psicopedagógico (NAP), que promove atendimento psicológico a alunos de todos os cursos, funcionando com horários individualmente agendados. Para questões relacionadas a fé e espiritualidade, há o projeto Pastoral Universitária.

Atenta a demandas, a Faculdade desenvolve o projeto “Escutatória”, com terapias em grupo acompanhadas por um médico psiquiatra e psicólogos. O incentivo ao esporte e lazer também é uma iniciativa de apoio aos estudantes.

Sobre a solicitação de alguns alunos em relação à mudança do cronograma de provas, a Faculdade posicionou, em setembro, que haverá alteração a partir de 2018, visto que o calendário de 2017 já tinha sido aprovado pelos seus conselhos.

Tais iniciativas da instituição reforçam o compromisso e cuidado para com os alunos e demonstram o reconhecimento da multideterminação de fatores relacionados ao ato cometido.

A instituição, enlutada, estuda novas possibilidades de apoio aos alunos, familiares e profissionais que aqui se fazem presentes.

Ajuda

O Centro de Valorização da Vida (CVV) também ajuda com suporte a pessoas que precisem. Você pode entrar em contato pelo número 141 ou pelo site da CVV, o atendimento é feito via chat, email, Skype, 24 horas por dia. Tudo feito sob sigilo.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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