Moradores de Pitangui fazem protesto em frente a agência bancária incendiada

Prédio permanece com paredes cobertas por fuligem e portas fechadas por tapumes

A madrugada do dia 4 de setembro deste ano foi tensa em Pitangui – tiros, explosões, incêndio e carros com sirenes abertas. Quando amanheceu o dia, os moradores da cidade deram do que tinha acontecido naquela madrugada. Encontraram a agência do Banco do Brasil destruída por uma explosão de dinamite e o prédio no qual estava instalada, consumido pelo fogo.

O assalto ao Banco do Brasil não deu certo. Nele, os bandidos usaram uma quantidade maior de dinamite para tentar arrombar o cofre forte do banco. O resultado foi o incêndio que destruiu a agência e, por pouco, não queimou o acervo do Instituto Histórico de Pitangui (IHP), que funcionava no terceiro andar do prédio.

Incêndio foi causado por criminosos na tentativa de arrombar o cofre forte da agência do Banco do Brasil (IHP/Divulgação)

Passados três meses, os moradores de Pitangui ainda se recuperam do trauma. Hoje, o edifício de três andares permanece com suas paredes cobertas de fuligem e as portas fechadas por tapumes de madeira. Mas, como que dispostos a dar a volta por cima, eles fazem, nesta segunda, 4 de dezembro, uma vigília em frente ao prédio incendiado. Neste dia, irão deixar seu protesto na forma de faixas, cartazes e flores. Trata-se de uma manifestação contra a violência e em defesa da história de Pitangui que está sendo convocada pelo Instituto.

O ato conta com o apoio de todas as escolas da cidade, cujos professores, ao longo do dia, levarão os alunos ao local para que eles deixem lá sua mensagem. A manifestação também tem o apoio das duas entidades empresariais do município: a Associação Comercial de Pitangui e da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) que, em nota divulgada nesta sexta-feira (1º), afirmam que o atentado ao prédio trouxe “grandes prejuízos a todos”. As duas entidades pedem a volta do funcionamento da agência do Banco do Brasil e a garantia de segurança para a guarda do acervo do IHP.

O fechamento da agência, causado pelo incêndio, está obrigando os pitanguienses a irem aos municípios vizinhos de Pará de Minas e Nova Serrana para seus fazerem saques em dinheiro. Para o Instituto, o prejuízo maior foi a perda da sede onde estava guardado seu acervo de 45 imagens de arte sacra dos séculos 18 e 19 tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). Hoje, as imagens estão em local seguro, mas mantido em segredo para evitar o risco de roubo. Poucas pessoas sabem onde fica esse local.

Envoltas em plástico bolha, imagens de arte sacra estão guardadas em local seguro, mas que é mantido em segredo para evitar que corram o risco de roubo (IHP/Divulgação)

Imagens de arte sacra são tombadas pelo Iepha

Além das imagens, o Instituto tem um acervo formado por milhares de documentos dos séculos 18, 19 e 20, que, por pouco, não foram destruídos pelo incêndio. Isso só não aconteceu devido à pronta intervenção do G3 Resgate, o corpo de bombeiros voluntário de Pitangui, que debelou as chamas a tempo de evitar que atingissem os documentos.

O acervo contempla um período de 300 anos da história da região Centro-Oeste de Minas. O trabalho de organização dos documentos ainda está pela metade. Chegou até meados do século 19. Do que já é conhecido, sabe-se, por exemplo, que no IHP está o maior acervo de ações de alma do país.

Na ação de alma, alguém que estivesse em débito com outra pessoa ou instituição era chamado à responsabilidade pelo juiz local. Como prova do “acordo”, o devedor era obrigado a fazer uma espécie de juramento no qual empenhava sua alma. Assim, caso descumprisse o compromisso, ele estaria como que a caminho do inferno. Por isso, o nome “ação de alma”.

Acervo de documentos não foi atingido pelo foto. Está guardado, em parte na Biblioteca Municipal, mas sem condições de serem consultados (IHP/Divulgação)

No Instituto está o maior acervo de ações de alma do país

No acervo do IHP estão 1.119 ações de alma, provenientes não só da cidade, mas de toda a região Centro-Oeste de Minas, já que, nos séculos 18 e 19, o município de Pitangui compreendia um território que ia até as imediações do Alto Paranaíba, próximo ao estado de Goiás. Com o passar dos anos, Pitangui teve seu território desmembrado, dando origem a 42 municípios.

Para a presidente do IHP, Maria José Valério, a manifestação desta segunda-feira tem um duplo sentido – de protesto e de conscientização – para que os pitanguienses repudiem a violência e, ao mesmo tempo, trabalhem pela preservação de seus bens, sejam eles uma agência bancária, uma imagem de arte sacra ou um documento histórico. “Tudo isso faz parte de nossa história”, afirma.

Marcelo

Marcelo Freitas é redador-chefe do Bhaz

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