Estácio demite mais de 50 professores sem justificativa e não esclarece denúncias

A faculdade foi comunicada do problema em 2016, mas só em 2018 se manifestou (Google Street View/Reprodução)

Na manhã desta segunda-feira (4) o Centro Universitário Estácio de Sá BH anunciou, internamente, a demissão de mais de 50 profissionais do corpo docente da instituição. A informação pegou alunos e professores de surpresa, já que a faculdade encontra-se em período de provas e bancas de avaliações de trabalhos de conclusão de curso.

Uma professora que não quis se identificar alega que as demissões seriam uma tentativa de desvalorizar o mercado e os professores, utilizando as regras da nova lei trabalhista. “Os professores comparecem presencialmente para que a instituição formalize a demissão. No fim da breve reunião, um funcionário oferece um panfleto de uma empresa que vai ajudar a se reposicionar no mercado. Fica tudo muito claro, essa suposta empresa de reposicionamento vai recrutar professores, contrata-los a preço de banana e oferecê-los às instituições de ensino como Pessoa Jurídica. Simples assim”, comenta a docente.

Pelas redes sociais, vários alunos da instituição se mostraram revoltados contra a atitude da faculdade de demitir os profissionais sem dar suporte aos alunos. Segundo a maioria dos relatos, a Estácio abriu mão de bons profissionais. “Sou aluno do 9° período de direito, no campus Floresta e recebi várias notícias extraoficiais da demissão de alguns professores. Após cobrarmos por explicações, a coordenação do curso nos encaminhou apenas um e-mail ratificando as demissões. Alguns profissionais desligados são os melhores da instituição”, diz o aluno Geyvson Dias.

O Bhaz entrou em contato com a professora Vanessa Lacerda, que também foi desligada da faculdade. Ela ministrava aulas nos cursos de Jornalismo e Publicidade. Segundo a professora, a Estácio ligou para os profissionais na última sexta-feira, por volta das 19h30, anunciando uma reunião com a direção.

“Naquele momento, criamos um grupo com professores e começamos a especular qual seria o motivo da reunião. Nesta segunda, quando chegamos a Estácio, fomos informados do desligamento. Não esperávamos por isso, nem a coordenação do curso estava sabendo. Ainda não entendemos quais foram os critérios utilizados. Alguns professores ficaram mal com a demissão. Agora é aguardar e ver o que vai acontecer”, conta a professora. Convocados, os professores compareceram presencialmente a essa reunião, para que a instituição formalizasse a demissão. No fim da breve reunião, um funcionário oferece um panfleto de uma empresa que vai ajudar a se reposicionar no mercado.

Sindicato repudia demissões

O Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro Minas) anunciou que repudia a demissão em massa realizada pela Estácio de Sá. Em nota, o sindicato disse que essa ação sinaliza um total desrespeito com o corpo docente e com os estudantes da instituição. “O Sinpro está tomando todas as medidas cabíveis em defesa dos direitos dos professores, em um cenário de crescente precarização do trabalho. O Sindicato também reitera a luta por uma educação de qualidade, em defesa da valorização docente”, diz a nota.

A presidente do Sinpro Minas, Valéria Morato, disse que a maneira como a faculdade agiu desconsidera a importância da educação. “Eles priorizam o lucro à educação. Nós estamos acompanhando os professores e já encontramos irregularidades na forma como a faculdade mantinha os profissionais. Há trabalhos e atividades que não foram remuneradas. Além disso, uma professora foi retirada da sala de aula após o desligamento, configurando assédio moral”, diz.

Segundo a presidente, a demissão e a contratação de profissionais em outros regimes podem ser consideradas como fraude. “O objetivo dessas ações é precarizar as relações trabalhistas, priorizando apenas o lucro”, ressalta.

A faculdade tem até esta quarta-feira (6) para agendar no sindicato a homologação dos professores desligados. “O Sinpro Minas está à disposição de todos os professores que foram demitidos. É muito importante que esse processo seja acompanhado pela entidade que representa os interesses do trabalhador”, explica.

Denúncias

Pelo Facebook, diversos professores se solidarizaram com os demitidos da Estácio. A professora professora Renata Alencar disse que as demissões seriam uma tentativa de desvalorizar o mercado para que novos professores sejam contratados com base nas novas regras da lei trabalhista.

Um professor, que preferiu manter-se anônimo, disse que a Estácio registra profissionais em áreas diferentes para manter uma alta pontuação nos critérios do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Por exemplo, um professor de história com um bom currículo é registrado em diversos cursos como moda, jornalismo etc. Desta forma, a instituição mantém-se com um indicativo de qualidade elevado. Entretanto, burlando os critérios.

O aluno de direito Geyvson Dias também denuncia que a instituição estaria mudando o currículo acadêmico dos cursos. “A cada semestre a Estácio transforma aulas presenciais em semipresenciais. Várias disciplinas importantíssimas agora são on-line”, afirma.

Estácio se nega a responder

Entramos em contato com a Estácio de Sá BH para apurar as denúncias levantadas. Porém, a instituição disse que não responderia as questões e encaminhou uma nota oficial. Confira na íntegra:

A Estácio promoveu, ao fim do segundo semestre letivo de 2017, uma reorganização em sua base de docentes. O processo envolveu o desligamento de profissionais da área de ensino da instituição e o lançamento de um cadastro reserva de docentes para atender possíveis demandas nos próximos semestres, de acordo com as evoluções curriculares. A reorganização tem como objetivo manter a sustentabilidade da instituição e foi realizada dentro dos princípios do órgão regulatório. A Estácio segue comprometida com sua missão de Educar para Transformar, oferecendo educação de qualidade a seus alunos.

Centro Universitário Estácio de Belo Horizonte

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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