Foto do Réveillon em Copacabana é a primeira polêmica do ano; o que você vê?

Reprodução/Facebook

Uma foto de uma criança negra dentro do mar no Réveillon da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, virou o centro de discussões relacionadas a racismo e já é considerada a primeira polêmica do ano. O clique foi publicado nas redes sociais pelo fotógrafo Lucas Landau, nesse domingo (31), e tem dado o que falar entre internautas de diferentes partes do país.

Além de expor o garoto, cuja identidade ainda é um mistério, o rapaz tem sido criticado por colocar a imagem à venda mesmo sem saber de quem se trata. Usuários do Facebook também repercutem o fato de que a maioria dos comentários da foto reforça estereótipos ligados à população negra. Isso porque o menino está sem camisa e parece sentir frio, enquanto vê os fogos de artifício. Ao fundo, é possível observar um grupo de pessoas se abraçando. Mas, uma criança negra é, necessariamente, alguém em situação de vulnerabilidade social?

Reprodução/Facebook

“(…) essa fotografia abre margem para várias interpretações; todas legítimas, ao meu ver. Existe uma verdade, mas nem eu sei qual é. me avisem se descobrirem quem é o menino, por favor”, escreveu Lucas na legenda da postagem em que revela a idade do menino: 9 anos. Ao todo, ela já foi compartilhada mais de 5 mil vezes. No Instagram, conta com mais de 24 mil likes.

Para a estudante de História e blogueira Lívia Teodoro, do Na Veia da Nêga, a repercussão da foto expõe a fetichização dos corpos negros. Ela explica ter ficado irritada, principalmente por ser mãe, já que o menino podia não estar desacompanhado no local ou passando por necessidades, como milhares de internautas sugerem. “As pessoas ainda não entenderam que temos direito aos nossos corpos, que nossos corpos não são públicos. Ninguém compra quadros de câmaras de gás ou da 2ª Guerra Mundial e pendura na sala de casa, mas o sofrimento do negro – já que é essa leitura que têm feito da foto –, é algo comercializável, não há indignação”, reflete.


Lívia também diz que associar o garoto a alguém pobre, em situação de rua ou em vulnerabilidade, acompanha a mesma linha de raciocínio de outros esteriótipos racistas. “É a mesma linha de pensamento usada para outros estereótipos: dentro de uma loja a pessoa negra é a funcionária ou vai roubar, o negro é sempre colocado no lugar de serviçal, de criminoso ou daquele que sofre. São lugares perpetuados cotidianamente”, pondera.

A blogueira ainda lembra a nova temporada da série Black Mirror para fazer um paralelo com o interesse provocado pela imagem do garoto na praia de Copacabana. Ela cita cenas do último episódio, Black Museum, como um exemplo da fetichização dos corpos e do sofrimento dos negros. “O ano tem 365 dias e as pessoas em situação de rua estão lá, mas eu não acredito que a repercussão da foto tenha um lado bom. Muita gente diz que abre discussões. Muitas pessoas ficaram sensibilizadas, outras querem fazer quadros, retratos da desigualdade social, mas eu me pergunto: quantas delas saíram de casa para ajudar alguém de verdade?”, questiona.

O Bhaz entrou em contato com o fotógrafo Lucas Landau para falar a respeito da repercussão da foto. No entanto, nenhum retorno foi dado até a publicação desta matéria.

Roberth Costa[email protected]

De estagiário a redator, produtor, repórter e, desde 2021, coordenador da equipe de redação do BHAZ. Participou do processo de criação do portal em 2012; são 11 anos de aprendizado contínuo. Formado em Publicidade e Propaganda e aventureiro do ‘DDJ’ (Data Driven Journalism). Junto da equipe acumula 10 premiações por reportagens com o ‘DNA’ do BHAZ.

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