[Editorial Bhaz] O acinte: ônibus e responsabilidade social da Transoeste perderam o freio

Editorial Bhaz

A língua portuguesa, com seus 435 mil verbetes catalogados, é considerada uma das mais ricas do mundo. Essa riqueza léxica permite uma escolha muito precisa das palavras que se pode usar para designar situações, coisas ou acontecimentos. Entre essas 435 mil palavras, uma pode ser considerada a escolha perfeita do vocábulo que melhor define a postura da empresa de ônibus Transoeste em relação às queixas de seus usuários quanto à segurança de seus veículos: acinte. Apenas para relembrar: no último dia 13, no Barreiro, à noite, um de seus ônibus supostamente perdeu os freios e bateu de frente em um muro matando cinco pessoas e deixando outros 18 feridos. No último domingo, outro ônibus, da mesma empresa, teve sua viagem interrompida devido, segundo denúncia feita por um passageiro, à falta de freios.

Desde segunda-feira, o Bhaz vem tentando obter da empresa uma explicação para o episódio de domingo. Vem tentando saber o que, de fato ocorreu; se o veículo realmente perdeu os freios, como foi denunciado pelo passageiro; ou se a denúncia era inverídica. Diante dos questionamentos do Bhaz, a empresa optou pela pior postura: o silêncio. Chegou ao cúmulo de, ontem, dizer à reportagem que não tinha obrigação nenhuma de dar informação à imprensa ou à sociedade.

É triste um órgão de imprensa ter que vir a público explicar a uma concessionária de transporte coletivo que ela tem, sim, que dar explicações sobre o ocorrido. São várias as razões. A primeira é o fato de ser a Transoeste uma empresa prestadora de serviço público mediante concessão da Prefeitura de Belo Horizonte. Só isso justifica a necessidade de a empresa prestar as informações que lhe são solicitadas. A segunda razão seria de natureza, digamos, humanística. É que todo cidadão, a partir do momento em que entra em um ônibus, no início do dia, tem o direito de chegar vivo ao seu local de trabalho; e esse mesmo cidadão, ao final de sua jornada, tem o direito de chegar vivo em casa, para o reencontro com sua família.

A partir do momento em que uma empresa como a Transoeste opta pelo silêncio em relação à opinião pública, ela faz como que uma confissão de culpa, que obriga o Bhaz a, a partir de agora, trabalhar com o sentido invertido da prova. O depoimento do passageiro aponta que o ônibus de domingo estava sem freios. Assim, a menos que a Transoeste venha a público apresentar a comprovação de que o veículo não tinha problemas em seu sistema de freios, essa é a versão que prevalece. É com essa que o Bhaz está trabalhando, a partir de agora, segundo seus preceitos editoriais. O ônus da contraprova está com a Transoeste.

A gente sabe muito bem que nenhum veículo, seja ele um ônibus, caminhão, ou carro de passeio, perde os freios do nada. Isso só acontece em duas situações: quando o sistema de frenagem é muito solicitado, como por exemplo, em uma descida muito longa e com o veículo carregado com a carga máxima; ou quando seus componentes estão com prazo de validade vencidos. Em nota enviada à imprensa nesta segunda-feira, a BHTrans informou que realiza inspeções periódicas nos ônibus que compõem a frota em circulação na capital, de acordo com sua data de fabricação. Para que não pairem dúvida em relação aos veículos da Transoeste, cabe à BHTrans vir a público informar quando foram realizadas as inspeções periódicas no veículo da denúncia de domingo e se nestas inspeções foi constatada alguma inconformidade.

Até o momento, tanto a BHTrans quanto o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) andam a reboque do que faz, ou deixa de fazer, a Transoeste. Ambos condicionam a emissão de uma posição sobre o assunto ao envio de informações pela empresa. Se a Transoeste não envia as informações, a BHTrans e o Setra-BH alegam, como afirmaram ao Bhaz, que ficam de pés e mãos amarradas para prestar qualquer informação ou emitir opinião. A se manter essa situação, estamos lamentavelmente, caminhando para nivelar por baixo a forma como o cidadão, seja ele usuário ou não do transporte coletivo, é tratado. É nivelar por baixo o descaso, a falta de respeito.

É nivelar, por baixo, o acinte.

Acinte: ação, comportamento, discurso, texto, expressão etc. realizados propositalmente com a finalidade de ofender, incitar ou aborrecer alguém; provocação.

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