Assassinato de vereadora do Psol espalha protestos por todo o país

Na Cinelândia, multidão aguardou a chegada do caixão com o corpo da vereadora

A execução à tiros da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco (Psol), e de seu motorista Anderson Pedro Gomes, na noite dessa quarta-feira (14), teve a força de desencadear um rastro de revolta que ultrapassou divisas dos estados do país e igualou brasileiros em defesa de uma punição rigorosa dos responsáveis. Crítica da intervenção militar no Rio de Janeiro e integrante de uma comissão que acompanhava os trabalhos, Marielle Franco foi lembrada em mais de duas dezenas de cidades que promoveram manifestações emocionadas na tarde desta quinta.

Partidos de esquerda e militantes de organizações sociais também tomaram a praça da Estação, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, num ato que teve início com a reunião de lideranças femininas no Sindicato dos Jornalistas de Minas. Nos discursos emocionados, o tom era sempre o mesmo: indignação e resistência.  A vereadora Áurea Carolina usou suas redes sociais para convocar a população para a manifestação, que ocorreu às 17h, da Câmara Municipal à Praça da Estação. O protesto teve apoio da Gabinetona e Ocupação Carolina Maria de Jesus.

Os servidores da educação, que faziam uma manifestação em prol de melhorias para a categoria, também se juntaram ao grupo que protestava contra o assassinato da vereadora do PSOL no Rio de Janeiro.

No Twitter, um dos temas mais comentados

Durante todo o dia uma multidão se concentrou na praça da Cinelândia, para protestar contra a violência da região. Nas redes sociais, as execuções dominaram o temas. No microblog Twitter, as mortes ficaram em primeiro lugar entre os mais comentados. O termômetro da repercussão do crime no país também pode ser medido durante o enterro de Marielle que aconteceu no fim da tarde de hoje, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, zona portuária.

Depois de ser velado na Câmara Municipal do Rio, o caixão deixou o local sob intenso aplauso e pedidos de justiça. Durante todo o dia, uma multidão engrossou o protesto. Em seu primeira legislatura, quando se elegeu como a quinta mais votada, Marielle, que era moradora da Maré, usou sua cadeira para a defesa dos direitos humanos,  com frequentes denúncias de violações cometidas contra negros, moradores de favela, mulheres e pessoas LGBT.

Apenas um grupo conservador, o Direita São Paulo se arriscou a comentar a morte da vereadora Marielle, que lutava em defesa de negros, moradores de favelas e mulheres. Apoiador de Bolsonaro, o Direita São Paulo publicou: “Essa vereadora do Psol não morreu porque ‘denunciou’ os militares no Rio de Janeiro. Isso é mera especulação da esquerda.” E deu sua versão para a morte: “A vereadora defendeu uma ação eficiente e continua contra a centralização do tráfico e apontou a ineficiência do ataque ao chamado tráfico de varejo. Especula-se que ela foi assassinada por tiros de metralhadora. As forças de segurança pública não têm acesso a essas armas, quem as utilizam são bandidos. Não dá para afirmar que foi o Estado que a matou. A esquerda já pode parar com o vitimismo e com a hipocrisia. Esperemos para ver a conclusão do inquérito.”

“Inadmissível” e “inaceitável”

Diante da repercussão da execução de Marielle, o presidente Michel Temer (PMDB-SP) considerou o crime como “inadmissível” e “inaceitável”. Para Temer, a forma brutal como a morte ocorreu foi um atentado à democracia e ao Estado de Direito. Na verdade, um desafio à intervenção militar no Rio de Janeiro, que completa nessa segunda-feira (19), um mês sem qualquer resultado concreto. Mas uma dor de cabeça para o presidente que idealizou e costurou o ato ao lado do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), enquanto o país curtia a festa de Momo.

Mesmo que o crime tenha desafiado a intervenção que seria a última carta na manga contra a criminalidade organizado no Rio, Temer disse que “a paz e a tranquilidade” serão restabelecidos no local e que este é o motivo da presença dos militares. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, e o diretor da Polícia Federal, Rogério Galloro, vão ao Rio de Janeiro para acompanhar pessoalmente as investigações do assassinato, mesmo com a afirmação da Polícia Civil da cidade de que tem condições de apurar as execuções.

Envolvimento de milicianos

O coordenador criminal do Ministério Público Federal no Rio de Janeiro, o procurador José Maria Panoeiro, disse à BBC Brasil que uma análise inicial do assassinato da vereadora carioca do PSOL Marielle Franco aponta para o possível envolvimento de policiais ou agentes milicianos no crime. Milícias são formadas principalmente por policiais militares, mas também por policiais civis, bombeiros e mesmo integrantes das Forças Armadas, explicou.

Confira as imagens da repercussão do assassinato de Marielle Franco:

Em Belo Horizonte, o protesto foi na Praça da Estação (Reprodução/Facebook)

Em Brasília, o protesto foi na Câmara dos Deputados (Luis Macedo/Câmara dos Deputados)

No Rio de Janeiro, o choro incontido de revolta (Tânia Rego/Agência Brasil)
Em Londres, às margens do rio Tâmisa, a homenagem e o protesto (Reprodução Facebook)

Na Argentina, em protesto por Mariella, as Mães da Praça de Maio voltam às ruas (Mídia Ninja)

Na Suíça, durante show de Gilberto Gil e Nando Reis, brasileiros estenderam faixa de protesto (Midia Ninja)
Maria Clara Prates

Formada em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/MG). Trabalhou no Estado de Minas por mais de 25 anos, se destacando como repórter especial. Acumula prêmios no currículo, tais como: Prêmio Esso de 1998; Prêmio Onip de Jornalismo (2001); Prêmio Fiat Allis (2002) e Prêmio Esso regional de 2009.

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