Os dois lados da moeda: Belas Artes recebe críticas e elogios dos frequentadores

Complexo tem três salas e está próximo da praça da Liberdade

Dos cerca de quarenta cinemas de rua que Belo Horizonte chegou a ter, o cine Belas Artes, inaugurado em 1992 e localizado na rua Gonçalves Dias, próximo à Praça da Liberdade, é o único que resta. O espaço tem um público fiel, que gosta de filmes autorais, popularmente classificados como “filmes de arte”. Porém, entre todas as salas de cinema da cidade, é a que tem a pior qualidade de projeção e também as piores condições de acomodação. Isso (elogio à programação e críticas à qualidade das salas) pode ser comprovado pelos comentários postado na página do Belas Artes na internet.

Há alguns anos, a imprensa chegou a noticiar que as salas seriam reformadas e que o lote ao lado de onde funcionam os cinemas seria adquirido para ampliação do espaço. Também seriam reformadas as atuais salas. Mas quem frequenta o local ainda se depara com a má qualidade do espaço.

Belas Artes é formado por três salas, localizadas na rua Gonçalves Dias, próximo à Praça da Liberdade (Maria Eduarda Faria/Bhaz)

Críticas e elogios

A página do facebook do Cine Belas Artes tem sido espaço para avaliações e comentários, ruim ou bons, acerca do espaço e da programação, por parte dos frequentadores. Atualmente, em uma escola de zero a cinco, o local é avaliado em 4,6 estrelas.

Aparentemente, um resultado muito bom, mas que basicamente é conquistado pelas exibições de filmes diferenciados. Quase que em unanimidade, os comentários elogiam programação do espaço e dizem sentir um carinho imenso pelo mesmo. Mas, há também o outro lado: as duras críticas com relação à estrutura das salas.

Fábio Miranda, de 36 anos, é servidor público e conta que o Belas Artes faz parte da cidade desde que ele se entende por gente. “Minha frequência ao cinema aumentou quando entrei na adolescência e, agora, adulto, ainda mais, já que é um lugar sossegado e tranquilo. Gosto de ambientes assim”.

Fábio Miranda reclama do pouco desnivelamento entre uma fileira e outra das salas (Reprodução/Facebook)

Salas têm pouco desnivelamento

Fábio conta ainda, que as salas não possuem desnivelamento adequado. Então, as fileiras da frente impedem a visão da tela por quem está nas fileiras de trás; as poltronas são desconfortáveis e o cheiro de carpete mofado é muito desagradável. “Se não fosse pelos bons filmes, o cinema não merecia continuar aberto, mas a cafeteria e a livraria são um charme”.

“Acho importantíssimo que o cinema permaneça vivo em Belo Horizonte, já que é um dos únicos cinemas de rua e tem uma programação única e independente. O cinema promove arte e a cultura, estimulando o pensamento crítico e a produção artística fora do circuito comercial de filmes que impera nos cinemas dos grandes shoppings centers”, finaliza.

A psicologa Bruna Castro Alves, também de 36 anos, denuncia a falta de cuidado com o espaço. “As minhas criticas são com relação à manutenção das salas. Cheira poeira; sempre saio espirrando de lá. Com relação à exibição, coincidência ou não, em todos os filmes que fui assistir no último ano, houve problemas na exibição. Parava a imagem, tinham que voltar, tendo sido necessários alguns minutos de espera para isso. Nos banheiros, o espaço e a limpeza deixam a desejar, principalmente em dias de muito movimento. A impressão que fica é que não há investimento”.

Bruna conta ainda, que mesmo diante dessas questões, não consegue parar de frequentar o espaço, e reconhece seu valor. “Seria uma perda imensa para uma capital se ele fechasse. Já é inconcebível que ainda exista somente ele, mas isso talvez reflita o interesse cultural do mineiro, em especial do belo-horizontino”.

Bruna Alves afirma que, apesar dos problemas, não pretende deixar de frequentar o Belas Artes (Reprodução Facebook)

Crise adia investimentos

Adhemar Oliveira, responsável pelo Cine Belas Artes, e Diretor de Programação de mais de cem outras salas no Brasil inteiro, explica que quando assumiu a direção do complexo há quatro anos, apresentou diversos projetos para a melhoria do espaço. Mas pouco depois, a crise pegou todo mundo de surpresa, e foi possível realizar apenas 30% do planejado: foram trocadas as telas das três salas, os projetores agora são modernos e digitais, o café e elevador foram reformados.

“Ainda há muitos planos para o local, mas o momento, ainda de crise, não é ideal para colocar tudo em prática. Espera-se que ano que vem, com a economia melhorando, o projeto volte a caminhar e as obras se iniciem. Já temos os projetos, já temos os desenhos;  falta somente o dinheiro”.

Adhemar Oliveira afirma que 30% dos melhoramentos previstos para as salas foram realizados (Aline Arruda/BA/Divulgação)

O empresário conta, ainda, que recentemente houve diversas tentativas de patrocínio para que fosse possível implementar a melhoria do espaço, mas tem sido difícil conseguir grupos que assumam isso, porque como já foi dito, o momento é de recessão.

Segundo Adhemar, a casa ao lado do cinema já está alugada, sendo a ampliação importante até para acertarmos o jogo da programação. “O espaço está garantido. Faltam patrocinadores”. Também nos planos para o Belas Artes estão um novo café/espaço gourmet e a ampliação dos banheiros. Projetos, segundo ele, ainda sem data para serem implementados.

O café do espaço foi reformado, assim como o elevador e as salas de cinema (Maria Eduarda Faria/Bhaz)

Clube do Professor

Adhemar conta que a operação do Cine Belas Artes hoje, não é lucrativa. E o espaço, único cinema de rua da cidade  não possui apoio nenhum, muito menos do governo. “Mantemos sozinho um espaço que não tem dado lucro, e ainda oferecemos projetos, como o Clube do Professor, que oferece sessões gratuitas de cinema para professores”.

O professor que se cadastrar no clube, receberá uma carteirinha que deve ser apresentada juntamente com o RG durante a retirada de ingresso para o filme e ainda com direito a um acompanhante. O acompanhante deverá estar presente para obter a sua cortesia. Nas sessões de sábado, a entrada é permitida para professores não cadastrados (sem carteirinha) que apresentarem holerit, sem direito a acompanhante.

Para associar-se é simples: basta entrar no site, fazer o cadastro, adicionar o comprovante profissional e a foto 3 x 4 atual. No prazo de dez dias, a carteirinha estará pronta e disponível para retirada. O professor que não retirar a carteirinha no prazo de 6 meses, terá a mesma cancelada.

A cafeteria é um dos atrativos, mas o próximo passo é ampliar o local, com a casa ao lado, que já está alugada (Maria Eduarda Faria/BHAZ)

Espaço para os filmes de arte

Um questão indiscutivel é a qualidade dos filmes exibidos nas salas do Cine Belas Artes. Diferencial que é, inclusive, o que mantém a fidelidade de muitos ao espaço. São filmes, em sua maioria estrangeiros, que fogem da linha hollywoodiana e se aproximam da cinema independente.

Nos últimos anos, vários filmes candidatos ao Oscar foram exibidos no Belas Artes. Porém, não foram todos os filmes. Os blackbusters de super heróis não são exibidos pelo Belas Artes, havendo um limite até onde a programação do complexo vai. Adhemar afirma que a programação não deverá mudar e que, se o Belas Artes exibe filmes candidatos ao Oscar, foi a premiação que mudou o estilo de seus filmes, que acabaram por se encaixar mais na filosofia das salas. “Não o contrário. Não fomos nós que nos encaixamos nos filmes premiados”.

O estilo dos filmes permanecerá o mesmo, garante o gerente de Programação. “A tendência é de permanecermos na linha do filme independente, valorizando a produção nacional, documentários e a animações.

Eliza Dinah

Jornalista e redatora do portal Bhaz

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