As águas extremamente poluídas da Baía de Sepetiba, um porto pujante que fica no Rio de Janeiro, estão matando os golfinhos que vivem na região. Desde o fim do ano passado, pescadores retiravam carcaças dos animais das águas, em algumas semanas, até mesmo cinco por dia.
Os cientistas começaram a investigar e descobriram mais de 200 cadáveres de golfinhos da Guiana, ou botos-cinza, que representa mais de um quarto daquela que já representou a maior concentração da espécie no mundo. Os óbitos registrados são por falência dos sistemas nervoso e respiratório. As causas das mortes são por um vírus transmitido pelo ar somado à poluição da baía, que agora é examinada de perto.
As embarcações de pesca de madeira que atravessam a baía atualmente contornam enormes navios carregados de ferro e aço. Mesmo as pessoas ainda nadando em suas águas, quatro portos e diversas usinas químicas, de aço e industriais apareceram nas margens da baía. A Vale, uma das maiores produtoras e exportadoras de minério de ferro do mundo, ocupa um novo terminal em um antigo ponto de pesca na ilha próxima de Guaíba (RJ).
Os efeitos do vírus, como erupções na pele, febre, infecção respiratória e desorientação, sugerem uma morte agonizante. Golfinhos sofrendo foram vistos nadando de lado e sós. Diversas carcaças tinham deformações exageradas e sangue escorrendo dos olhos. Já foram relatados surtos entre golfinhos em outras partes do mundo, mas este é o primeiro dessa espécie no Atlântico sul.
O golfinho da Guiana, espécie encontrada da América Central ao sul do Brasil, é considerado sentinela porque, como predador no topo da cadeia e mamífero, tende a apresentar doenças ligadas à poluição da água, conta Leonardo Flach, coordenador científico do Instituto Boto Cinza, um grupo de conservação que também está envolvido no rastreamento dos animais. O cientista pediu a criação urgente de uma área de conservação marinha para estudar e proteger a baía.