Na próxima sexta-feira (18), a coordenação de saúde mental da secretaria municipal de Belo Horizonte coloca nas ruas, mais uma vez, a Escola de Samba Liberdade Ainda que Tam Tam, para marcar o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Este ano, os foliões vão homenagear a vereadora do Psol, Marielle Franco, assassinada no Rio há pouco mais de dois meses, e a força feminina.
Cerca de 4 mil foliões antimanicominais da capital e interior vão se concentrar na Praça da Liberdade, a partir das 13h. O desfile com o tema “Atentas e fortes: tantãs sem temer os golpes!” toma as ruas a partir das 14 h, pela avenidas João Pinheiro, Álvares Cabral e Afonso Pena, onde, em frente à Prefeitura de Belo Horizonte será lido o documento manifesto.
Toda essa movimentação acontece há 21 anos em Belo Horizonte para marcar a importância de uma sociedade sem manicômios. A escola de samba este ano sai com seis alas formadas pelos usuários e seus familiares, trabalhadores e simpatizantes da Luta Antimanicomial de Minas Gerais.
As alas serão as seguintes: “Em nossa história de luta, montados num cavalo azul, não temeremos mal nenhum”; “Loucura ambulante contra os arrogantes”, “Que tiro foi esse que feriu o amanhã?”, “Comunidade Terapêutica e outras prisões violam, redução de danos e dá hora!”; “Malditos marionete e bate panela: chega de tanto horror em nossa goela” e “Nada por nós, sem nós!”.
Diversidade feminina
O criador do cartaz vencedor (foto de destaque) deste ano para mobilização foi Juliano da Silva, de 42 anos, que frequenta a rede de saúde mental desde os 18 anos. Ele disse que a inspiração para fazer a arte foi a diversidade feminina, já que o tema foi o assassinato de Marielle e os golpes na política. “Eu fiz 14 rostos femininos e depois parti ao meio e fui misturando para retratar a diversidade”, conta. Ele concorreu com 17 participantes.
Juliano revela que adora as atividades que lhe são oferecidas na rede, especialmente a música, o desenho e a pintura. Ele diz que desenha desde os seis anos e aos 10 compôs sua primeira música. Entretanto, foi na rede que teve a possibilidade de desenvolver suas potencialidades.
Está não é a primeira vez que Juliano empresta sua arte em defesa do tratamento digno para os pacientes. Em 2016, ele foi vencedor do samba enredo e também do cartaz de divulgação do evento. “Este ano eu vou desfilar fantasiado de batman, mas estou ajudando a fazer outras fantasias. Escolhi ele porque é inteligente”, conta realizado.
O coordenador de saúde mental de Belo Horizonte, Fernando Siqueira, disse que toda essa mobilização deixa claro que os usuários da rede podem ser tratados em liberdade. Ele afirma que, ainda, é grande o preconceito da sociedade contra os portadores de sofrimento mental e os manicômios ainda persistem em Minas. “O que queremos mostrar é que é possível oferecer tratamento digno aos usuários em liberdade”, reafirma.
Veja o samba de 2018:
“Vem K, Vem K
Vem pra rua, vem Maluco
LGBTQ sofre
Vem o Negro, vem o Pobre
Marielle(s) em cada morte
Atentas e fortes
Tantãs sem temer a sorte
Pois o nosso norte
É o voto de contragolpe ”.