‘Me falta a coragem que sobra aos caminhoneiros’: Fred, do Cruzeiro, faz texto em apoio à greve

Reprodução/Instagram

Na noite desde domingo (27), o atacante do Cruzeiro, Fred, postou um texto dividido em duas partes em apoio à greve dos caminhoneiros. Em seu perfil pessoal do Instagram, o jogador destacou a luta da classe e também falou sobre a corrupção que assola o país.

A greve dos caminhoneiros chegou ao seu sétimo dia e algumas personalidades começaram a se posicionar. O atacante Fred, do Cruzeiro, afastado por uma lesão, disse em sua postagem que “Estamos diante da maior oportunidade de transformação e mobilização social da história desde o movimento das ‘Diretas Já’, iniciado em 1983, ano em que nasci”.

Veja o texto na íntegra:

Eu quero que o Brasil mude pra melhor. Porém, não me esforço o tanto quanto deveria para que isso aconteça. Me falta a coragem que sobra aos caminhoneiros.

Enquanto isso, fico na torcida para que esses sofridos e destemidos trabalhadores consigam, sozinhos, realizar a mudança que eu sonho em ver no Brasil. Entretanto, sem o apoio de todos nós, a resistência deles tem um limite. E tomara que esse limite seja do tamanho de todas as nossas necessidades.

Me senti representado pela operação Lava Jato, que, na prática, serviu apenas para resolver uma pequena parte do nosso problema mais grave: a corrupção. Apesar da lição, seguimos “obrigados” a conviver com as mazelas governamentais.

Quem dera se os nossos problemas sociais se restringissem somente a alguns partidos políticos. Ficaria fácil de resolvê-los.

Infelizmente, essa doença é crônica e já se alastrou por quase todo o corpo nacional. O famoso jeitinho brasileiro.

Enquanto não tivermos educação suficiente para entendermos que o dinheiro público tem dono (o povo), as maracutaias nunca terão fim. A solução? Transformar a corrupção em crime hediondo, inafiançável.

Não são, nunca foram e nunca serão os caminhoneiros que impedem, impediram ou impedirão a população brasileira de ter acesso aos direitos sociais básicos.

Quem sempre fez isso foram os políticos eleitos pela nossa ignorância e pouco caso com uma arma tão importante e poderosa: o VOTO! Voto que carrega consigo toda a confiança e a esperança de uma nação inteira.

Sinceramente, torço para que essa greve dos caminhoneiros não acabe logo. E mais: tomara que ela atinja em cheio não apenas os mais necessitados, mas, também, pessoas com um padrão financeiro mais elevado, como eu mesmo.

Acredito que só assim haverá mudança de verdade. Digo isso com a propriedade de quem, por inúmeras vezes em um passado não tão distante, já passou por dificuldades até para se alimentar.

Se o governo atender aos pedidos da classe e esse movimento for interrompido, tudo voltará à estaca zero, a exemplo da Laja Jato, que hoje, graças a conchavos, já está perdendo suas forças. Não podemos permitir que isso aconteça.
Não vamos nos esquecer de que uma greve como essa foi capaz de derrubar o governo chileno na década de 70. Se não tive a oportunidade de estudar além da sétima série, hoje me esforço para ler e entender melhor o contexto que vivo

Estou em oração para que Deus nos dê força e coragem suficientes para sairmos da zona de conforto e irmos à luta em busca dos meus, dos seus, dos nossos direitos. E só há uma maneira disso acontecer: tomando as ruas! Nossos filhos serão eternamente gratos a todos nós.

Estamos diante da maior oportunidade de transformação e mobilização social da história desde o movimento das “Diretas Já”, iniciado em 1983, ano em que nasci.

Oportunidade única! Se for verdade que o cavalo arriado só passa uma vez, estamos correndo um sério risco de perdermos a grande chance de combatermos ativamente a corrupção, que rouba, fere, sangra e mata diariamente.

Tudo o que tenho na vida, eu devo a Deus e ao futebol. Porém, “o futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes”.

A bola segue rolando pelos gramados brasileiros como se nada estivesse acontecendo. Um absurdo! Isso está me fazendo lembrar muito a Copa das Confederações de 2013, quando o povo brasileiro invadiu as ruas, literalmente, e não queriam que nós, jogadores da Seleção Brasileira, emitíssemos nossas opiniões.

Terei orgulho de dizer aos meus filhos que, naquele momento difícil da nossa história, eu e meus companheiros nos reunimos na Granja Comary e, por alguns instantes, deixamos de ser apenas jogadores de futebol para desempenharmos um papel muito mais importante: o de cidadãos e patriotas. Não nos omitimos e nos expressamos conforme a nossa consciência mandou naquela hora.

Que país é esse? Digo, sem medo de errar que é um país belo, rico, de um povo guerreiro, trabalhador, hospitaleiro e, sem sombra de dúvida, abençoado por Deus. Estamos todos no mesmo barco. Ou melhor: na mesma boleia de caminhão.

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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