[Eleições 2018] Mares Guia garante fim de ‘privilégios’ e classifica volta do Aeroporto da Pampulha como molecagem

João Batista Mares Guia foi o segundo sabatinado pelo Bhaz (Henrique Coelho/Bhaz)

O candidato ao Governo de Minas pela Rede Sustentabilidade, João Batista Mares Guia, garantiu que vai acabar, caso eleito, com os privilégios concedidos a empresários e setores judiciários pelos governos tucanos de Aécio Neves e Antonio Anastasia, e de Fernando Pimentel (PT). O candidato prometeu cortar todas as isenções tributárias e os benefícios dados ao Poder Judiciário como auxílio paletó, moradia etc. Além disso, o concorrente da sigla da presidenciável Marina Silva atacou o Partido dos Trabalhadores (PT) por sua “falta de ética na política”.

“Tiram dinheiro da educação e da saúde para manter privilégios. Anastasia e Pimentel não sabem dizer não para eles. Vou chamar para negociar e, se eu não conseguir convencer, vou judicializar o caso, junto de outros governadores no Supremo Tribunal Federal, que terá que dizer à nação se quer uma república com igualdade de direitos ou com privilégios”, disse o candidato, em entrevista ao Bhaz, sobre os benefícios recebidos por servidores do Judiciário.

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João Batista respondeu questões relacionadas ao ensino público em Minas; mobilidade; a relação com o irmão Walfrido Mares Guia, acusado de envolvimento no ‘Mensalão Mineiro’; sobre o combate à corrupção; e o uso do aeroporto da Pampulha, fato que ele considera uma “molecagem” com os empresários que investiram em Confins.

Mares Guia, que já foi secretário de Estado da Educação, concorre pela primeira vez ao Governo de Minas e confia que estará presente na disputa de segundo turno com Antonio Anastasia. O candidato foi o segundo sabatinado na série de entrevistas do Bhaz com os concorrentes ao posto máximo do Executivo mineiro. Relembre as diretrizes da cobertura da disputa política deste ano feita pelo portal aqui.

Atraso de salários

Uma das principais preocupações no Estado são os atrasos e escalonamentos de salários implantados pelo atual governador Fernando Pimentel (PT). Para Mares Guia, a responsabilidade é do petista, mas também um resultado dos governos tucanos. “O Pimentel se apresenta como vítima do governo Anastasia, mas ele é vítima dele mesmo e das escolhas erradas que fez. De fato ele recebeu um déficit fiscal de R$ 9 bilhões, mas, como eleito, ele tinha a obrigação de enfrentar o problema. Entretanto, ele perdeu tempo e ainda multiplicou o déficit para uma dívida de R$ 32 bilhões”, diz o candidato da Rede.

Questionado se conseguiria resolver o problema, Mares Guia disse que usará o exemplo dos governos do Ceará e do Piauí, que estipularam um teto de gastos nos estados, para resolver a crise de Minas ainda no seu primeiro ano de gestão, caso eleito.

“Eles enfrentaram dois anos de vaias, dificuldades e greves, mas hoje estão com salários em dia e poder de investimento. No primeiro mês, eu vou parcelar os salários de todo mundo, a começar pelo do governador e das elites que ganham acima de R$ 20 mil, farei o corte de 25% dos cargos de comissão, reduzirei as secretaria de 21 para 15, podendo ser 12, vou renegociar os excessos do Judiciário e fazer uma reforma patrimonial, vendendo imóveis inúteis e mudança sistema tributário. Até o final do meu primeiro ano de mandato eu farei isso para resolver este problema”, garante.

‘Formação de analfabetos funcionais’

Mares Guia classificou a Educação no estado como um sistema de “formação de analfabetos funcionais escolarizados e diplomados”. Ele credita isso ao fato de Minas ter caído na avaliação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). “O governo Pimentel partidarizou a Secretaria de Educação e entregou tudo para o partido e para os sindicatos. Cedeu tudo para a agenda sindical, que não é a dos professores. Só fez política ruim, não dando uma formação continuada ao professor e ao gestor educacional”, afirma.

Segundo ele, a solução para o problema novamente vem do Ceará, onde, na cidade de Sobral, o índice chega a 9.1, enquanto Minas chegou a 6.4 na escala.

“Tem de se investir em um plano semanal de curso com monitoramento de processos, um plano de carreira discutido com a categoria para valorizar a meritocracia com desempenho, garantindo a oportunidade de igualdade e valorizando os professores. Temos que garantir que os melhores sejam referência e tutores do demais. Além disso, vamos inserir a escola integral com tecnologia e artes, como quer a base comum curricular. Essa agenda não foi feita nesse governo”, afirma.

Combate a privilégios

Previso no Plano de Governo, o fim de privilégios, como define Mares Guia, está relacionado ao combate de regalias do sistema judiciário e benesses cedidas pelo governo a empresários. “Em Minas, tem um monte de isenções tributárias que foram concedidas a empresários por Aécio, Anastasia e Pimentel, que não sabem dizer não a quem está lá em cima e tem poder econômico. Eu vou acabar com todas as isenções tributárias. Se capitalismo é mercado, que eles pratiquem no mercado e não sejam tutelado pelo Estado”, atacou.

Quanto ao Poder Judiciário, o candidato da Rede criticou o fato de os servidores criarem uma “casta de privilégios”. “Eles ingressam por meio de concursos recebendo cerca de R$ 30 mil. De repente, acham isso pouco e criam vários auxílios e benefícios que elevam os vencimentos a R$ 50 mil. Deixaram de ser mortal e viraram castas, pois o governo não sabe controlar isso”, disse.

Pampulha x Confins

Questionado pelo engenheiro e consultor em transporte e trânsito, Osias Baptista, sobre o que o governo deve fazer com o aeroporto da Pampulha, Mares Guia disse que não pretende reativar o local para voos interestaduais.

“Quando foi feito o contrato com a empresa que revitalizou Confins, previa-se que ela aumentaria em mais de duas vezes o tamanho da estrutura do aeroporto, modernizando e tornando-o um dos melhores do país. Isso é segurança jurídica. Fazer demagogia e dizer que vai reabrir o aeroporto da Pampulha para voos interestaduais, é molecagem. O que deve ser feito é manter a Pampulha para voos estaduais, ou então reabri-lo e devolver o dinheiro para o empresário que investiu em Confins”, disse.

Meio ambiente e mineradoras

Questionado sobre como estimular o crescimento da indústria mineradora respeitando a sustentabilidade no Estado, o candidato disse que aumentará a taxação sobre as atividades mineradoras e incentivar a pauta ambiental.

“Vou propor aos governadores, junto ao presidente e ao congresso, para elevarmos os impostos sobre a mineração para 10%. Desta forma, as empresas mineradoras que cumprirem a pauta ambiental pagarão 8%; as que tiverem um plano de negócio de diversificação de investimento, para geração de riqueza duradoura, inovação tecnológica e geração de emprego, pagarão 5%. Sempre visando à pauta ecologicamente sustentável”, garantiu.

‘PT não tem ética política’

Mares Guia, que é um dos fundadores do PT em Minas, faz muitas críticas à sigla e, em uma delas, disse que trata-se de “um partido sem ética política”.

Segundo o concorrente, as críticas são dirigidas às cúpulas do PT. “Quando houve o escândalo do ‘mensalão’, em 2005, não houve crítica das elites intelectuais do partido, tampouco das cúpulas sindicais, e não expulsaram os responsáveis. Cadê a ética na política? O que teve foi o silêncio. Resultado é que Lula foi preso e os beneficiados nas eleições e no poder estão soltos por aí”, disse.

O candidato ainda estendeu as críticas ao atual governador do Estado. “Tanto é que Pimentel, que é réu acusado de crimes de corrupção, dispondo da presunção da inocência e do direito de ampla defesa, não consegue convencer nem a si sobre sua inocência e as versões que apresenta sobre as acusações gravíssimas. Mas, ainda sim, ele tem o apoio do partido. Isso é inaceitável, pois o fundamento do PT era a ética. E eu deixei o partido, pois percebi que isso não estava sendo cumprido”.

Relação com Walfrido

O irmão do candidato, Walfrido Mares Guia, foi apontado pelo Ministério Público como um dos coordenadores do ‘Mensalão Mineiro’, que desviou mais de R$ 100 milhões dos cofres públicos. Perguntado sobre a relação com o parente, João Batista garantiu que nada tem a ver com as acusações.

“Não vou entrar no mérito do que aconteceu, pois é assunto da Justiça. As virtudes do Walfrido, que é um excelente matemático, físico e químico, um grande empresário de sucesso, são deles. Os problemas são dele. Ele é seis anos mais velho que eu, e tem de resolver os entraves que tenha criado”, comentou.

Perfil

João Batista Mares Guia tem 70 anos e é natural de Santa Bárbara, cidade da região Central de Minas. Ele participou do movimento estudantil e liderou as manifestações contra a ditadura em Minas, chegou a ser torturado e perdeu cerca de 30% da audição no ouvido esquerdo.

Mares Guia é formado em Sociologia e mestre em Ciência Política pela UFMG. Foi um dos fundadores do PT em Minas, sendo o primeiro deputado estadual eleito pela sigla entre os anos de 1982. Também participou da fundação do PSDB em Minas e foi filiado até o ano de 2000.

Ainda na década de 1990, foi secretário municipal de Educação e secretário municipal de Planejamento Urbano e do Meio Ambiente da cidade de Contagem, localizada na região metropolitana de BH. Foi também secretário de Educação de Minas Gerais, na gestão de Eduardo Azeredo (PSDB).

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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