Por Marcela Káritas
Liberdade para apresentar propostas, conversa respeitosa entre pessoas com visões ideológicas distintas e a construção de um panorama que deixa claro como a inserção da mulher na política ainda é um desafio em Minas Gerais e no Brasil. Esse foi o tom da primeira roda de conversa da Campanha Libertas, realizada nessa terça-feira (11) no Guaja, em Belo Horizonte.
O encontro contou com a presença de oito candidatas, entre elas a única mulher postulante ao Governo de Minas, Dirlene Marques (PSOL), e a primeira travesti a tentar o Senado, Duda Salabert (PSOL).
Também participaram as candidatas a deputada federal Adriana Araújo (PSOL) e Renata Regina (PCB), além das postulantes a deputada estadual Cidinha Advogada e Professora (MDB), Mariah Brochado (DC), Natália Granato (PSOL) e Polly do Amaral (PSOL).
A roda de conversa foi mediada pela coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (Nepem/UFMG), Marlise Matos. O evento contou com a participação de mais de 50 eleitores.
Desafios de uma campanha de mulher
Durante a roda, as candidatas falaram sobre as dificuldades de conseguir apoio financeiro dos partidos, mesmo com a determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de que cada legenda destine pelo menos 30% do Fundo Partidário (que totaliza R$ 1,7 bilhão) às candidaturas femininas.
Mariah Brochado contou que escolheu o DC porque a legenda prometeu destinar metade dos recursos que receberia às mulheres. Mas, até então, a 25 dias do fim da campanha, não recebeu nada. “A ideia contemplava minha bandeira de mais mulheres na política, mas o dinheiro não veio até hoje. Eu não tenho nem santinho”, contou.
As participantes também relataram situações de assédio durante a campanha, que acontecem frequentemente pela internet ou até mesmo em momentos presenciais com eleitores. Duda Salabert comentou sobre as mais de 5 mil mensagens de ódio que recebeu após o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) comentar sobre sua participação na Parada do Orgulho LGBT de BH, realizada em julho deste ano.
Já Natália Granato falou sobre como homens ainda não respeitam o espaço das mulheres enquanto candidatas no corpo a corpo. “Quando estava panfletando para divulgar minhas redes sociais e minhas propostas, chegou um cara, dizendo que ia me ligar. Mas ele não queria saber sobre minhas propostas, tinha outros interesses”, relatou.
Outro assunto compartilhado pelas postulantes foi o desafio de ser candidata em uma sociedade marcada pelo machismo e patriarcado. Polly do Amaral (PSOL) comentou sobre a dificuldade de fazer uma campanha política sendo mãe de três filhos. “Para o candidato que é pai, ninguém pergunta com quem ele vai deixar os filhos quando fizer campanha em outra cidade”, argumentou.
Renata Regina (PCB) falou sobre como é difícil para a mulher estar presente em todas as dimensões da vida social, política e privada. “Nosso desafio é nos manter vivas, com o mínimo de saúde mental e física para enfrentar até quatro jornadas de trabalho”, completou.
Aplaudida de pé
Um dos momentos mais marcantes da roda aconteceu durante o relato de Duda Salabert sobre a marginalização das mulheres travestis e trans. Com indignação presente em sua fala, a candidata a senadora falou sobre como essas mulheres ainda não têm espaço no mercado de trabalho e a violência que sofrem diariamente. “Eu não sei onde vai terminar essa candidatura. Mas é assim que nós, pessoas transexuais, vivemos. Você sai daqui e as meninas estão na rua, elas também não sabem se vão voltar para casa”, contou.
A roda de conversa está disponível até a noite desta quarta (12) em nossas redes sociais (@campanhalibertas no Instagram e Facebook).