Iphan vai divulgar estudo com mais de 100 bens do patrimônio ferroviário de Minas

Acervo ferroviário de São João del Rei (Fototeca/Iphan)

Um estudo realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) ao longo dos últimos dois anos estará disponível em 15 dias, no site do órgão, apontando pelo menos 100 bens imóveis do patrimônio ferroviário mineiro tidos como de valor cultural.

Em breve, outros cerca de 60 serão incluídos no estudo e deverão merecer atenção para fins de recuperação e preservação pelas prefeituras e possíveis parceiros, conforme anunciado na quinta-feira (20) pela superintendente do Iphan em Minas, Célia Corsino.

Inventariado entre 2007 e 2009, o acervo ferroviário em Minas engloba 1.580 estações e mais de três mil bens imóveis, como telégrafos, sinos, bancos e outros. Muitos desses bens, da antiga Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA), foram posteriormente repassados ao Iphan, e agora esses mais de três mil objetos levantados deverão ser distribuídos pelos cerca de 160 imóveis valorados no Estado e que constam do estudo a ser divulgado.

Célia Corsino participou de audiência pública da Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias Mineiras da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a requerimento do presidente, deputado João Leite (PSDB), para falar sobre a situação do patrimônio histórico do transporte ferroviário no Estado.
Segundo Célia, com as Salas de Memória, espera-se preservar e difundir o patrimônio ferroviário
Célia Corsino, superintendente do Iphan em Minas                                        (Ricardo Barbosa/ALMG)

Quanto ao estudo, Célia explicou que tratam-se de bens imóveis já valorados pelo órgão, ou seja, que tiveram atribuído a eles valor cultural. Diferente do tombamento, o procedimento de valoração é quando ocorre declaração de bens como sendo um patrimônio nacional, podendo posteriormente serem tombados, se for o caso.

A valoração aplica-se, exclusivamente, àqueles bens da extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA) e, segundo Célia, era um trabalho feito anteriormente por solicitação de prefeitos interessados no acervo.

Atualmente, o processo é outro. Conforme a superintendente do Iphan-MG, muitas vezes o interesse de determinado gestor se perdia com as mudanças políticas nas administrações municipais, levando o Iphan a inverter a lógica. Passou-se a valorar esses bens independentemente de solicitações, divulgando-os como patrimônio nacional para possíveis interessados em mantê-los.

Projeto Salas de Memória deve ocupar estações

O objetivo é que esses imóveis, muitos deles antigas estações, abriguem o projeto Salas de Memória, idealizado pelo Iphan. A proposta é implantar em todos eles uma vitrine de objetos diversos alusivos ao transporte ferroviário, com informações históricas dispostas num painel.

A Estação de Lobo Leite, distrito de Congonhas, inaugurada em 1886, abriga hoje atividades diversas da comunidade
(Luiz Santana/ALMG)

Segundo a superintendente do Iphan em Minas, parte desse conjunto que se pretende distribuir está hoje em museus ferroviários como os de Juiz de Fora (Zona da Mata) e São João del-Rei (Central). Com as Salas de Memória, espera-se preservar e difundir o patrimônio ferroviário em um Estado marcado pela memória cultural e afetiva em torno do trem, conforme explicou Célia.

Parcerias precisam ser aprimoradas

A superintendente do Iphan criticou, por outro lado, o modelo atual de parceiras público-privadas (PPPs) para a área de museus, aí incluídos os ferroviários. Segundo afirmou, eles só funcionam quando o Estado entra com recursos para toda a manutenção, o que acaba por inviabilizar essas PPPs.

“Temos que pensar numa parceria em que o poder público entre com os ativos, como o prédio e o acervo, e o privado fique com a gestão”, defendeu.

Acervo ferroviário de São João del Rei (Fototeca/Iphan)

Como exemplo, citou que a Prefeitura de Além Paraíba (Zona da Mata) manifestou o interesse de recuperar e preservar a rotunda existente no município, devendo o Iphan apoiar a iniciativa e a busca de parcerias. “Isso é o mais importante”, frisou.

Transporte de passageiros

Também questionada pelo presidente da comissão da ALMG sobre a possibilidade de retomada do transporte de passageiros nesse contexto, Célia Corsino não descartou a possibilidade de as linhas existentes virem a ser recuperadas para essa finalidade em Minas, como também defendido por representantes de entidades e organizações presentes.

“Mas é preciso pensar em quanto custa uma linha. Temos vontade, mas não temos os instrumentos ou os recursos necessários”, pontuou, manifestando preocupação sobretudo com a segurança do passageiro e com a necessidade de um leito bem conservado. Para Célia, ainda é necessário aprofundar estudos acerca da ferrovia enquanto modal de transporte.

Durante a reunião, representantes de organizações como a ONG Trem e de entidades como a Sociedade Mineira de Engenheiros expuseram a situação de abandono e dilapidação do patrimônio ferroviário em vários municípios, a exemplo de Teixeiras (Zona da Mata), onde a prefeitura estaria retirando irregularmente linhas e dormentes de ferrovia do município.

Nesse sentido, foi defendido que os comandos das Polícias Militar e Civil instruam seus policiais a como atuar nesses casos, com base em documento do Ministério Público relacionado à proteção do patrimônio ferroviário.

Da ALMG

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