Por que votei Bolsonaro no 1º turno e votarei Haddad no 2º?

Agência Brasil/Reprodução

Por Victor Alonso*

É estranho mesmo. Não é difícil de desconfiar quando alguém chega em você e te diz que mudou da água para o vinho assim, de um turno para o outro. E, de fato, muita gente desconfiou, e gente dos dois lados. Apoiadores de Bolsonaro se indignaram: “Cooomo assim?! Quem vota em Bolsonaro jamais vota em PT! Você sempre foi petista!!”, disseram. Da parte dos apoiadores de Haddad, muitos também ficaram com um pé atrás, talvez por sentirem no dia-a-dia como é improvável essa mudança ocorrer.

A polarização política atual causou uma grande ruptura na sociedade, de uma magnitude que não me recordo de acontecer em tempos recentes. Laços familiares e afetivos estão se rompendo. E, no meio disso tudo, vem meu depoimento no Facebook assinalando minha mudança de posição e que ganha uma repercussão que é de assustar qualquer um. Até porque, para mim, é algo natural mudar de opinião quando percebo que estou errado. Não tenho compromisso com o erro. Além disso, tenho certeza que seria de um impacto muito menor um depoimento destacando uma mudança de Aécio para Dilma, nas eleições de 2014.

Publicação de Victor Alonso no dia 8 de outubro:

Meu engajamento com política é um fenômeno relativamente recente. Na época do impeachment da Dilma, procurei entender melhor do assunto para saber onde eu me situava no espectro. A partir de meus estudos, fui simpatizar com as teorias liberais. Daí, é importante destacar que meu voto inicial era do Amoêdo, não do Bolsonaro. Essa mudança de voto no 1º turno pode ser explicada por dois fatores: influência do ambiente de trabalho e antipetismo. Eu trabalho no mercado financeiro, onde muita gente simpatiza com o Amoêdo e o Alckmin. Depois que Alckmin foi descartado (Amoêdo nunca foi considerado uma possibilidade real), o mercado financeiro não pensou duas vezes em abraçar o Bolsonaro (na verdade estavam abraçando o Paulo Guedes, seu economista), que já se posicionava nas pesquisas como o candidato que bateria de frente com a esquerda. A cada vitória parcial dele nas pesquisas, o dólar caía e a bolsa subia.

E eu fui na onda.

Porém, o mercado financeiro também pode ser irracional às vezes. Com uma dose de pesquisa e senso crítico, é fácil perceber como são frágeis as bases que sustentam o Bolsonaro no campo econômico. Paulo Guedes é um respeitado economista no campo liberal, porém suas ideias contradizem grande parte das posições que Bolsonaro tomou, em seus quase 30 anos como deputado. Além disso, Mourão (candidato a vice) é dono de sucessivas declarações polêmicas, chegando ao ponto de Bolsonaro ter que ordenar seu silêncio, assim como de seu próprio economista depois de declarações a respeito da volta da CPMF (para quem não conhece, é uma tributação sobre movimentações financeiras, extinta em 2007).

Agora pare e pense: que governo é esse no qual o presidente precisa “esconder” seu vice e seu economista? É fácil notar como são instáveis essas relações, e instabilidade gera incerteza, que definitivamente não é algo interessante para o mercado financeiro.

O que é importante deixar claro, é que não foi minha opinião sobre economia que me fez mudar de posição no 2º turno, e sim uma melhor compreensão do momento em que estamos situados. Demorei um 1º turno inteiro para perceber que o debate não é mais sobre qual o papel do estado na vida das pessoas. Não é sobre ajuste fiscal. Não é sobre PT ou não-PT. O debate é sobre algo maior. Sobre como as atitudes de cada candidato se refletem na sociedade.

Convido o leitor ao pensamento: por que Bolsonaro é candidato mesmo? Só consigo associar a imagem dele ao combate das questões de gênero, do politicamente correto e ao armamento da população. Mas o que ele pensa sobre economia? Saúde? Segurança (além de armar a população)? Educação? Meio ambiente? Relações externas?

Além disso, perdoem minha franqueza, mas se você ouve 5 minutos de falas do Bolsonaro e não se sente no mínimo chocado, você precisa rever seus conceitos. Falas que estão encorajando seus seguidores a cometerem atrocidades por aí. Ao falar sobre o assunto, Bolsonaro tira o dele da reta e fala que não tem como controlar tais atitudes. É de uma covardia sem tamanho, reforçada por sua fuga dos debates.

Nós não vivemos sozinhos, e precisamos ter o mínimo de solidariedade com os grupos que estão extremamente assustados com o possível resultado dessa eleição. Com pessoas que choraram de desespero enquanto assistiam a apuração do 1º turno. Pessoas que já sofrem diariamente com as atitudes que Bolsonaro legitima. E esse é um ponto central: obviamente ele não irá promover, de próprio punho, um extermínio de minorias como regimes autoritários do passado promoveram. O que me soa perigoso é a legitimidade que seus seguidores mais extremistas ganham com sua posse. Legitimidade para promover ainda mais intimidações e violência. E podem ter certeza de que, se Bolsonaro for eleito presidente (toc toc toc), a oposição a ele não terminará por aqui.

Existem inúmeros motivos para não se votar no Bolsonaro e no PT. À essa altura do campeonato, vocês já devem saber de muitos deles. Mas o que escrevi no meu depoimento resume bem o meu motivo definitivo para escolher o PT. Não é aceitável que a pessoa no cargo mais importante do país represente tantas posições repugnantes e censuráveis, como Bolsonaro representa. Que propague o ódio de uma forma tão natural como troca de roupa. Que enxovalhe os valores da democracia, com seu saudosismo ao golpe de 64 e suas homenagens a um torturador.

Eu percebi que estou disposto a abrir mão de minhas convicções políticas para abraçar meus princípios e valores morais, enquanto Bolsonaro estiver concorrendo às eleições. E, citando uma frase de um querido professor de economia, “o resto, peço que aceitem minha respeitosa franqueza, é poeira nos olhos: só atrapalha a visão.”

* Victor Alonso tem 26 anos, é engenheiro mecânico formado pela USP e analista financeiro de profissão

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