OMS alerta para superbactérias e relação com uso de antibióticos na saúde humana, na lavoura e nos animais

Pixabay+Rovena Rosa/Agência Brasil

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou nesta segunda-feira (12) sobre o perigoso aumento do consumo de antibióticos em alguns países, como também sobre o baixo consumo em outras regiões, o que pode levar ao surgimento de “superbactérias” mortais. Com o objetivo de alertar para os riscos do uso indiscriminado de antibióticos é realizada de hoje a domingo a Semana Mundial de Uso Consciente de Antibióticos.

Descobertos nos anos 1920, os antibióticos salvaram dezenas de milhões de vidas, lutando de maneira eficaz contra doenças bacteriológicas como a pneumonia, a tuberculose a meningite. No entanto, ao longo dos anos, com o uso excessivo dos remédios, não apenas na clínica humana, mas nas lavouras e nos animais, as bactérias se modificaram e hoje estão muito resistentes.

De acordo com o infectologista mineiro Carlos Starling, coordenador do Serviço de Infecções do Hospital Lifecenter e um dos diretores da Sociedade Mineira de Infectologia, lidar com as bactérias multirresistentes se tornou uma questão de epidemia pública. “A questão de que estamos falando vai muito além da automedicação, que pode criar no organismo resistência a alguns remédios. Imagine que na década de 1940, quando boa parte dos antibióticos surgiram para salvar vidas, eles aumentaram, em média, 10 anos a vida da população; agora, o uso abusivo deles nas medicinas humana e veterinária e na agronomia está aumentando o número de bactérias intratáveis. Não há remédio para elas, ou seja, corremos o risco de voltar para a era pré-antibiótica”, pontua.

Segundo o médico, é importante ressaltar o alerta da OMS, que fez dois alertas globais anteriores, apenas: sobre Aids e ebola. “A moção da OMS é para que os países implantem, até 2025, políticas públicas de uso adequado de antibióticos para evitar uma catástrofe em 2050”, ressalta Starling, acrescentando que no caso brasileiro, de retenção de receitas médicas nas farmácias para compra de antibióticos e na rede hospitalar, em geral, há políticas já em curso de uso racional e rigoroso dos medicamentos.

Faet/Divulgação

Debate deve permear medicina humana, veterinária e agronomia

“A questão não envolve só a medicina humana. Na agronomia e na medicina veterinária, o uso de antibióticos é 10 vezes maior do que na medicina humana, alterando a microbiota do que consumimos como alimento e também do meio ambiente. Isso repercute nas bactérias que nos colonizam; elas passam a produzir enzimas que inativam todos os antibióticos existentes e não respeitam fronteiras, divisas, muito menos hospitais. São genes de resistência que circulam o planeta na velocidade dos meios de comunicação”, acrescenta o infectologista Carlos Starling.

Na visão do médico, essa é uma discussão que precisa ser ampliada e extrapolar a medicina humana. “Precisamos falar do uso racional de antibióticos. Na medicina veterinária e nos hospitais há um certo controle de infecções, mas o Brasil ainda está pouco mobilizado nesse debate. Há um estudo europeu mostrando um aspecto muito importante: quanto mais corrupto o país, maior o consumo de antibióticos e maior a resistência das bactérias. Precisamos falar sobre isso e sobre investimentos em políticas de proteção”, comenta Carlos Starling.

Agropecuária em Minas

De acordo com Aline Veloso, coordenadora de Assessoria Técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), órgão que representa produtores rurais de todo o estado, o sistema de produção usa defensivos agrícolas e medicamentos veterinários quando há recomendação para tal, seguindo a composição adequada. “Nesta semana mundial de alerta para uso de antibióticos, o Ministério da Agricultura está trazendo ao debate o uso inadequado de insumos, pois é necessário usá-los com controle, senão, eles deixam de ser eficazes”, diz.

Segundo Aline, o Sistema Faemg busca orientar o produtor rural no uso de boas práticas agropecuárias, higiene, segurança e programas de vacinação de animais, quando se fazem necessários. “É um aspecto importante e salutar para o Brasil tratar esse tema com seriedade. Em maio, recebemos da Organização Internacional de Saúde Animal uma sinalização de que o Brasil poderá ser isento da vacinação contra a febre aftosa, a partir de 2021. Há anos não temos registros da febre aqui no rebanho em função de ações que foram desenvolvidas ao longo dos anos. Em caso de identificar uma enfermidade, nós sempre recomendamos que o produtor busque profissionais capacitados, que possam fazer uma análise e uma indicação adequada de medicamentos”, acrescenta a coordenadora da Faemg.

Ela garante que na agricultura mineira as recomendações da Faemg são as mesmas. “O intuito é sempre prezar pela boa prática no campo. No caso da agricultura, estamos sempre fomentando capacitações, orientações de boas práticas agrícolas, de controle, gestão e adequação do produtor para que ele tenha êxito no seu negócio”, diz.

OMS pede nova geração de medicamentos

O relatório da OMS, baseado em dados de 2015 recolhidos em 65 países e regiões, mostra uma importante diferença de consumo, que vai de quatro doses diárias definidas (DDD) em cada 1.000 habitantes por dia no Burundi a mais de 64 na Mongólia. “Essas diferenças indicam que alguns países consomem provavelmente antibióticos demais enquanto outros talvez não tenham acesso suficiente a esses medicamentos”, apontou a OMS em comunicado.

No ano passado, a agência das Nações Unidas pediu aos Estados e aos grandes grupos farmacêuticos que criassem uma nova geração de medicamentos capazes de lutar contra as “superbactérias” ultrarresistentes. “O consumo excessivo, assim como o consumo insuficiente de antibióticos, são as maiores causas de resistência aos antimicrobianos”, afirmou Suzanne Hill, diretora de Medicamentos e Produtos Sanitários Essenciais na OMS, em um comunicado. “Sem antibióticos eficazes e outros antimicrobianos, perderemos nossa capacidade para tratar infecções tão estendidas como a pneumonia”, advertiu.

As bactérias podem se tornar resistentes quando os pacientes usam antibióticos que não precisam ou quando não terminam seus tratamentos. A bactéria tem assim mais facilidade para sobreviver e desenvolver imunidade.

A OMS também se preocupa com o escasso consumo de antibióticos. “A resistência pode se desenvolver quando os doentes não podem pagar um tratamento completo ou só têm acesso a medicamentos de qualidade inferior ou alterados”, diz o relatório.

Na Europa, o consumo médio de antibióticos é aproximadamente de 18 DDD por 1.000 habitantes por dia. A Turquia lidera a lista (38 DDD), ou seja, cerca de cinco vezes mais que o último da classificação, Azerbaijão (8 DDD).

A OMS reconhece, contudo, que seu relatório é incompleto porque inclui apenas quatro países da África, três do Oriente Médio e seis da região da Ásia-Pacífico. Os grandes ausentes deste estudo são Estados Unidos, China e Índia.

Com informações da OMS

 

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!