‘Quantas pessoas vão ter que morrer?’: Dia em Venda Nova após tragédia (repetida) é de luto e revolta

Comércios invadidos pela chuva e limpeza em avenidas (Henrique Coelho/Vitor Fórneas/BHAZ)

“Quantas pessoas vão ter que morrer para esse problema ser solucionado?”. A indagação do mestre de obras Luciano Hagazi resume o sentimento de comerciantes e moradores de Venda Nova que tiveram produtos, comércios ou até mesmo a vida devastados com o temporal de ontem. Com um cenário semelhante ao de guerra – com direito a carros empilhados e asfalto arrancado – a sexta-feira (16) foi de recomeço para muitos na área mais castigada.

O temporal e suas consequências dificilmente serão esquecidos, principalmente devido à morte de quatro pessoas (e o desaparecimento de uma quinta). “Quem dera que fosse a primeira vez de uma forte chuva. Todo ano passamos por isso em Venda Nova”, afirma o comerciante Rafael Magno. “A destruição nesta época do ano já é esperada por todos nós. Já estamos ‘cabreiros’ com isso”. Assim como outros comerciantes, Rafael limpava seu comércio, onde motos são revendidas, devido à lama arrastada pela chuva.

De acordo com a Defesa Civil de BH, no começo da tarde de hoje, mais de 160 toneladas de lama e entulho haviam sido recolhidas pela equipe da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). “O que fica é o sentimento de tristeza por ver o local onde trabalhamos diariamente tomado pela água. Após a chuva, vim dar uma olhada em como estava a loja e fui dormir triste”, diz Rafael.

Lama sendo retirada das calçadas na avenida Vilarinho (Vitor Fórneas/BHAZ)

A tempestade de ontem, que resultou no dia mais chuvoso deste ano, proporcionou momentos aterrorizantes, ou de filme, como define uma mulher que salvou cinco pessoas em poucos minutos. “A chuva começou fraca, mas tudo ficou alagado e por volta das 20h30 vi pessoas dentro do carro desesperadas tentando sair. Fui até eles para salvá-las. Graças a Deus consegui e ajudamos com sucesso”, afirma ao BHAZ a funcionária de uma rede de fast-food, Flávia Millard.

Destemida, Flávia conta que não pensou duas vezes ao agir diante de um cenário único vista na vida. “Nunca tinha visto situação daquela. É até difícil de falar, pois temos pai, mãe, família e é muito desagradável ver a situação de pânico. Infelizmente muitas pessoas estão chorando agora por causa dos familiares que morreram”, disse.

Resgate feito por Larissa (Reprodução/WhatsApp)

Problema antigo

Há 47 anos, Luciano Hagazi mora na região de Venda Nova, local onde nasceu. À reportagem, o mestre de obras contou que uma chuva tão forte como a de ontem viu somente quando tinha 5 anos. “Quantas pessoas vão ter que morrer para esse problema ser solucionado? É muito triste ver os amigos perdendo tudo em seus comércios. Vem e vai governo e nada é feito, mas os impostos sempre chegam para nós pagarmos”.

Um dos amigos de Luciano é Cláudio Augusto, proprietário de um topa tudo que foi tomado pela força das águas, fazendo com que diversos produtos fossem perdidos. “Vou ter que montar minha loja toda de novo. Estava olhando [a destruição] e, por alto, tive um prejuízo de R$ 10 mil”.

Assim como os demais entrevistados, Cláudio presenciou fortes chuvas em Venda Nova. Por conta disso, em sua loja ele colocou proteções nas portas com o objetivo de conter enchentes. “Dessa vez não adiantou, pois o asfalto foi retirado pela água e acabou ‘pegando’ a porta e destruindo-a”. Com a ajuda de seu filho e funcionários o comerciante retirava os produtos perdidos.

Objetos perdidos durante o temporal (Henrique Coelho/BHAZ)

O aposentado Lafayete Costa e a vendedora Liliane moram nas proximidades da avenida Vilarinho. Enquanto o primeiro reside no local durante 35 anos, a mulher na região há somente seis. Porém ambos comungam do mesmo desejo: de que os órgão públicos solucionem o problema que aflige os moradores.

“Estamos cansados de promessas. Espero e confio no que o Kalil [o prefeito de Belo Horizonte prometeu fazer obras para minimizar o efeito da chuva na região; veja aqui] disse, pelo menos ele trouxe um pouco de esperança pra nós. Tomara que amenize os problemas das galerias, pois elas não suportam a quantidade de água que recebem”, afirma o aposentado.

Para a vendedora, o problema das chuvas deveria ter sido resolvido há mais tempo. “Faltam palavras pra nós diante de mais uma tragédia. A prefeitura não faz nada. Hoje o Kalil veio aqui e assumiu a culpa, mas vidas foram perdidas. Mais um ano deprimente, providências precisam ser tomadas. Vamos ficar mais uma vez na expectativa”, diz.

Funcionários da PBH fazendo recapeamento de uma das vias destruídas pelas chuvas (Henrique Coelho/BHAZ)

Limpeza

A Defesa Civil informou que tanto a Estação quanto a avenida Vilarinho foram raspadas, tendo assim, a retirada da lama e que estão na fase de lavação. Nos trabalhos foram empenhados:

  • 6 caminhões pipas;
  • 5 caminhões hidrojatos;
  • 96 garis;
  • 20 motoristas;
  • 18 caminhões basculantes;
  • 1 máquina pá-carregadeira;
  • 72 operadores braçais;
  • 5 retro escavadeiras;
  • 8 caminhões basculantes.

Para a retirada de lama e entulho foram feitas mais de 25 viagens.

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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