‘Policial do metrô’ já tinha sido denunciado por assédio sexual dentro do próprio batalhão

Reprodução

O policial flagrado assediando uma mulher no metrô de Belo Horizonte, em setembro do ano passado, já tinha sido denunciado pelo mesmo motivo anteriormente. Uma cabo da Polícia Militar relatou assédio sexual do suspeito dentro do próprio batalhão onde ele trabalha, em Contagem, na região metropolitana de BH. Nesta semana, o militar se envolveu em um terceiro caso, também de importunação sexual, em uma lotérica em Santa Luzia, na Grande BH.

A denúncia mais antiga aponta que o caso ocorreu em 2017 dentro do 39º Batalhão da Polícia Militar (BPM), em Contagem, onde Daniel Soares Fonseca, de 34 anos, é lotado. A militar afirma que, ao compartilhar uma dependência da unidade com Daniel, o flagrou se masturbando. O caso foi levado ao comando. “Não houve esse assédio como nesses outros casos [no metrô e na lotérica]. Foi aberto um processo administrativo, apurado e ficou a palavra dele contra a dela”, afirma ao BHAZ a tenente Luiza Marilaque, da assessoria do batalhão.

Fachada do 39º Batalhão da Polícia Militar, em Contagem (Reprodução/Google Street View)

O batalhão, no entanto, não divulga qual foi o desfecho do processo e, portanto, se o militar recebeu algum tipo de punição. Já a defesa da vítima do metrô é crítica ao tratamento dado pelo comando do militar. “É o depoimento de uma mulher que não foi dado o crédito e que, após esse evento no metrô, confirmou-se que essa denúncia teria um fundamento. Houve um descrédito da Polícia Militar em relação a essa primeira vítima, a uma funcionária que não foi devidamente acompanhada, e viabilizou o acontecimento sequente”, diz o advogado Julio Mauricio Madureira.

“Talvez, se a PM, lá atrás, tivesse adotado algum tipo de encaminhamento às autoridades responsáveis, poderíamos ter evitado os eventos que se sucederam”, completa.

Outros casos

No último dia do ano passado, na segunda-feira (31), uma mulher de 33 anos foi assediada na fila de uma casa lotérica em Santa Luzia. Um homem tocou nas nádegas dela por seguidas vezes. Após a vítima perceber que não se tratava de um esbarrão, reclamou com o autor e flagrou que ele estava excitado. Toda a ação foi flagrada por câmeras do circuito interno do estabelecimento.

A mulher conseguiu anotar a placa do carro e, através dessa informação, as autoridades descobriram que o veículo era de Daniel Fonseca. O militar foi reconhecido pela vítima. A Polícia Civil informou que as investigações estão em andamento, e que a vítima e algumas testemunhas já prestaram depoimento.

Quanto ao caso do metrô, cujo flagrante viralizou nas redes sociais, ocorreu no dia 10 de setembro do ano passado, na parte da manhã. Uma mulher de 30 anos foi assediada por um homem que, posteriormente, foi identificado pelas autoridades como o Daniel Fonseca.

O comando do 39º BPM afirma que o militar foi suspenso naquele momento, mas voltou a trabalhar em seguida. “Foi aberto um procedimento administrativo disciplinar para apuração e ele foi afastado das funções por uma psicóloga. Depois, ele voltou a trabalhar administrativamente, sem atuar na rua”, informa a tenente Luiza Marilaque, sem divulgar as datas de suspensão e readmissão. “Agora, após esse caso da lotérica, o policial está totalmente suspenso de toda e qualquer atividade militar”, completa.

“Já há um procedimento criminal em curso, já houve a conclusão do inquérito policial pela Delegacia de Mulheres. Daniel foi identificado e ouvido. A Justiça agendou uma audiência para o dia 8 de fevereiro de 2019, no Juizado Especial Criminal de BH. Uma audiência preliminar, vamos aguardar a realização”, explica o advogado Mauricio Madureira, sobre o caso do metrô.

O defensor ainda afirma que estuda pedir uma medida protetiva para a cliente, já que o suspeito é um policial militar. “Existe um receio pelo fato do suspeito ter fácil identificação de endereço da vítima e outras informações relativas a ela. Não sabemos como será a reação dele agora que se tornou um suspeito, se vai respeitar a decisão do Estado”, completa Madureira.

A reportagem tentou contato em diversos telefones atribuídos a Daniel Fonseca, mas não obteve retorno. Este texto será atualizado assim que o suspeito responder os questionamentos.

Thiago Ricci[email protected]

Editor-executivo do BHAZ desde agosto de 2018, cargo ocupado também entre 2016 e 2017. Jornalista pós-graduado em Jornalismo Investigativo, pela Abraji/ESPM. Editor-chefe do SouBH entre 2017 e 2018; correspondente do jornal O Globo em Minas Gerais, entre 2014 e 2015, durante as eleições presidenciais; com passagens pelos jornais Hoje em Dia e Metro, TVs Record e Band, além da rádio UFMG Educativa, portal Terra e ONG Oficina de Imagens. Teve reportagens agraciadas pelos prêmios CDL, Délio Rocha, Adep-MG e Sindibel.

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