Blocos caricatos e escolas de samba de BH estão sem dinheiro para desfile; Belotur promete edital para quinta-feira

Escola de Samba Acadêmicos de Venda Nova e bloco caricato Corsários do Samba (André Fossati/PBH/Divulgação+Carnabh.com.br/Reprodução)

Integrantes de blocos caricatos e escolas de samba de Belo Horizonte estão sem norte sobre os recursos de subvenção do Carnaval 2019, prometidos pela Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur). É que até agora o edital para inscrição dos interessados em receber o apoio financeiro não foi divulgado. Diferentemente dos blocos de rua, que já tiveram definidos, inclusive, os beneficiados com o montante total de R$ 564 mil. Procurado pelo BHAZ, o diretor de Eventos da Belotur, Gilberto Castro, garantiu que o edital estará disponível até quinta-feira (24).

“Nada saiu até agora. Só porque os blocos caricatos e escolas de samba fazem um Carnaval mais popular estamos sem posicionamento. É fato que o valor melhorou se compararmos com os anos anteriores, mas sem o dinheiro não teremos tempo para produzir o desfile com qualidade. A meu ver, a prefeitura se preocupou mais com os blocos de classe média”, desabafou Alvimar Nery, um dos diretores do bloco caricato Vila Estrela, agremiação nascida no Aglomerado Santa Lúcia, região Centro-Sul da capital.

Segundo Nery, essa é uma ‘labuta histórica’, conseguir a verba da Belotur para subsidiar as agremiações mais antigas da cidade. “O repasse sempre chegou em cima da hora, afetando a qualidade do nosso desfile. A gente se vira, até arruma uns patrocínios, mas o recurso municipal é fundamental”, complementa Alvimar, acrescentando que este ano a Vila Estrela fará homenagem ao circo, declarado patrimônio cultural imaterial pelo Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan).

A 40 dias do Carnaval 2019, o presidente do bloco caricato Real Grandeza, Marco Antônio de Campos Pereira, diz que não faz ideia se haverá desfile. “Sem dinheiro, não temos como preparar as roupas, nem produzir material de qualidade. O edital foi prometido para dezembro, assim como o processo de inscrição. Mas até agora, nada.” O Real Grandeza surgiu entre 2017 e 2018, numa dissidência do bloco Aflitos do Anchieta, que tem mais de 50 anos na folia belo-horizontina. O bloco pretende homenagear sambistas nacionais já falecidos.

De acordo com o diretor de Eventos da Belotur, o edital de subvenção de recursos do Carnaval 2019 para blocos caricatos e escolas de samba da capital prevê o repasse de R$ 1,09 milhão para as agremiações, e investimentos de R$ 1 milhão na infraestrutura necessária para os desfiles na avenida Afonso Pena e a estrutura e contratação de shows artísticos em quatro regiões de Beagá – Venda Nova, Barreiro, Via 240 já estão confirmados; um local ainda será definido.

“São R$ 45 mil para cada bloco caricato e R$ 100 mil para cada escola. Dos grupos mais ativos que conversaram conosco, estão 11 blocos caricatos e seis escolas de samba, mas com o edital, podem aparecer outros grupos”, diz Gilberto. Nos últimos dois anos, os valores da subvenção municipal praticamente dobraram.

$ em fevereiro

Para o presidente da Escola de Samba Acadêmicos de Venda Nova, Francisco Gonçalves, “na melhor expectativa, o dinheiro vai sair em meados de fevereiro”, diz, ressaltando que “os recursos municipais sempre chegam em cima da hora”. “Com o resultado do Carnaval 2018 suspenso (entenda aqui), nenhum dos vencedores recebeu sua premiação de 2018. Sem dinheiro, ficamos prejudicados e perdi o barracão da escola. Por causa da suspensão, a Belotur não sentou com as escolas e blocos no ano passado. A primeira conversa, entre outubro e novembro, foi marcada pela esperança de recebermos parte do dinheiro em dezembro, o que não aconteceu”, diz Gonçalves.

Segundo ele, a escola está na produção do Carnaval há um mês e meio, fazendo o que é possível. “Já estourei o cartão de crédito, estamos gastando o que não temos e mais uma vez confiando que o dinheiro vai sair. Um dos problemas é que comprar o material na véspera do Carnaval sai muito mais caro, os preços se tornam absurdos.” A Acadêmicos de Venda Nova, uma das mais antigas da capital, tem cerca de 850 integrantes e espera ir para a avenida este ano para homenagear Ester Sanches, mineira de Alvinópolis que começou a vida profissional como faxineira e se radicou nos Estados Unidos. Hoje, preside organizações sem fins lucrativos que ajudam os mais carentes e instituições como hospitais, orfanatos, enfermarias, lares adotivos, e, no ano passado, se candidatou como deputada federal pelo PSB mineiro.

Para blocos de rua edital saiu no fim do ano

Diferentemente das escolas de samba e blocos caricatos, o chamamento para os blocos de rua teve início em outubro, com inscrição em dezembro e divulgação dos contemplados no fim da semana passada. Dos mais de 200 blocos de rua que pleitearam verbas, 84 foram contemplados, totalizando R$ 564 mil em recursos.

Questionado sobre a liberação bem antes do edital de subvenção para os blocos de rua, o diretor da Belotur negou qualquer benefício aos blocos em detrimento das outras agremiações carnavalescas da cidade.

“O edital dos blocos saiu antes porque o volume de inscritos é muito maior, o que demandou um período mais longo de avaliação. Nosso Carnaval é de todos e para todos. A cidade precisa de todos os grupos juntos, afinal, o Carnaval não é feito por grupos individuais. O respeito é igual para todos e trabalhamos para o Carnaval da cidade como um todo. O que ocorreu foi que a Belotur propôs a criação da liga e o processo não correu como o esperado. A Belotur tem enorme respeito pela cultura dos blocos caricatos e escolas de samba de Belo Horizonte. Inclusive, trouxemos um dos maiores carnavalescos da atualidade no Brasil, Paulo Barros, para discutir, em conjunto com todos os atores, a questão da liga. Nenhum Carnaval de avenida sério do país sai às ruas sem uma liga, a exemplo do Rio de Janeiro e São Paulo”, argumenta.

Liga carnavalesca

Segundo Gilberto Castro, a Belotur propôs a criação de uma liga carnavalesca que pudesse reunir os blocos caricatos e as escolas de samba. O regulamento, finalizado em novembro, abarcaria os blocos e escolas e foi baseado na criação dessa liga. “Só que a liga não foi formada por questões jurídicas deles. Essa seria uma forma de simplificarmos os repasses dos recursos e da operação do concurso, que prevê  contração de uma equipe de jurados. A partir dessa dificuldade com a liga, tivemos de partir para um segundo plano e refazer o edital. Por isso, ocorreu esse atraso, e estamos tentando minimizar a questão. Não há culpados. Estamos fazendo de tudo para equacionar a questão o quanto antes”, alega.

De acordo com Francisco Gonçalves, da Acadêmicos de Venda Nova, as agremiações fariam uma parceira com a Liac, liga carnavalesca que existe há mais de 15 anos, mas a documentação não estava em dia no fim do ano. “Eles estavam com alguns impostos atrasados. No entanto, correram atrás para atualizar, e, na primeira semana de janeiro, tudo estava em dia. A Belotur, no entanto, disse que para este ano não seria mais possível e cancelou essa questão da liga”, explica. O BHAZ tentou contato com o presidente da Liac, sem sucesso.

Ainda de acordo com o diretor de eventos da Belotur, a Prefeitura de BH e Belotur não fazem Carnaval, nem julgam os melhores da folia. “Apenas organizamos a infraestrutura para a festa ocorrer na cidade. Buscamos por meio do diálogo o melhor para todo mundo, mas a questão da organização da liga, por exemplo, deve partir de uma construção dos blocos caricatos e das escolas de samba. Para que a gente faça benfeito, eles têm de se organizar. Não tenho dúvidas de que essas agremiações foram deixadas de lado pelo poder público por anos, mas essa não é nossa postura com eles agora. Estamos falando de dinheiro público e precisamos fazer contratos via CNPJ ou CPF de pessoa física. Buscamos um modelo mais profissional, mas também vamos conseguir fazer o repasse dos recursos para os blocos e escolas. Só acho que temos de fugir de comparações”, acrescenta.

A Belotur informou que para agilizar o processo do edital de subvenção para os blocos caricatos e as escolas de samba, foi acordado um prazo mínimo de inscrição no edital, para minimizar os prazos burocráticos, e, a partir do recebimento da documentação exigida o repasse será imediato.

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