Sem ação e projeto, governo Zema exibiu mais cara de velho do que de novo

Moreira Mariz/Agência Senado + Gil Leonardi/Imprensa MG + Luiz Santana/ALMG

O lamentável e criminoso desastre de Brumadinho (Grande BH) fechou o primeiro mês do ano de forma trágica, poupando até o governo de Romeu Zema, do partido Novo, de maiores críticas e reprovações e dando-lhe mais tempo para mostrar a que veio. Até o momento, nada mostrou, nem acrescentou algo na prática política e administrativa do estado que possa levar o carimbo de “novo”. Abriu o governo de maneira frágil, sem conseguir transformar o discurso de campanha em ação de governo.

Desde a campanha, ele e todos os outros concorrentes sabiam do estado calamitoso das finanças estaduais; não podem alegar desconhecimento, falta de transparência e má vontade na transição. Nesse período, em vez de arregaçar as mangas e debruçar-se sobre a realidade mineira, o eleito foi para Londres fazer curso de gestão, deixando para trás uma articulação política importante na votação do orçamento que, hoje, ele tem que executar sem ser seu. Um orçamento que vem engessado, especialmente porque foi feito pelo antecessor, Fernando Pimentel (PT). O déficit oficial é de R$ 11,4 bilhões, mas Zema acredita ser de R$ 30 bilhões. Em São Paulo, ao contrário, a turma do governador eleito João Dória (PSDB) participou da tramitação, em dezembro, e fez mudanças na peça orçamentária que julgou necessárias ao governo de agora.

Cadê o plano Zema?

Ao fim do primeiro mês, não vimos nada de novo em Minas; antes, velhas práticas, que rondam a administração, e falta de ações comprometem um novo governo e uma nova possibilidade para o estado. Diferentemente do colega paulista, Zema mantém uma agenda velha. Em São Paulo, João Dória abriu o governo e o ano com pacote de medidas, reformando administrativamente o estado e agenda de privatizações de pequenas e médias estatais. Se acertar ou não, é história para o futuro. Aqui, Zema fica driblando credores, servidores e se apropriando de recursos dos municípios para pagar as contas, sem apresentar, até hoje, plano de recuperação fiscal.

Com apenas um mês de governo, já deve mais de R$ 522 milhões aos municípios mineiros, de acordo com a Associação Mineira de Municípios (AMM). Segundo os dados, o governo de Minas deve cerca de R$ 459 milhões do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e R$ 63 milhões do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

Ficará dependente e de pires na mão

A nova administração se diz dependente do governo federal, que irá renegociar a dívida de Minas com a União, de quase R$ 90 bilhões, dar fôlego financeiro e dizer como que o estado deve ser administrado; ou seja, que estatais serão vendidas, que deverá congelar salários e contratações e até aumentar a contribuição previdenciária dos servidores, além de fazer sua reforma da previdência à luz do que o governo federal fizer por lá.

Claro, algumas questões devem seguir juntas e alinhadas, mas qual é o projeto de Zema, melhor, qual é o projeto do partido Novo que não o deixe na vala comum dos velhos partidos? Até agora, o cidadão não sabe, se é que ele existe. A comunicação com a população segue desastrosa sob a crença de que basta entrar nas redes sociais e, se lá está bem, tudo ficará bem. Ledo engano.

Aécio fechou apoio do PSDB

No plano político, não se pode dizer nada de novo. Ao contrário, fez acordo com o ex-senador e deputado federal a partir de hoje, Aécio Neves (PSDB), para ter governabilidade. Um acordo “debaixo dos panos”, já que PSDB e Aécio Neves são “tóxicos” no meio político de hoje, daí a falta de transparência.

Mas o PSDB está lá no governo: na parte técnica tem os conselhos da ex-secretária de Planejamento dos governos tucanos, Renata Vilhena; na política, dois tucanos, o secretário de governo, Custódio Mattos chefia da coordenação política e, na condução da base política, o deputado estadual Luiz Humberto, que é o líder do governo. O trabalho deles será manter a base de sustentação coesa e alinhada com o novo governo; novo, nada, com o governo do momento. Vida que segue sempre igual como dantes no quartel do Abrantes.

Acordão de sempre prevalece na ‘velha’ Assembleia

Teremos mudanças, novas caras e velhas políticas na Assembleia Legislativa. Pra começar, o acordão de todos os partidos levará a eleição do candidato único à Presidência da Assembleia, deputado Agostinho Patrus (PV), que é também aliado do novo governo. O mesmo acordão deixará partidos da direita à esquerda no comando da casa, do PSDB ao PT, PDT, PRB, PV, PTB, MDB, etc.

A primeira vice-presidência será ocupada pelo deputado estadual Antônio Carlos Arantes (PSDB). A segunda vice-presidência pelo deputado estadual Cristiano Silveira (PT); e a terceira vice-presidência, pelo deputado Alencar da Silveira Júnior (PDT). Já o cargo de primeiro secretário será do deputado estadual Tadeu Martins (MDB), o segundo secretário será o deputado Carlos Henrique (PRB); e o terceiro secretário, o deputado estadual Arlen Santiago (PTB).

Haverá quatro blocos parlamentares: dois chamados ‘independentes’, um de governo e outro de oposição. Boa vontade e maioria não faltarão ao novo governo para que ajuste seus rumos. Tudo somado, a vocação governista da Assembleia continuará travando a história.

Orion Teixeira[email protected]

Jornalista político, Orion Teixeira recorre à sua experiência, que inclui seis eleições presidenciais, seis estaduais e seis eleições municipais, e à cobertura do dia a dia para contar o que pensam e fazem os políticos, como agem, por que e pra quem.

É também autor do blog que leva seu nome (www.blogdoorion.com.br), comentarista político da TV Band Minas e da rádio Band News BH e apresentador do programa Pensamento Jurídico das TVs Justiça e Comunitária.

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