Ministro mineiro de Bolsonaro criou candidaturas laranjas para desviar verba, aponta jornal

Reprodução/Facebook Marcelo Álvaro Antônio

O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL), é suspeito de desviar recursos do fundo partidário utilizando candidaturas laranjas nas eleições de 2018. Marcelo foi o deputado federal mais votado em Minas Gerais com 230.004 votos no pleito passado e foi o escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para comandar a referida pasta.

Reportagem da Folha de S. Paulo aponta que o diretório presidido pelo político em Minas pode ter utilizado candidaturas femininas para empregar dinheiro à empresas ligadas ao agora ministro do Turismo. As candidaturas citadas teriam recebido R$ 279 mil de dinheiro público e conseguiram poucos votos. Esse valor repassado foi essencial para que o partido atingisse a cota eleitoral, que obriga percentual mínimo de 30% para cada sexo (na prática, serve para incentivar candidatura de mulheres).

Apesar do montante repassado, R$ 85 mil foram, de forma oficial, para as contas de quatro empresas que são de assessores, sócio de assessores ou de parentes do ministro de Bolsonaro.

Confira os valores recebidos pelas candidatas que representaram a cota feminina da bancada do PSL e os votos obtidos na última eleição.

  • Lilian Bernardino – R$ 65 mil – 196 votos
  • Mila Fernandes – R$ 72 mil – 334 votos
  • Débora Gomes – R$ 72 mil – 885 votos
  • Naftali Tamar – R$ 70 mil – 669 votos
  • Cleuzenir Barbosa – R$ 60 mil – 2.097 votos

Apesar da última candidata não ter declarado gastos com empresa vinculada ao ministro, ela registrou um boletim de ocorrências. Segundo a postulante, dois assessores de Álvaro Antônio cobraram a devolução de metade do valor recebido – a mulher se mudou do país logo após as eleições.

O baixo número de votos das candidatas, mesmo com o investimento, é um dos elementos usados pela Justiça Eleitoral para identificar candidaturas de fachadas, onde há simulação de atos de campanha, porém sem o empenho na procura por votos. Com os valores passados eram contratados serviços, como, por exemplo, o envio de mensagens no WhatsApp.

Entre os destinatários de uma parte do dinheiro está o assessor especial do Ministério do Turismo e responsável pela divulgação do mandato de Álvaro Antônio, Mateus Von Rondon Martins. .

Duas empresas de comunicação também teriam recebido parte da verba, totalizando R$ 14,9 mil. Uma delas é do irmão de Roberto Silva Soares, que foi assessor do gabinete do deputado mineiro e coordenador da campanha de 2018 na região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. A reportagem da Folha ainda aponta que aproximadamente R$ 10 mil foi passado para uma gráfica cuja sócia é do irmão de Soares.

Ao BHAZ, por meio de nota, o ministro do Turismo negou as acusações e as classificaram como “infundadas”. Ponderando que o Fundo Partidário do PSL em Minas Gerais cumpriu o que é determinado por lei e o fato de suas contas de campanha terem sido aprovadas pela Justiça Eleitoral, Álvaro Antônio alega ser inocente.

Sobre as empresas e os serviços contratados pelas candidatas, o ministro alega que “não pode ser responsabilizado” por aquilo que elas escolhem, visto que isso é de “escolha e decisão de cada candidato”. A nota enviada pode ser lida na íntegra logo abaixo.

Valores repassados

Confira os valores repassados pelas candidatas após receberem os valores recebidos pelo fundo eleitoral:

  • Lilian Bernardino

Duas empresas de comunicação de um irmão de Roberto Silva Soares – R$ 14,9 mil

Gráfica de uma sócia do irmão de Roberto – R$ 10 mil

Mateus Von Rondon, assessor especial de Marcelo Álvaro – R$ 4,9 mil

Empresa de Mateus Von Rondon – R$ 11 mil

Secretário do PSL em Ipatinga, Edmilson Luiz Alves – R$ 2,5 mil

  • Débora Gomes

Empresas do irmão de Roberto – R$ 30 mil

Sócia do irmão de Roberto – R$ 10 mil

Mateus Von Rondon – R$ 7,6 mil

  • Naftali Tamar

Von Rondon – R$ 9 mil

  • Mila Fernandes 

Mateus Von Rondon – R$ 4,9 mil

  • Cleuzenir Barbosa

Não declarou gastos com empresa vinculada ao ministro

Nota do Ministério do Turismo na íntegra:

“O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, nega as acusações infundadas feitas pelo jornal Folha de S. Paulo na edição desta segunda-feira (4).

A distribuição do Fundo Partidário do PSL em Minas Gerais cumpriu rigorosamente o que determina a lei. A prestação de contas de campanha de Marcelo Álvaro Antônio foi aprovada pela Justiça Eleitoral.

A respeito da contratação de empresas para prestação de serviços por parte das citadas, vale destacar que ela é de escolha e decisão de cada candidato e o ministro não pode ser responsabilizado por esta decisão.

A tentativa do jornal de comparar valores gastos em campanha com a quantidade de votos recebidos nas urnas é mais um ato de má fé, no mínimo, infeliz, uma vez que não se pode colocar preço em voto. As eleições de 2018 mostraram que o eleitor está mais consciente privilegia as propostas em detrimento de grandes somas para ações de publicidade. Prova disso é o fato do presidente Jair Bolsonaro ter sido eleito investindo 20 vezes menos que o outro candidato.”

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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