Vale teria ciência do alto risco de colapso de barragem; empresa nega e reafirma estabilidade

Desde o dia do rompimento, bombeiros fazem buscas no local; cava da Mina Córrego do Feijão (CBMMG/Divulgação + Caio César Braga/Arquivo pessoal)

A mineradora Vale S.A. teria ciência, desde o ano passado, de que a barragem de rejeitos que entrou em colapso no mês passado, na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, matando ao menos 165 pessoas, tinha risco elevado de ruptura, indicado por um relatório denominado Geotechnical Risk Management Results.

A informação foi divulgada numa reportagem da Agência Reuters, que está em Minas Gerais, acompanhando o caso. Segundo a matéria, o repórter teve acesso a dois relatórios que indicavam as altas chances de rompimento da barragem 1.

Um dos documentos seria datado de outubro de 2018 e mencionava que a estrutura tinha duas vezes mais chance de se romper do que o nível máximo tolerado pela política de segurança da empresa. O outro documento, de novembro de 2017, também visto pela Reuters, afirma que “qualquer estrutura com uma chance de falha acima de 1 em 10.000/ano deve ser levada à atenção do presidente-executivo e do Conselho de Administração”, diz a reportagem.

As informações levantam os questionamentos de por que a auditoria, realizada na mesma época, garantiu a estabilidade da barragem e por que a mineradora não tomou medidas preventivas imediatas, como a retirada do refeitório localizado logo abaixo da estrutura que se rompeu.

Em nota enviada ao BHAZ e também à agência de notícias internacional, a Vale informou que “não existe em nenhum relatório, laudo ou estudo conhecido qualquer menção a risco de colapso iminente da Barragem I da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho”, acrescentando que, “pelo contrário, a barragem possuía todos os certificados de estabilidade e segurança, atestados por especialistas nacionais e internacionais”.

Procurada pelo BHAZ, a Vale informou que sua governança prevê autonomia e independência funcional para que seus especialistas locais, responsáveis pela gestão operacional direta da barragem, atuem de forma diligente e efetiva. “Portanto, em identificando qualquer cenário de risco, seja ele iminente ou não, esses profissionais têm o dever de agir dentro dos procedimentos previstos no manual de operações da barragem e/ou no Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (Paebm), conforme o caso”, diz a nota (veja na íntegra abaixo).

Barragem entrou em ‘zona de atenção’

Ainda de acordo com apuração da Reuters, relatório interno da Vale S.A. colocava a barragem da Mina Córrego do Feijão em “zona de atenção”, dizendo que “devem ser assegurados que todos os controles de prevenção e mitigação estejam sendo aplicados”.

A partir disso, a barragem 1 teve indicação para passar pelo chamado processo de descomissionamento. Um fracasso poderia custar à empresa US$ 1,5 bilhão de dólares e teria o potencial de matar mais de 100  pessoas, segundo o relatório. Outras nove barragens, das 57 que foram estudadas, foram colocadas na zona de atenção, de acordo com o relatório.

A auditoria da alemã TÜV SÜD, que foi verificada pela reportagem da Reuters, disse que a empresa atendeu as exigências legais mínimas de estabilidade, mas levantou uma série de preocupações, particularmente sobre os sistemas de drenagem e monitoramento da represa. O auditor fez 17 recomendações para melhorar a segurança da barragem. 

Segundo a Vale, “a criação de um alerta para a alta gestão, sugerida em novembro de 2017, passou a ser estudada dentro do contexto da integração do risco geotécnico ao risco dos negócios da Vale e, diferentemente do que foi publicado na reportagem [da Reuters], a barragem estava dentro do limite de risco parametrizado de acordo com o conceito de ALARP (zona de atenção), mundialmente reconhecido”, diz a empresa.

O colapso da barragem 1 e de outras duas estruturas menores – as barragens 4 e 4A – ocorreu em 25 de janeiro e já é considerada uma das maiores tragédias do setor de mineração do Brasil e o segundo desastre envolvendo uma barragem de rejeitos de minério de ferro em pouco mais de três anos no país. O outro foi o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, da empresa Samarco (controlada pela Vale e pela BHP Billiton).

Nota da Vale na íntegra:

“A Vale informa que a sua governança prevê autonomia e independência funcional para que seus especialistas locais, responsáveis pela gestão operacional direta da barragem, atuem de forma diligente e efetiva. Portanto, em identificando qualquer cenário de risco, seja ele iminente ou não, esses profissionais têm o dever de agir dentro dos procedimentos previstos no manual de operações da barragem e/ou no Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM), conforme o caso.

Considerando a qualificação, nível de especialização e autonomia do corpo técnico local e para assegurar a agilidade de resposta, nem a Diretoria Executiva, nem o Conselho de Administração precisam ser envolvidos em decisões relativas a situações emergenciais.

Os documentos internos mencionados na reportagem (Geotechnical Risk Management Results) reúnem sugestões de um painel com especialistas nacionais e internacionais em temas relativos à geotecnia. A criação de um alerta para a alta gestão, sugerida em novembro de 2017, passou a ser estudada dentro do contexto da integração do risco geotécnico ao risco dos negócios da Vale.

Não existe em nenhum relatório, laudo ou estudo conhecido qualquer menção a risco de colapso iminente da Barragem I da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. Pelo contrário, a barragem possuía todos os certificados de estabilidade e segurança, atestados por especialistas nacionais e internacionais.

Diferentemente do que foi publicado na reportagem, a barragem estava dentro do limite de risco parametrizado de acordo com o conceito de ALARP (zona de atenção), mundialmente reconhecido.

As causas do rompimento ainda estão sendo investigadas.”

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